O cheiro de alho dourando na frigideira se espalhava pelo pequeno apartamento em que estavam hospedados na cidade. Bart picava os legumes com precisão, enquanto Cassie mexia distraída uma panela de molho. Já tinham caído naquela rotina desde que ela chegara à matilha: cozinhar juntos parecia natural, quase automático, como se fossem uma dupla ensaiada.— Você cozinha bem pra caramba — Cassie comentou, erguendo os olhos para ele com um sorriso discreto.Bart deu de ombros, fingindo modéstia. — Cresci precisando ajudar com alguma coisa. Alguém tinha que alimentar essa família de lobos esfomeados. — Lançou-lhe um olhar maroto. — E não vou mentir, gosto da cozinha. Especialmente com companhia.Cassie riu, desviando o olhar para o molho, mas percebeu o jeito que ele disse “companhia”. Uma pontada quente percorreu sua pele.— Você me surpreendeu hoje cedo… — Bart comentou, com um sorriso enviesado, sem levantar os olhos da tábua de corte.Cassie arqueou a sobrancelha, desconfiada. — Como as

A vitrine da loja de departamentos brilhava como se fosse um palco montado para receber Cassie. Manequins de pernas longas desfilavam botas reluzentes, vestidos cintilantes e casacos de inverno que pareciam saídos de filmes natalinos. As luzes piscavam e refletiam no vidro, chamando atenção de quem passava na rua. Cassie apertou os olhos, excitada como uma criança prestes a abrir presentes, e empurrou a porta de vidro com firmeza.O sino tilintou. O ar aquecido, perfumado por velas aromáticas de canela e baunilha, a envolveu imediatamente. Os shifters atrás dela pararam por um segundo, absorvendo o ambiente com olhares desconfiados. Hendrick, com sua postura séria, parecia deslocado entre tantos brilhos. Bart mantinha o semblante contido, mas os olhos observadores não perdiam nada. Nick, por outro lado, soltou um assobio baixo contemplando a grande loja.— Esse lugar é enorme. Não lembro da última vez que vim comprar roupas, acho que fora o enxoval de Cassie, todos precisamos de algo

A viagem de volta parecia muito mais longa do que a ida, não apenas pela distância em si, mas pelo peso doce da expectativa. Cassie estava outra vez montada no lombo de Hendrick, os dedos entrelaçados firmes em sua pelagem escura como a noite. O vento frio da madrugada cortava o rosto, mas havia algo reconfortante em sentir o corpo forte do alfa sob si, o ritmo constante das patas no chão batido, a respiração compassada. Era como se o mundo inteiro pudesse ruir, mas enquanto estivesse ali, Cassie sabia que estava segura.Bart corria alguns metros à frente, a silhueta musculosa iluminada pelo luar. Nick os acompanhava à esquerda, atento como sempre, às vezes diminuindo o passo apenas para lançar um olhar rápido a Cassie e se certificar de que ela não se cansava. Eles corriam em silêncio, apenas o som das patas e respirações pesadas preenchendo a mata. Cassie sentia cada músculo de Hendrick trabalhando debaixo dela, cada impulso poderoso, e o coração batia em sintonia com o dele.Quando

Cassie acordou antes do sol tocar as copas das árvores, a casa ainda mergulhada em silêncio. Um frio leve entrava pelas janelas, mas ela sentia uma alegria interior que aquecia cada centímetro do corpo. Vestiu um suéter grosso de lã, prendeu o cabelo em um coque bagunçado e caminhou silenciosamente pelo piso de madeira.Ela tinha caixa de natal em mãos e sonhos. Não se importou em ter levantado cedo, queria surpreendê-los. Cassie se pendurou na escada e se enrolou com pisca-piscas, mas ficou satisfeita com o resultado.O ar frio da manhã era preenchido pelo aroma de canela, gengibre e pão recém-assado. Cada cheiro parecia prometer um dia especial.Com cuidado, começou a preparar a rabanada e os biscoitos de gengibre. Cada peça era moldada com atenção, cada pitada de tempero colocada com carinho. Enquanto mexia a massa, cantarolava baixinho uma música natalina, o som flutuando pelo ambiente silencioso. O calor do forno contrastava com o frio que entrava pelas janelas, tornando tudo ain

Cassie ajeitou o tecido rendado sobre a mesa da sala, franzindo os lábios em concentração. Os dedos ágeis guiavam a agulha com precisão, unindo as peças que dariam forma ao figurino para a noite de festa. Cada ponto era delicado, mas firme, como se costurasse não apenas roupas, mas a esperança de algo novo para a matilha.— Mais um... — murmurou satisfeita ao arrematar a última linha, levantando o vestido para observá-lo contra a luz. — Vai ficar perfeito.Do lado de fora, ouvia-se o barulho cadenciado da parafusadeira de Kallias. O lobo silencioso trabalhava sozinho; depois que Nick, Amos e Bart terminaram as instalações elétricas, eles saíram. Todo o cabeamento para o show de Cassie já estava ali e restavam apenas alguns detalhes na estrutura do palco.O ferro frio rangia quando Kallias encaixava as últimas barras da estrutura no quintal da casa de Hendrick. O sol já começava a baixar, indicando o fim de tarde, tingindo o céu de dourado e rosa, refletindo no metal prateado que se er