O silêncio. O maldito silêncio. Aquele silêncio que não é paz. É alerta. É o tipo de silêncio que só vem depois de dois corpos serem destruídos um pelo outro. Pele marcada. Cabelos bagunçados. Perfume misturado com cheiro de sexo, de suor, de guerra vencida e de território dominado. ⸻ Valentina tá jogada na mesa. Cotovelo apoiado. Mão segurando os cabelos pra cima. Respiração descompassada. Perna ainda trêmula. Dante tá de pé. Atrás dela. Mãos na bancada. Cabeça baixa. Maxilar travado. Peito subindo e descendo como quem acabou de correr de uma explosão — ou criar uma. ⸻ Ele puxa ela pela cintura. Faz ela virar. E, pela primeira vez… não é brutal. É possessivo. É mais perigoso ainda. Segura no queixo dela. Faz ela olhar pra ele. — Vem cá… — voz rouca, grave, arranhada de desejo mal terminado. — Olha bem pra mim, ruiva. Ela levanta o olhar. Não com desafio. Não com submissão. Mas com aquela mistura maldita de mulher que se acha dona do próprio mundo… e per

Zurique.Penthouse.06h43 da manhã.O som do helicóptero já ecoava lá fora.O cheiro de café misturado com pólvora mental preenchia o ar.Valentina, de pé na sala, braços cruzados, olhando pela janela.Blazer preto, cabelo solto, corpo tenso.Mas não era medo.Era frustração.Era aquele tipo de raiva que só quem já foi caça entende.— Eu vou. — Ela repete. Pela terceira vez.Dante, em pé, de costas pra ela, termina de colocar o coldre com a pistola.Respira fundo.A voz sai mais grave, mais fria, mais impossível de discutir.— Não vai.Ela fecha os olhos.Cruza os braços mais forte.— Moreau… eu não sou uma boneca. Nem um troféu. Nem um prêmio.Ele gira.Rápido.A mão segura firme no queixo dela.Puxa.O olhar… é faca.— Exatamente. — Ele trinca os dentes. — Você não é nada disso. Você é minha mulher. E por isso… — aperta mais — você não vai pra essa guerra.⸻Victor entra no meio da sala.De roupão. Taça de champanhe numa mão. Máscara facial dourada no rosto.— Ai, ai, ai… casalzinho

Zurique. 09h02. Mansão Moreau.O chão inteiro treme.Explosão no portão principal.Vidros blindados vibram.Sirenes internas disparam.A mansão, que parecia um museu de luxo… agora virou zona de guerra.— Ai, meu Deus… isso não é ataque, é o apocalipse, amor! — Victor grita, tropeçando no próprio salto, tentando segurar o leque, a arma e a dignidade — sem sucesso.Valentina segura a Glock com as duas mãos.— Pra sala de segurança. AGORA!BAM!Mais uma explosão.O cheiro de pólvora invade tudo.Eles correm.Mireille aparece, impecável, de salto, tailler azul-marinho, uma pistola 9mm na mão, como se fosse uma bolsa Chanel.— Por aqui. Sala Omega. Código ativado. — fala, como quem pede um café sem açúcar.Porta se abre.Aço. Concreto. Blindagem militar.Lá dentro, monitores mostram cada canto da mansão.Quatro invasores na entrada. Dois pelo jardim. Mais três vindo pelo heliporto dos fundos.E foi ali, no meio do caos… que ela sentiu.— Não… agora não. — Valentina segura na bancada de aç

Mansão Moreau. 04h10 da manhã.O silêncio era fúnebre.Nem os sensores da casa ousavam emitir alerta.Nem os seguranças cochichavam.Ninguém respirava mais alto que a dor.Victor entrou devagar no quarto onde Valentina estava.Ela ainda deitada.Mas não dormia.Dormir era um luxo que a ausência de Dante não permitia.Os olhos estavam secos.Mas o corpo?Fraco.A pele gelada.Os batimentos errados.Como se algo dentro dela tivesse…trocado de frequência.— Val… — ele se aproximou com cuidado, se sentou na beira da cama, e tirou os óculos escuros, revelando olhos vermelhos. — Eu… pedi uma coisa pra governanta.Valentina não respondeu.Ele segurou a mão dela.— Eu sei que não é o momento. Mas tem algo errado com você.E antes que você diga que é só emocional… amor, você vomitou três vezes, sua pressão tá baixa, e você tá tremendo.E por mais que eu saiba que seu coração tá quebrado… tem alguma coisa além disso.Silêncio.— O que você pediu? — ela murmurou, a voz mais fraca do que nunca.

Zurique, uma semana depois.8h02.Mansão Moreau.Silêncio mortal — quebrado apenas pelo som de um telejornal que ninguém tem coragem de desligar.A TV, presa na parede da sala de reuniões, mostra a mesma imagem há dias:Um helicóptero preto, pedaços de carcaça flutuando.Mar aberto, cinza, devorando tudo.Helicópteros da guarda costeira sobrevoando a região, barcos de resgate riscando a água.Nada. Nenhum corpo. Nenhuma prova de vida.A manchete grita em letras brancas sobre fundo vermelho:“Misterioso bilionário francês desaparece após queda de helicóptero no Mediterrâneo. Equipes não encontram sobreviventes.”Valentina está sentada à mesa, cabelo preso num coque bagunçado, uma blusa de manga longa que não esconde a exaustão.Na frente dela: Victor, de moletom rosa, segurando um copo de café que ele nem bebe — só segura como se fosse escudo.No canto, Mireille. Impecável como sempre. Óculos pendurados na ponta do nariz, um tablet na mão, lendo relatórios de busca, relatórios de satél