Thiago observava de longe a fachada da empresa Vasconcellos Incorporadora. Os vidros espelhados refletiam o céu cinzento daquela manhã, e a movimentação dos executivos entrando e saindo pouco lhe importava. Ele já havia traçado o plano. Não importava quanto tempo levasse ou o preço a pagar — Isabela voltaria a ser dele.— O jogo começou — murmurou para si mesmo, antes de dar a partida no carro.Enquanto isso, no escritório do terceiro andar, Leonardo analisava alguns relatórios quando foi interrompido pela assistente pessoal.— Doutor Vasconcellos, desculpe incomodar. Um advogado chamado Marcos Barreto está na recepção. Disse que deseja conversar pessoalmente sobre um possível processo envolvendo o nome da empresa.Leonardo franziu o cenho. Aquilo veio do nada.— Ele marcou horário?— Não, senhor. Mas insistiu muito.Com um aceno, Leonardo permitiu a entrada. Poucos minutos depois, um homem elegante e de fala suave sentava-se à sua frente.— Doutor Leonardo, sou representante de um cl

A coletiva de imprensa foi marcada para uma manhã de terça-feira no auditório principal da Fundação Vasconcellos. Jornalistas de todas as partes do estado estavam presentes, atraídos pelo mistério do anúncio “de interesse público” feito por Leonardo na noite anterior.Isabela estava ao seu lado, elegante em um tailleur preto, os cabelos presos em um coque baixo. Não era apenas uma esposa acompanhando o marido — era uma mulher que se colocava como protagonista do próprio destino. A cada passo até o palco, ela sentia os olhos do mundo sobre si… mas, pela primeira vez, não se encolheu.Leonardo ajustou o microfone e começou:— Agradeço a presença de todos. Hoje, não falaremos sobre negócios, mas sobre justiça.Murmuros percorreram a sala.— Nos últimos meses, fomos alvos de uma série de ataques disfarçados de processos judiciais. Um dos nomes envolvidos é Marcos Barreto, um ex-advogado expulso da OAB, e hoje, comprovadamente, envolvido em um esquema de extorsão, falsidade ideológica e di

O avião pousou em Montserra em uma tarde nublada, com o céu pintado em tons de cinza e um vento frio soprando com intensidade. Era como se a cidade estivesse antecipando o retorno deles, já ciente de que o furacão chamado verdade estava prestes a se espalhar.Isabela encarou a janela escurecida do carro enquanto deixavam o aeroporto. Durante os dias na Itália, sentiu-se reviver. Mas agora, ao voltar para o lugar onde tudo desmoronou, a ansiedade voltava como um velho conhecido, sorrindo de canto de boca e sussurrando dúvidas.Leonardo notou o silêncio dela e pousou a mão sobre a sua.— Eu estou com você — disse, firme. — Ninguém vai te tocar. Não mais.Ela assentiu, respirando fundo.— Eu sei. Só… Eu preciso encarar tudo isso agora. Preciso falar com meu pai. Com a imprensa. E talvez até com o Thiago.— Você não deve nada ao Thiago.— Talvez não, mas eu mereço a paz de olhar pra ele e dizer: eu sobrevivi.A mansão dos Vasconcellos estava mais movimentada do que de costume. A presença

Leonardo caminhava em círculos pela varanda do quarto, o celular colado ao ouvido, os olhos fixos na escuridão lá fora. O som da voz de Samuel do outro lado da linha parecia vir de uma dimensão paralela, como se o mundo real estivesse começando a ruir sob seus pés.— Tem certeza disso?— Sim. O IP dos vazamentos vem de dentro da própria empresa. Alguém do conselho teve acesso a documentos antigos que só estariam disponíveis em arquivos internos. Alguém próximo. Muito próximo.— E os jornalistas?— Estão sendo alimentados com precisão cirúrgica. É alguém que conhece os bastidores. Que sabia exatamente onde mirar.Leonardo desligou e ficou parado por alguns segundos. Isabela surgiu na porta com uma expressão grave, segurando uma pasta.— Recebi isso agora mesmo. Um entregador deixou na portaria.Leonardo abriu a pasta. Lá dentro, havia cópias de e-mails trocados entre conselheiros da empresa, documentos assinados por seu pai e... uma carta anônima escrita à mão.“Você herdou o império,