NARRAÇÃO DE BRADY DAWSON...
Fazia muito tempo que não me permitia algo tão banal: naquela manhã, antes do sol se impor sobre a neve, pedi que trouxessem à mansão o barbeiro de confiança. Não me lembrava da última vez em que havia me encarado no espelho, pronto para mudar o visual.
O corte foi rápido, o resultado ainda mais. A imagem refletida no espelho, porém, não me trouxe o alívio que imaginei. Pelo contrário. O rosto que carreguei no dia em que me deparei com a traição estava ali, cru, sem filtros. Um rosto sem gosto. Por um instante, arrependi-me da decisão, mas já era tarde.
Naquela manhã, confesso, algo me deixava inquieto. A cada minuto, olhava pela janela, acompanhando o quintal sendo engolido pela neve. Fixei o olhar na entrada da propriedade, aguardando — ansioso, embora jamais admitisse — a chegada do motorista com as empregadas. Eu só queria saber se aquela garotinha engraçada apareceria outra vez.
Sorri quando o carro entrou pelos portões e parou em frente à mansão. Juli