O quarto estava mergulhado em penumbra, o aquecedor lutando contra o frio cortante que se infiltrava pelas frestas. A neve batia contra as paredes da casa, um rugido fantasmagórico constante que parecia não ter fim. De repente, uma rajada mais forte abriu a janela com violência, fazendo o vento cortar como lâmina pelo quarto.Cassie estremeceu ao ver o mundo lá fora, uma cortina espessa de branco cobrindo tudo, o inverno selvagem se impondo. Ela não sabia exatamente onde ficava aquele território dos shifters, se mais para o norte, perto de Washington, ou se em alguma fronteira montanhosa da Califórnia, mas nunca imaginara um frio tão brutal.Apressou-se em fechar a janela, os dedos dormentes pelo choque térmico. O barulho chamou a atenção, e passos ecoaram pelo corredor. Logo, a porta se abriu e Yohan entrou.— Cassie? — Yohan franziu o cenho, observando-a tremer mesmo enrolada em cobertas, de pé perto da janela.Os olhos verdes intensos, como folhas vivas sob o sol de verão, a percor

Amos ainda tinha a mente fervendo, mas não era só com números e gráficos. Enquanto digitava no teclado improvisado, uma imagem insistia em voltar: os lábios de Cassie. Como seria beijá-la? Como seria senti-la se aproximando dele, não por necessidade de calor, mas por desejo? Amos afastou o pensamento com violência, quase irritado consigo mesmo. Ele não tinha tempo para esse tipo de distração. E, ainda assim, a sensação de que Yohan havia experimentado algo que ele nunca ousara se intrometer ardia como fogo baixo no fundo do peito.Durante toda a vida, ele nunca tinha se pegado pensando nisso. Claro que um dia perguntou ao pai de onde vinham os bebês e depois foi pesquisar por conta própria, porém não era como Nick e os gêmeos que eram paqueradores convictos, ou como os mais velhos que pareciam carregar uma lacuna.Amos sempre teve outros assuntos como prioridade, seus projetos. Até que Cassie chegou e estava o deixando confuso, o cheiro dela mexia com algo primitivo dentro dele, seu l

A neve castigava a vila desde a madrugada como estava se tornando habitual naquele inverno, cessando os flocos com a luz da manhã. Hendrick avançava à frente da patrulha, cada passo firme sobre o manto branco. Mason vinha ao lado, calado como sempre, mas com uma dureza que não lhe escapava; Yohan, por trás, carregava o corpo mais leve, como se uma chama secreta aquecesse sua alma em meio ao frio. O alfa percebia tudo. O silêncio entre eles era eloquente: Mason rosnava por dentro, Yohan flutuava, e ele… ele equilibrava os dois mundos.O cheiro de Cassie permanecia preso em suas memórias — doce, macio, quase doce demais para aquele inverno impiedoso.Enquanto seus olhos fixavam rastros e sinais, sua mente retornava a ela. Pequenos fragmentos dos últimos dias surgiam como flashes: o jeito que ela erguia o queixo para fitá-lo, a confiança de entregar-lhe a mão sem hesitar, o riso baixo quando ele fazia comentários ácidos que poucos ousariam contestar. Não era um namoro juvenil, havia um

Cassie despertou lentamente, como quem emerge de um sonho bom. O quarto de Hendrick estava mergulhado naquela penumbra suave do amanhecer, quando a luz ainda hesita entre o dourado e o cinza, filtrando-se pelas cortinas pesadas. O calor que a envolvia não era apenas dos cobertores grossos, mas do corpo forte de Hendrick, contra o qual ela ainda se encontrava aninhada. O braço dele repousava sobre sua cintura, firme, possessivo sem ser sufocante, e por um instante Cassie apenas fechou os olhos novamente, sorrindo com a sensação de estar protegida.Era estranho como a vida havia virado de cabeça para baixo tão rápido. Ali estava ela, deitada com um alfa, como se fosse natural pertencer àquele mundo. Mas em vez de medo, havia um tipo de tranquilidade doce. Ela sentia o cheiro dele misturado ao da madeira queimada da lareira já apagada. Era um perfume terroso, quente, que a fazia querer ficar ali para sempre.Quando Hendrick abriu os olhos, encontrou o rosto dela virado para o seu, os cab

— O que foi, gatinha? — Nick perguntou, estranhando a tensão repentina nela.E então ele viu, como os outros assistiram e pareciam famintos. Alguns olhares mais intensos do que outros, a fazendo lembrar que a maioria daqueles homens — com exceção de Kallias e Uriel — nunca tocou em uma mulher e carregavam a curiosidade e desejo há muitos anos.Ela suspirou, saindo do abraço de Nick. Os gêmeos estavam mais próximos e pareciam ansiosos, o que a fez sorrir suave. O momento carregava uma lentidão diferente, uma aura nova.Quando Tyler estendeu a mão para ela, Cassie a segurou e foi até ele. Tocou com leveza seu rosto e o beijo, foi simples, não tão profundo, mas carregava carinho. Ele suspirou e ela aproveitou para aprofundar um pouco mais, o ensinando.Cassie se sentiu preciosa, desejada. E aqueles homens fortes com quase três séculos de idade pareciam apenas garotos.Taylor, ao lado, teve sua vez e a abraçou. Ela era incrível, muito mais do que sonhou. O toque doce e suave fazia sua pel