O céu de Moscou ainda estava coberto por um manto cinzento e adormecido quando Dmitry deixou o quarto silenciosamente. A penumbra do corredor o envolvia como um casulo silencioso, abafando até o som de seus passos.Susan dormia profundamente. Os traços serenos, os cabelos ruivos espalhados sobre o travesseiro como uma chama adormecida. Ela parecia tão frágil naquele instante, tão etérea, que era difícil associá-la à mulher que, horas antes, havia destruído criaturas infernais com um único gesto.Cada célula no corpo de Dmitry queria permanecer ao lado dela. Mas o mundo fora daqueles lençóis exigia sua presença.No andar de baixo, o salão principal ainda estava vazio. A única luz vinha do escritório lateral, cujas portas entreabertas deixavam escapar o aroma de café forte misturado ao leve odor de papel impresso.Dmitry entrou em silêncio. Alexei digitava com precisão rápida, os olhos fixos na tela. Sasha, encostado na janela, observava o céu opaco enquanto bebia calmamente uma xícara

Residência Principal Dos Volkov — YekaterimburgoO escritório de Ivan era amplo, revestido em madeira escura e livros antigos. A lareira acesa quebrava o frio da manhã. Maksim entrou sem bater, como fazia desde sempre. Ivan estava de pé, olhando pela janela. Não precisou se virar para saber quem era.— Ele atendeu? — Perguntou Ivan, sem rodeios.— Atendeu. — Respondeu Maksim, se aproximando da lareira. — Disse que viu. Que estava perto. Confirmou o que o vídeo já grita pra quem tem olhos: a garota não luta. Ela comanda.Ivan se virou, cruzando os braços sobre o peito largo. Seus olhos âmbar estavam sombrios.— Linha direta da Deusa Morrigan. Bruxa nata, sangue puro, sem queima de linhagem. Mas você acha que tem algo a mais.— Eu sei que tem. — Retrucou Maksim, com firmeza. — Vi aquele vídeo cinco vezes. Estudei o movimento do corpo dela, a forma como os híbridos reagiram. Aquilo não foi magia comum. Nem feitiço preparado. Foi instinto.— Instinto? — Ivan arqueou uma sobrancelha, céti

Sala de Reuniões do Clã Dragunov — Kaliningrado Ali, na sala de reuniões reservada à linhagem principal, dois homens encaravam um ao outro com um abismo de gerações entre eles. Leonid Dragunov, cabelos grisalhos penteados para trás com precisão militar, olhos de aço que haviam testemunhado batalhas políticas e sangrentas por mais de seis décadas, observava o neto com uma expressão indecifrável. Vestia-se como sempre: sobriedade, disciplina, respeito à hierarquia.À sua frente, Anatoly Dragunov, o novo Alfa do clã, usava blazer escuro sobre camiseta preta. Jovem, bem-apessoado e ambicioso. Um símbolo da nova era: menos tradição, mais poder estratégico, conectado a Lycans fora da Rússia e disposto a desafiar tudo o que fosse arcaico.— Ela não é só uma bruxa. — Disse Leonid, cortando o silêncio com voz firme. — O que corre nela é algo que nem os anciãos do Conselho ousam nomear com clareza.Anatoly passou os dedos pelos cabelos, irritado.— Fale direto, dedushka (avô). Já ouvi insinuaç

Entrada da Mansão Rurik – Noite O motor do carro esportivo de Alexei ronronava suavemente na entrada da mansão. Ele girava as chaves entre os dedos com impaciência, os olhos presos ao celular que ainda não dava sinal de Sasha. A inquietação que normalmente escondia por trás do sorriso debochado começava a transbordar pelas bordas do seu autocontrole.Foi quando viu Carla saindo pela lateral da casa, bolsa no ombro, jaleco dobrado nos braços, pronta para o plantão.— Doutora Carla. — Ele chamou, abrindo um sorriso largo. — Quer uma carona com charme incluso?Carla olhou de relance para o carro, depois para ele. Estava acostumada ao tom provocador dele, mas algo no olhar de Alexei estava diferente. Menos brincalhão. Mais... Tenso.— Vai me levar ou me sequestrar? — Ela retrucou com um arquejo de sobrancelha, já abrindo a porta do passageiro.— Depende. — Ele disse enquanto ela se acomodava. — Se você estiver muito bonita, talvez eu mude de ideia no meio do caminho.— E se eu estiver s

Interior da Mansão Rurik — Suíte de Dmitry e Susan, 23:57A lareira estalava suavemente ao fundo, espalhando um calor morno que não parecia alcançar Dmitry. Ele estava sentado em uma das poltronas de couro, com Susan adormecida em sua cama, enroscada num cobertor grosso, os cabelos ruivos espalhados como chamas domesticadas sobre o travesseiro. Seus óculos estavam na mesinha de cabeceira, e ela murmurava suavemente em meio ao sono, alheia ao furacão que se armava fora dali.O celular de Dmitry vibrou.Alexei:"Ele comprou a coisa. Tá trazendo agora pra sede. Chega às 02:45. Preparei o cofre. O que quer que seja, não é seguro."Dmitry leu a mensagem duas vezes antes de levantar. Sua expressão endureceu.Beijou de leve a testa de Susan, se afastando em silêncio.— Dorme bem, malyshka… (pequena…) Eu já volto. — Murmurou, baixo, antes de sair.Sede da Rurik Motors — Subnível 06, Cofre de Contenção — 02:41Alexei estava com os braços cruzados, observando a câmara de contenção de chumbo rú