Com um turbilhão de emoções explodindo dentro dele, Vitor recuou, suas mãos tremendo levemente. Flor Bela. Sua filha. A revelação foi como um trovão partindo o céu em plena tarde silenciosa. Seu peito apertou, e o mundo ao redor pareceu ficar menor, como se tudo convergisse para aquele momento único e irreversível. Ele olhou para Agatha, que permanecia imóvel, sua expressão mesclando medo e alívio. Seus olhos brilhavam, refletindo as luzes suaves do lustre dourado acima deles. O silêncio entre ambos não era apenas a ausência de som, mas um espaço carregado de incontáveis perguntas, ressentimentos e sentimentos que nunca haviam sido ditos. Por fim, Vitor engoliu seco, sua voz surgiu rouca, quase um sussurro: — Você nunca me contou... Por quê? Agatha baixou o olhar, seus dedos apertando a alça da bolsa, como se buscasse apoio em algo físico, tangível, em meio à tempestade emocional que se desenrolava ali. O tempo parecia congelado, e a distância entre eles agora era medida por t

Alexander ergueu o rosto aos poucos, como se cada músculo precisasse de permissão para se mover. Ele sorriu de lado, reconhecendo o desafio implícito na pergunta. Não esperava que fosse fácil, mas estava disposto a enfrentar qualquer resistência dela.— Acredito que não podemos controlar tudo, por mais que tentamos. — Sua voz era firme, mas havia um toque de vulnerabilidade que ele não conseguia esconder. — E quando algo assim acontece, quando uma pessoa simplesmente ocupa sua mente e seu coração, é tolice ignorar.Lorena inclinou a cabeça levemente, analisando as palavras dele. Parte dela queria rejeitá-las, manter seu escudo intacto. Mas outra parte, aquela que ela mantinha escondida, ansiava por algo além dos jogos de poder e estratégia.— Você sempre teve tudo que quis, Alexander. — Ela caminhou lentamente até a janela, olhando a cidade iluminada pelo entardecer. — Mas o que acontece quando algo que deseja não pode ser conquistado da mesma forma?Ele se aproximou dela, ficando a

Agatha olhou no fundo dos olhos de Lorena. Eram como um poço obscuro, olhos que não refletiam luz, apenas absorviam tudo ao redor, como se escondessem segredos antigos, enterrados sob camadas de dor, silêncio e rancor. Neles, a maldade não era escancarada, mas insinuada; a arrogância se mascarava de indiferença; e a amargura dançava sutilmente nas bordas da íris, como fumaça prestes a se dissipar.A luz tênue do fim da manhã filtrava-se pela cortina de linho cru, lançando sombras irregulares pelo corredor imenso. O ar cheirava a jasmim desbotado misturando-se ao leve aroma do café fresco que pairava no ar. Um cheiro doce e melancólico que parecia abraçar o silêncio com ternura sufocante.Agatha sentia o coração acelerar, não por medo, mas por exaustão. A eletricidade no ar fazia os pelos dos braços se eriçarem, como se seu corpo antecipasse algo inevitável. A garganta, apertada como se um nó se formasse dentro dela, queimava com palavras que esperaram meses para serem ditas.Com a voz

— Estar cego de amor pela pessoa errada pai... eu sei que o senhor está apaixonado — disse Vitor, a voz embargada. — Mas eu conheço bem a Lorena... e ela não tem boas intenções. Fez-se um silêncio espesso, como se até as paredes da casa estivessem aguardando a resposta. O relógio de pêndulo na sala ao lado marcava cada segundo com uma solenidade cruel.— Afaste-se dela enquanto há tempo. Acredite em me eu só quero o seu bem. Não quero impedir o senhor de amar. completou, mais baixo, quase num sussurro.Alexander permaneceu pensativo por um instante, ele caminha para o lado, apoiando-se no batente da janela como se precisasse de algo físico para se agarrar. Seus olhos vagaram para o horizonte, onde o céu alaranjado começava a se render ao azul profundo da tarde. O som distante de uma cigarra surgia como trilha sonora daquele impasse. — Bem... as pessoas mudam. Não mudam? — murmurou por fim, com um meio sorriso que escondia mais do que revelava. — Eu sei que no fundo ela é uma boa

Agatha hesitou. Seus olhos buscaram os de Vitor por um instante, como se quisessem dizer algo que sua boca não conseguia formular. Um suspiro leve escapou de seus lábios, ela apenas pousou a mão sobre a dele um gesto discreto, quase fugaz, mas carregado de uma compreensão silenciosa, como quem reconhece o peso que o outro carrega no peito.— Bem… é melhor eu voltar ao meu trabalho — murmurou, desviando o olhar, num tom que misturava gentileza e fuga. — Não quero ocupar mais o seu tempo, Vitor. Com licença.Ela se virou lentamente, seus passos sumindo no silêncio que restou. Vitor permaneceu imóvel por mais um tempo, absorvendo a densidade da conversa. Os ponteiros do relógio pareciam arrastar o tempo, e os pensamentos ocilavam como folhas ao vento em sua mente inquieta. Depois de muitos minutos ele finalmente, respirou fundo e se retirou de volta para a sala, tentando recuperar o foco.Mas antes que pudesse cruzar completamenteo corredor, um som distinto ecoou atrás dele, passos ág