O dia amanheceu mais tarde no palácio, como se até o tempo tivesse respeitado o cansaço de Isabela.As cortinas translúcidas deixavam passar uma luz dourada que dançava preguiçosa sobre os lençóis brancos. Zayn ainda dormia, com um braço estendido sobre o travesseiro que ela acabara de deixar. O cabelo escuro caía levemente sobre a testa, e a serenidade daquele rosto contrastava com o peso dos segredos que ele carregava nas costas.Isabela vestiu um robe leve e se aproximou da varanda, deixando que o ar da manhã lhe beijasse o rosto. Lá fora, os jardins do palácio ainda estavam molhados pelo orvalho, e a cidade se agitava aos poucos como uma fera acordando. Mas ali dentro, havia silêncio. E escolhas a serem feitas.Ela tomou o celular e leu uma notificação: a equipe de rastreamento havia cruzado o nome de Majid com fornecedores em Sharjah. A trilha estava esquentando. Mas junto a isso, veio a pontada incômoda de um novo nome: Rafiq. Um elo ainda obscuro, vinculado tanto à Karim quanto

A sala de reuniões no 47º andar da Al-Rashid Enterprises não era apenas silenciosa — era tensa como a câmara de um tribunal prestes a pronunciar uma sentença.As cortinas estavam semicerradas, permitindo apenas um facho filtrado da luz dourada do fim de tarde. A mesa central, antes símbolo de poder e estratégia, agora exibia a dissecação meticulosa de um império paralelo: contratos forjados, fluxos financeiros suspeitos, imagens de vigilância e perfis de homens que nunca deveriam ter tido acesso àquele sistema.Zayn estava sentado à cabeceira. A gravata afrouxada e o olhar cravado em um dossiê revelavam que não era apenas uma reunião — era o início de uma caça.Isabela, ao seu lado, mantinha a postura firme. Os olhos claros percorriam as planilhas com precisão cirúrgica, enquanto suas anotações rabiscadas revelavam conexões que nem mesmo os sistemas internos haviam detectado. Lasmih estava de pé, próxima ao projetor, e Kareem ocupava a lateral da mesa com o semblante de quem vigiava c

O dia seguinte amanheceu com um céu nublado em Al-Qadar, como se até mesmo o deserto respirasse mais devagar diante da tensão que pairava no ar. Isabela caminhava em silêncio pelos corredores do palácio ao lado de Lasmih. Já haviam trocado poucas palavras naquela manhã, não por falta de assunto, mas pela necessidade de silêncio quando se sabe que há olhos e ouvidos demais observando. E espiando. Na mão, Isabela carregava um novo dossiê, ainda incompleto, mas com indícios graves. Mais um nome surgira dos cruzamentos: Bassam El-Hariri, um ex-assessor de investimentos que havia desaparecido misteriosamente da Al-Nur três anos antes. As últimas movimentações financeiras dos arquivos criptografados indicavam repasses feitos por uma empresa controlada por ele — que agora estava sob outro nome. Na sala reservada de vigilância da Al-Rashid Enterprises, ela e Lasmih se reuniram com Kareem. A porta foi trancada duas vezes. Zayn não estava presente — havia saído cedo para uma reunião com os

O silêncio da sala parecia mais denso do que o habitual.Isabela ativou o vídeo que Lasmih havia enviado poucos minutos antes. A imagem estava um pouco tremida, como se tivesse sido gravada às pressas e de longe, com zoom digital. O cenário era um estacionamento coberto em um bairro afastado de Al-Qadar. A câmera, provavelmente escondida em uma viga metálica, capturava duas figuras caminhando em direção a um carro escuro.Karim, inconfundível com seu terno ajustado e andar calculado, era o primeiro a aparecer. Mas foi o homem ao lado dele que fez o estômago de Isabela revirar.Alto, magro, usava um boné preto e óculos escuros. Havia algo em seus gestos, na forma como olhava para os lados, que acendeu um alarme antigo e abafado em sua memória.Ela congelou.A pele formigou. A boca secou. O som ambiente pareceu desaparecer por um instante, como se estivesse debaixo d’água.— Espera... — murmurou. — Esse rosto... eu já vi.Zayn, que analisava outro documento, ergueu os olhos na hora.— O

O trajeto de volta ao palácio foi marcado por um silêncio que nem o ronco constante do motor conseguia preencher. Zayn manteve Isabela próxima, seu braço envolto ao redor dos ombros dela como se pudesse, com aquele gesto, impedir que o impacto da noite a alcançasse.A missão havia terminado. O corpo de Bassam fora removido com eficiência pela equipe de Lasmih, enquanto Kareem finalizava o bloqueio do perímetro e assegurava que nenhum dado fosse perdido. Não havia mais o que fazer ali — mas algo invisível ainda pairava, como o gosto amargo de um veneno que ninguém ingeriu, mas todos sentiram.Isabela não disse uma palavra. Sua cabeça repousava contra o ombro de Zayn, mas seus olhos permaneciam abertos, fixos em nada. O brilho que costumava haver ali havia sido substituído por uma sombra que ele conhecia bem: o choque do primeiro contato com a morte real. Crua. Sem filtros. Sem escapatórias.Kareem dirigia com o semblante neutro, embora o rádio preso ao ouvido vibrasse a cada atualizaçã