Não sei por quanto tempo fiquei ajoelhada no chão depois que levaram as crianças. Sentia o corpo gelado, a pele grudenta pelo suor do medo e do desespero. A alma… essa sim, eu sabia o quanto doía. Como se Alexander a tivesse tomado entre as mãos e a tivesse esmagado até despedaçá-la.Não chorei mais. Já não tinha lágrimas. Só um vazio profundo que me engolia por dentro.Os passos vieram depois. Suaves. Não eram os dele.Uma mulher parou diante de mim. Vestia um uniforme cinza e mantinha as mãos cruzadas à frente. Não me olhava nos olhos, como se não quisesse reconhecer que eu era mais do que uma sombra. Apenas falou:— O senhor Alexander ordenou que eu a leve ao quarto dele.Engoli em seco. A garganta ainda ardia. Levantei-me com dificuldade. Cada músculo doía, mas não pelos golpes… e sim pela tensão, pelo medo acumulado.— Por quê…? — perguntei, embora já soubesse a resposta.A mulher não respondeu. Apenas virou-se e começou a caminhar. Eu a segui.Subimos as escadas. As mesmas que e

A luz da manhã entrava pelas cortinas como se não soubesse que, na noite anterior, eu havia sido destruída. Que eu havia sido esvaziada por dentro.Me obriguei a levantar, lavar o rosto inchado, pentear o cabelo com as mãos trêmulas. Não por mim. Por eles.Os encontrei na pequena sala ao lado do meu quarto. Estavam sentados no chão, rodeados de caixas abertas, tecidos brilhantes, sapatos minúsculos e acessórios que não deveriam ter nada a ver com a infância deles. O quarto parecia saído de um catálogo de fantasia... mas não passava de mais uma jogada de Alexander.Quando me viram, seus rostinhos se iluminaram por um segundo. Só por um segundo. Porque então, a confusão escureceu seus olhos.—Mamãe —disse Noah com sua vozinha suave, me olhando como se buscasse uma explicação que eu não tinha—... É verdade que você vai se casar com aquele homem mau?Senti como se arrancassem meu coração com aquelas palavras.—Ele veio hoje de manhã —acrescentou Isabella, franzindo a testa como quando alg

POV: EthanNunca vou esquecer o cheiro de fumaça nem o estalo do metal queimando enquanto eu arrastava Carttal para fora dos destroços do carro. Seu rosto estava coberto de sangue, a respiração fraca, o corpo sem forças. Gritei seu nome tantas vezes que senti minha voz se partir. E mesmo assim, ele não acordava.Já se passaram semanas desde aquela noite. Semanas trancados nesta velha mansão escondida entre as montanhas de Centralia. É um lugar esquecido, cercado por florestas densas e estradas tão estreitas que não aparecem nos mapas modernos. Foi uma das propriedades que meu pai usou anos atrás para esconder operações sujas. Ninguém deveria saber que estamos aqui. Ninguém… exceto eu.Mas, hoje em dia, até mesmo a certeza mais sólida pode virar fumaça.A mansão é fria, silenciosa, imensa. Cada canto range como se os fantasmas do passado caminhassem ao nosso lado. Há poeira nos cantos, umidade nas paredes e um silêncio que pesa mais que qualquer ferida. Às vezes, olho pela janela e só

POV: Aslin VenturaO vestido me caía perfeitamente. Claro que sim. Alexander havia se certificado de que fosse feito sob medida, por uma costureira que veio tirar minhas medidas enquanto eu dormia sedada. O tule branco caía como uma cascata gelada dos meus ombros até os tornozelos. O corpete apertado roubava meu ar, como se também quisesse me roubar a voz.Diante do espelho, eu não me reconhecia.A mulher que me encarava de volta não era eu. Tinha o cabelo preso em ondas suaves, os lábios pintados de vermelho e um olhar perdido entre o medo e a fúria. Uma boneca de porcelana pronta para ser exibida.Mas por dentro… estava despedaçada.Apertei os punhos sobre as pernas. Cassie me observava de um canto, com os lábios cerrados e os olhos marejados. Foi ela quem me ajudou a me vestir. Não disse nada, mas suas mãos tremiam enquanto abotoava as costas do vestido. Eu percebia que ela queria me dizer algo, mas o medo era mais forte que as palavras.—Você está linda —sussurrou enfim, com uma t

POV: Alexander LíbanoNão dormi.A noite inteira passou em claro, sentado em frente à janela do meu escritório, observando a escuridão engolir o horizonte enquanto minha mente girava sem descanso. Cada sombra me parecia uma ameaça. Cada ruído, um sussurro do nome dele.Carttal.O maldito nome que eu havia jurado apagar da existência. O mesmo que Aslin gritava tantas vezes quando achava que ninguém a ouvia. Aquele que devia estar morto e enterrado. Uma lembrança. Um pó ao vento. Mas agora era uma sombra. Uma sombra viva.E se eu não o destruísse logo… acabaria perdendo tudo.Me inclinei para frente, com os cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos entrelaçadas, os olhos fixos no vazio. Eu tinha o controle absoluto. Cada movimento, cada decisão, cada mentira tinha sido calculada. Construi este império para ela. Para tê-la. Para possuí-la.E agora… tudo pendia por um fio.A porta do escritório se abriu após duas batidas apressadas.— Entre — rosnei, sem me mover.Um dos meus homens entrou.