NARRAÇÃO DE SARA...Novamente Julie desobedeceu, e desta vez não precisei me perguntar onde ela deveria ter ido. Fui direto ao escritório, e a cena que vi, vai ficar guardada em minha memória. Sr.Dawson, o tão temido, aquele homem rude, que lhe assusta apenas com o olhar. Estava sentado no tapete felpudo, lendo uma história para minha filha, eu iria entrar. Mas Julie estava quase adormecendo, então optei em aguardar. Fiquei no corredor, fingindo limpar um vaso até vê-lo saindo do seu escritório com a Julie dormindo em seus braços. O segui até o quarto que ele escolheu, ali admire-o, ele é cuidadoso com ela, a cobriu com cuidado. Seu olhar é de pura admiração. Conversamos brevemente no corredor. Fiz questão de ressaltar as suas qualidades, mesmo carregando péssima fama. Então estranhei, ele queria saber o que falam dele. Ou queria que eu contasse o que soube sobre ele.O assunto se tornou sério quando ele pediu para ir até o escritório. Ao entrar, ele sentou em sua poltrona e inspir

NARRAÇÃO DE BRADY DAWSON...O caminho de volta foi silencioso. A neve cobria a estrada como um lençol imaculado, refletindo a lua pálida. Dirigi devagar, quase sem perceber. Minha mente estava longe, ainda presa àquela casa simples que cheirava a sopa, madeira e aconchego.Lá, eu havia sentido algo que julgava morto dentro de mim: paz.Quando finalmente estacionei diante da mansão, o contraste me atingiu. O portão pesado, o jardim coberto de neve sem cor, as paredes que guardavam segredos e gritos sufocados. Tudo parecia ainda mais frio depois de ter experimentado o calor de Sara e Julie.Entrei e retirei o casaco, andando pelo corredor silencioso. O eco dos próprios passos me incomodou.Subi as escadas e parei diante de um quadro na parede: o quadro que pertencia à minha falecida esposa. Cerrei os olhos, me perguntando o porquê daquilo ainda estar ali. Toquei na moldura daquele quadro, senti um amargor na garganta, um desgosto sem tamanho. Olhei toda a mansão, haviam muitas coisas qu

NARRAÇÃO DE SARA...Congelada no meio do quarto, permaneci imóvel, abraçando o livro contra o peito como uma criança pega em flagrante. Os olhos dele desceram lentamente para minhas mãos, depois subiram, cravando-se em meu rosto. O silêncio que se instalou era tão denso que quase podia ouvir o som do meu próprio coração, batendo descompassado, denunciando meu nervosismo.Ele avançou um passo. Lento. Calculado. Como um predador que não tem pressa, porque sabe que a presa já está acuada.— Eu... só estava guardando o livro — murmurei, mentindo sem nem saber por que precisava me justificar.Sr. Dawson ergueu uma sobrancelha, cético. Sua presença era esmagadora; a maneira como me olhava, com aquela intensidade quase hipnótica, fazia-me querer confessar coisas que nem sequer havia cometido.— Não minta para mim, Sara. — Sua voz saiu baixa, quase um sussurro, mas carregada de uma autoridade que fez meu estômago se contrair. — Você estava curiosa.Engoli em seco, incapaz de responder. Ele se

NARRAÇÃO DE SARA...Dom Brady sempre foi um homem reservado, mas, contra todas as minhas expectativas, consegui criar um vínculo com ele. Compartilhamos fragmentos de nossos passados, ainda que em conversas breves e enigmáticas. A cada dia, a conexão entre nós se fortalecia. Até mesmo consegui entrar em seu quarto, algo que antes parecia impossível. Logo percebi que naquela mansão ainda havia muitas lembranças de sua falecida esposa.Foi então que um homem mais velho aproximou-se de mim. Sua postura impecável e o terno preto denunciavam uma autoridade silenciosa. Deduziria ser o mordomo, até que ele se apresentou:— Bom dia, dona Sara. Sou Christian, o consigliere do Dom Dawson. Ontem à noite, quando ele retornou à mansão, parecia um homem que, pela primeira vez, havia despertado. Jogou fora algumas lembranças de sua esposa falecida. — Fez uma pausa, avaliando meu semblante. — Quero ajudá-lo, mesmo que indiretamente. Isso já deveria ter sido feito há tempos. Se puder me seguir, quero

NARRAÇÃO DE SARAO frio daquela noite não se comparava ao que senti dentro daquela mansão. Ainda posso ouvir o eco do meu próprio grito, como se as paredes sussurrassem aquilo que vi – ou pensei ter visto – naquele quarto amaldiçoado. Meu corpo tremia a ponto de doer e, quando bati contra o peito de Brady no corredor, por um instante, acreditei que estava sonhando.Os olhos dele me prenderam. Não havia raiva explícita, mas sim algo contido, um misto de fúria e preocupação. Senti-me pequena, frágil, quase culpada por ter invadido um espaço que não me pertencia, mesmo tendo seguido as ordens do Consigliere. O jeito como ele me olhou fez o medo arder ainda mais.E, no entanto... quando me ofereceu carona, fiquei surpresa. Eu estava assustada, ansiava apenas pelo meu lar, e mesmo assim aceitei.Por quê? Por que aceitei se meu coração ainda martelava de pavor?No carro, o silêncio era sufocante. Eu tentava evitar olhar para ele, mas não conseguia. Brady não parecia apenas o patrão carrancu