Vittoria sustenta o olhar dele, sentindo o coração acelerar até doer no peito, enquanto tudo dentro dela grita para correr, para fugir daquela intensidade que a consome.Mas ela não consegue se mover, como se a própria vontade tivesse sido arrancada. E então, antes que consiga pensar, o corpo age por ela, se inclinando devagar e unindo seus lábios aos dele, entregando-se ao instante que tanto tentou evitar.O beijo começa hesitante, uma mistura de medo e desejo, como se ambos testassem o limite do que estão prestes a romper.Vincenzo retribui o toque com firmeza, uma mão subindo até a nuca dela, seus dedos deslizando pela pele quente, guiando o ritmo que rapidamente deixa de ser contido.A hesitação dá lugar à entrega, e o toque se aprofunda, intenso, urgente, como se tentassem recuperar em segundos tudo o que a teimosia e o orgulho haviam negado.O sabor dela invade os sentidos dele, e Vittoria sente o corpo reagir de forma involuntária, o coração acelerando, os joelhos fraquejando,

Vittoria e Vincenzo caminham devagar, sem pressa alguma, aproveitando aquele instante como se o perigo os tivesse esquecido.Estar em Bath é uma fuga momentânea da realidade, um intervalo entre o caos e a paz, mas uma fuga que ambos amam viver, porque ali o mundo parece caber apenas entre as mãos que se tocam e os olhares que se entendem sem esforço.— Estou com fome. — Vittoria comenta, levando a mão à barriga com um sorriso suave. — Acho que é justificável, já que estou comendo por três.— Então, vou levar vocês para tomarem café. — Vincenzo declara, com um sorriso divertido. — De novo. — Completa, em pura provocação. — Vincenzo, não comece com gracinhas. — Repreende, tentando parecer séria, mas o sorriso no canto dos lábios entrega o quanto está se divertindo. — Você é o responsável por isso. — Acrescenta, apontando para a própria barriga com fingida indignação. — Então trate de alimentar bem sua obra-prima.— Obra-prima é pouco. — Responde, o olhar suave, pousado nela com admiraç

Vincenzo não consegue se mover, o corpo inteiro paralisado, o olhar fixo no monitor que permanece vazio.O médico começa a afastar o transdutor do ventre dela, o gesto contido, mas antes que consiga, Vittoria o impede, a mão trêmula agarrando o aparelho com uma força que nasce do desespero.— Não! — Vittoria grita, a voz cortada pela dor física e emocional, o som tão intenso que parece rasgar o ar da sala. — Eles estão aqui, eu posso sentir! — Continua, as palavras quebradas entre soluços, enquanto as lágrimas escorrem sem controle. — Procure de novo, por favor, procure de novo! — Insiste, a respiração curta e trêmula, enquanto desliza o transdutor pelo próprio ventre, os movimentos desordenados, guiados somente pela esperança desesperada de ouvir um som, qualquer som.— Senhora…— Está errado, errado! — Berra, a voz tomada por uma força que nasce da recusa em aceitar a crueldade da vida, uma força bruta, instintiva, que desafia o limite entre razão e fé. A dor física deixa de existir

O médico o encara por um momento, o olhar firme, mas carregado de compreensão, como se reconhecesse em Vincenzo uma dor que dispensa qualquer explicação.Mesmo com toda a experiência adquirida ao longo dos anos, ele sabe que a perda nunca é fácil, porque não existe treinamento capaz de preparar alguém para o vazio que fica quando a vida se interrompe.Há um limite que a medicina não ultrapassa, um ponto no qual o conhecimento se cala e o silêncio se torna a única resposta possível.Por isso, ele permanece imóvel por alguns segundos, respeitando o sofrimento diante dele, antes de se afastar lentamente, permitindo que Vincenzo permaneça ali, sozinho, enfrentando o peso daquilo que nenhum homem deveria suportar.As horas se arrastam devagar, e Vincenzo não se move, continua encostado na parede, imóvel, como se o tempo tivesse perdido qualquer sentido.Às vezes, o olhar dele desce para as próprias mãos, observando o sangue já seco que ainda marca a pele, em outras, os dedos sobem até o ro

O olhar de Vincenzo se mantém fixo nela, intenso e dilacerado, como se cada lágrima que escapa do rosto dela queimasse também a própria pele dele.Sua vontade é de puxá-la para os braços, envolvê-la e arrancar de dentro dela toda a dor que o mundo lhe impôs, mas sabe, com a clareza cruel de quem a ama, que naquele instante nenhuma palavra ou gesto conseguiria tocar a profundidade da dor que a consome.— Não, amore mio, você não fez nada para merecer isso. — Vincenzo responde, a voz baixa, quase um sussurro que luta contra o próprio tremor. — Às vezes, a vida é cruel de um jeito inexplicável, e o que mais destrói é tentar encontrar sentido onde simplesmente não existe.Ele desliza os dedos pelo rosto dela, secando com cuidado as lágrimas que traçam caminhos lentos pela pele pálida, como se quisesse apagar, com o toque, cada marca deixada pela dor.— Você amou, Vittoria, com cada batida do coração, e isso é o oposto de falhar. — Continua, a emoção crescendo no timbre, o olhar marejado r