POV HeitorO barulho seco da porta do escritório se fechando atrás de mim ecoou mais alto do que deveria. Atirei a pasta de relatórios sobre a mesa de madeira escura e fiquei apenas encarando o vidro do copo de uísque que ainda não havia tocado desde a manhã.Não consegui. Não consegui arrancar Isadora da vida que ela construiu.Ela não estava mais vulnerável em um apartamento qualquer, nem exposta aos olhares da mídia em cada esquina. Agora estava cercada pelos muros altos da mansão Harrison, guardada pelos segredos e pelo poder daquela família. E o que era pior: com Dante ao lado dela.Fechei os olhos, apertando as têmporas.— Maldito… — murmurei.A notícia me atingiu como um soco no estômago quando estourou nos jornais: “Dante Harrison retorna à mansão com esposa e filha. Herdeiro assume dupla responsabilidade entre Vertigem e Harrison Advocacia.”Duas linhas, e foi o suficiente para ver as ações da empresa Montenegro despencarem. Meus conselheiros ficaram em pânico, as reuniões fo

POV IsadoraO relógio marcava sete e meia da noite quando terminei de ajeitar o vestido. Azul-escuro, discreto, mas elegante. Um presente de Dante, dos tempos em que ainda vivíamos em nossa casa, longe de todo o peso do sobrenome Harrison.Agora, o mesmo vestido parecia deslocado, como se tivesse sido feito para outra mulher, uma que não precisava medir cada palavra e cada gesto.O espelho refletia uma versão minha que tentava parecer calma, mas que por dentro ainda tremia.Desde que nos mudamos, o clima na mansão parecia um campo minado: cada corredor tinha olhos, cada empregado observava, cada porta fechada guardava um segredo.Sofia dormia no berço ao lado, respirando tranquila. Passei a mão em seu rostinho e murmurei:— Você é a única razão para eu não enlouquecer aqui, sabia?Um som de motor lá fora me fez endireitar a postura. Dante.Ouvi a porta da frente se abrir, os passos dele ecoando pelo corredor de mármore. A voz da governanta o recebeu com formalidade, seguida por aquele

POV HeitorO sol parecia zombar de mim naquela manhã. Brilhava com força através das janelas da mansão, refletindo nas paredes de mármore como se quisesse destacar o absurdo daquilo tudo: eu, Heitor Montenegro, o homem que jurou jamais se prender a ninguém, prestes a subir ao altar com uma mulher que eu mal suportava.Leyla Torres. Linda, ambiciosa, e completamente obcecada pela ideia de se tornar “a senhora Montenegro”.Enquanto o alfaiate ajustava o último botão da minha camisa, senti o peso da gravata sufocar mais do que o próprio compromisso. O reflexo no espelho mostrava um homem elegante, mas vazio, um fantasma preso em um teatro armado por Célia.Minha mãe estava em seu auge. Correndo de um lado para o outro, organizando tudo, com aquele olhar triunfante de quem está prestes a vencer uma guerra silenciosa.— Você está perfeito — disse ela, entrando no quarto com o tablet nas mãos. O sorriso era tenso, cheio de vaidade. — A imprensa já está lá fora. Todos os grandes veículos cob

POV IsadoraO som suave do monitor do bebê era o único ruído na casa naquela manhã. Sofia dormia profundamente no berço ao meu lado, o rostinho sereno, os dedinhos fechados num punho minúsculo.Olhei para ela e senti aquela mistura agridoce de paz e medo, o mesmo sentimento que me acompanhava desde o parto.Minha filha era o meu novo mundo. E ainda assim, bastava um pensamento errado para o passado se infiltrar, silencioso, venenoso.Peguei o celular para tirar uma foto. Queria mandar para Olivia, que vivia pedindo “atualizações da fofura”. Abri a câmera, ajeitei a luz e capturei o momento.Mas antes que eu pudesse enviar, uma notificação piscou no topo da tela.“Casamento surpresa: Heitor Montenegro e Leyla Torres oficializam união luxuosa em cerimônia restrita.”O sangue gelou.Por um segundo, achei que tivesse lido errado. Pisquei, voltei a olhar. Não, estava ali. O nome dele. O nome dela. Juntos.Toquei na manchete, com os dedos tremendo. A tela se abriu revelando uma enxurrada de

POV DanteO relógio marcava quase oito da noite quando a última reunião terminou.Minha cabeça latejava. Três fusões, cinco clientes internacionais e o nome Harrison estampado em cada e-mail que chegava.De repente, percebi o que meu pai sempre quis dizer com “o peso do legado”.E o quanto ele esperava que eu carregasse esse peso sorrindo.Fechei o notebook, afrouxei a gravata e me encostei na cadeira, exausto.O barulho distante do escritório ainda fervilhava, passos, vozes, copos de café sendo deixados sobre mesas.Eu queria ir pra casa.Queria ver Isa, sentir o cheiro de Sofia, o riso baixinho dela.Mas antes que eu pudesse levantar, ouvi batidas na porta.— Entra — murmurei, sem muita energia.Camila apareceu.Um sorriso ensaiado, aquele tipo de sorriso que parece espontâneo, mas é calculado.— Não sabia se podia interromper o novo diretor. — A voz dela vinha leve, divertida.— Pode. Desde que traga boas notícias.Ela entrou, equilibrando uma pasta e um tablet. — Sempre trago. Fe