-POV: Artemísia-No interior da floresta fechada, camuflada sob os montes ao redor, uma clareira iluminada pela luz da lua minguante parecia ser a única abertura que revelava aquele lugar ao resto do mundo.No centro da clareira, uma piscina de pedras preenchida com água quente cintilava em tons de azul e prata.Ao redor, potes de vidro com pequenos seres luminosos flutuavam em silêncio, dando ao lugar um ar místico e ancestral.Ylva mergulhou uma das mãos na água e girou suavemente, testando a temperatura.Separou alguns materiais: flores, ervas e sais. Escolheu cada um com cuidado e os despejou na piscina, como quem compõe um feitiço.Quando terminou, virou-se para mim.— Está quase tudo pronto. Preparada?Franzi o cenho, ainda sem entender o que era tudo aquilo.— Preparada para o quê, exatamente?Ela esboçou um sorriso suave.— Para falar com a única que tem todas as respostas para suas perguntas. A Deusa Freya.Dei um passo à frente.— O quê? Isso é mesmo possível?— Evidente que

-POV: Lioran-A viagem até Garra Dourada foi silenciosa. Serys dirigia com a atenção de sempre, os olhos fixos na estrada como se ela pudesse responder às perguntas que nos acompanhavam. Nymerra, no banco de trás, folheava anotações antigas, mas eu sabia que ela estava tão inquieta quanto eu.Eu tentava manter a mente focada. Mas as dúvidas e questionamentos rondavam a minha cabeça. A ansiedade em ver Daimon com meus próprios olhos corroía meus nervos.A viagem foi decidida alguns dias após a conversa no Abrigo Lua de Cristal. Eu, Serys e Nymerra chegamos ao consenso de que a melhor forma de tirar a limpo nossas suspeitas sobre o que ocorreu com Daimon era vê-lo em carne e osso.Sylvia protestou quando disse que ela ficaria em Umbra. Queria vir. Insistiu. Mas eu a despistei com uma desculpa sobre negócios internos da matilha. Ela não gostou. Mas não teve escolha.Não podia arriscar. Não com ela por perto.Ao chegarmos em Garra Dourada, fomos recebidos com entusiasmo. Selene nos espera

-POV: Artemísia-Um tímido raio de sol atravessou a fresta da minha tenda, tocando meu rosto com delicadeza. Acordei devagar, como quem não quer abandonar o abrigo dos sonhos. O corpo ainda pesado, a mente tentando se agarrar ao silêncio.Mas o peso voltou. A lembrança. A missão.Abri os olhos por completo. Não havia mais espaço para preguiça.Levantei com rapidez, vestindo-me com movimentos apressados, quase mecânicos. O tecido áspero da túnica freyana roçou minha pele, me lembrando que eu não pertencia àquele lugar, não de verdade.Saí da tenda.O Refúgio já estava desperto. Freianos caminhavam entre as construções de pedra e madeira, carregando ervas, limpando instrumentos, entoando cânticos suaves. Cada um parecia saber exatamente o que fazer.E eu… Eu era a única sem um papel. Uma peça solta. Deslocada.Foi quando a vi.Uma garotinha de pele escura como a noite sem lua, os olhos pretos como jabuticaba e cheios de vida. Ela caminhava com leveza, como se o mundo fosse feito de músi

-POV: Lioran-Já se passaram semanas desde que voltei de Garra Dourada. Sem respostas. Sem Artemísia. Sem paz.O bilhete que Daimon me entregou, aquele pedaço de papel dobrado com coordenadas e o símbolo do lobo devorando um planeta, parecia, na hora, uma chave. Uma revelação. Mas quando fui até o local indicado… não havia nada.Nada.Nem ruínas. Nem vestígios. Nem sinal de que alguém ou algo já esteve ali.Voltei para Umbra com a cabeça em chamas. E desde então, tenho tentado encaixar as peças. Por que Daimon me deu aquilo de forma tão discreta? Por que resolveu ajudar quando disse que não queria envolver mais ninguém? E por que não havia absolutamente nada nas coordenadas?Nada fazia sentido. Nada se encaixava.E como se isso não bastasse, Artemísia sumiu. Nenhuma notícia. Nenhum sinal. Nenhuma presença.Ela era forte, eu sabia disso. Mas os pensamentos ruins começaram a se formar como ervas daninhas. E se algo tivesse acontecido? E se eu nunca mais tivesse a chance de dizer tudo o

-POV: Artemísia-Vesti o traje com calma, como quem respeita um ritual antigo. O couro flexível deslizou sobre minha pele com precisão, como se tivesse sido moldado para mim antes mesmo de eu nascer. Cada parte se encaixava com naturalidade — os ombros, o corte da túnica, a faixa cruzada no torso. Leve. Ágil. Perfeito.Não precisava de armaduras pesadas. Minha linhagem lupina me dava a resistência que o metal jamais poderia oferecer. O que eu precisava era liberdade. Mobilidade. Instinto.E aquele traje… era tudo isso.Acoplei a bolsa de componentes que Ylva me presenteou ao cinto largo da cintura. Ela se encaixou como se sempre tivesse pertencido ali, entre os frascos e os fechos reforçados.Caminhei até o espelho da tenda. O vidro era antigo, com bordas desgastadas e pequenas rachaduras nas extremidades. Mas refletia com clareza.Me encarei.A túnica em tons de terra abraçava meu corpo com firmeza. Os bordados em forma de asas sobre o peito pareciam pulsar com algo ancestral. A cap