Thiago passou a mão pelos cabelos, nervoso.— Eu era fraco. Me deixei levar por uma necessidade estúpida de controle, de orgulho. E quando percebi, já estava envolvido demais. Clara sempre soube manipular as coisas. Ela me fazia acreditar que você não me amava de verdade. Que estava comigo por comodismo. Mas quando vi você se afastar... se reerguer... vi quem você realmente é.Isabela o encarou, os olhos frios.— Então só agora você percebe? Quando me vê sendo amada de verdade por outro homem? Quando percebe que não sou mais a mulher que você podia manipular?Thiago ficou em silêncio.— Eu sei que não mereço uma segunda chance — disse ele, baixando o olhar. — Mas precisava olhar nos seus olhos e reconhecer que você é mais forte do que eu jamais fui.Isabela se levantou devagar, pegando a bolsa.— Você está certo. Não merece uma segunda chance. E eu não preciso mais das suas desculpas para seguir em frente. O que você fez me destruiu por um tempo. Mas também me fez renascer. Por isso,

A casa dos Vasconcellos estava silenciosa demais quando Isabela e Leonardo chegaram. O ar parecia pesado, como se pressentisse a chegada de uma tempestade. Beatriz os aguardava na sala com uma expressão preocupada e o olhar mais sério que o habitual.— Sua tia está no jardim — ela disse sem rodeios, olhando diretamente para Leonardo. — E fez questão de deixar claro que queria ver ambos assim que vocês chegassem.Isabela engoliu seco. Nunca tinha ouvido falar de Helena antes. A julgar pela postura da sogra e o tom comedido de Leonardo durante o telefonema, a mulher não era apenas mais uma parente distante. Era alguém que causava impacto. E que provavelmente não aceitava respostas suaves.Leonardo entrelaçou os dedos aos de Isabela.— Seja o que for, estamos juntos — murmurou.Caminharam até o jardim dos fundos, onde encontraram uma mulher elegante sentada em uma poltrona de vime, com um livro aberto no colo e uma taça de vinho tinto na mão. Mesmo com a idade já passando dos sessenta, H

O dia amanheceu com um céu encoberto, como se até o tempo estivesse em sintonia com a tempestade silenciosa que se instalava na mansão dos Vasconcellos. Isabela desceu as escadas mais cedo do que o habitual, os passos ecoando no mármore frio, e se deparou com Helena já à mesa do café, elegantemente vestida, como se estivesse prestes a presidir uma reunião.— Bom dia, querida — disse a mulher, sem tirar os olhos da xícara. — Dormiu bem?Isabela respondeu com um aceno contido e uma expressão neutra. Já aprendera que, com Helena, qualquer palavra era analisada, cada gesto interpretado.Ao longo do dia, pequenas mudanças começaram a surgir. A nova arrumadeira, contratada sem aviso prévio, parecia curiosa demais sobre o quarto do casal. A governanta, sempre leal à família, agora hesitava em comentar sobre a rotina. Isabela percebia olhares, silêncios prolongados e até portas entreabertas no corredor quando passava.No escritório, Leonardo folheava documentos com o semblante carregado. Ele

O impacto da noite anterior ainda ecoava pelos corredores da mansão Vasconcellos. Comentários elogiosos sobre o baile tomavam conta da imprensa local. A foto do beijo entre Isabela e Leonardo estampava colunas sociais com manchetes como “O Casal do Ano” e “De contrato a paixão: amor verdadeiro entre os Vasconcellos?”Mas enquanto a cidade aplaudia o espetáculo, Helena arquitetava em silêncio.Ela não agia no calor da emoção. Sempre preferira a frieza da estratégia.Sentada em seu quarto, ela folheava uma pasta com cópias do contrato de casamento que havia conseguido através de um antigo funcionário do escritório de advocacia da família. Embora faltassem páginas cruciais — incluindo a cláusula de seis meses — o conteúdo que ela tinha em mãos já era suficiente para levantar dúvidas.— “Motivos práticos, cláusulas de convivência e rescisão sem prejuízo emocional”... — murmurou, lendo em voz baixa. — Um casamento fundamentado em termos jurídicos jamais se sustenta sob cláusulas sentimenta

O relógio marcava pouco mais de nove da noite quando Leonardo entrou no escritório principal da mansão. Ele estava com o paletó jogado sobre o braço e a gravata afrouxada, o rosto tenso como raramente se via. Beatriz, que conversava ao telefone com um dos membros do conselho, desligou ao ver o filho entrar.— Aconteceu alguma coisa?— Helena colocou Thiago cara a cara com Isabela hoje — disse ele, sem rodeios.Beatriz fechou os olhos por um segundo. Não precisava ouvir mais nada para entender a gravidade da situação.— Ela está tentando manipular a narrativa antes que o conselho receba os relatórios da auditoria. Está montando um dossiê com tudo que possa sugerir que o casamento é uma farsa — continuou ele, com o maxilar travado. — Inclusive, usando falas de funcionários e antigos registros internos da empresa.— E Isabela?— Está firme. Ela enfrentou os dois sozinha. E saiu por cima. — Leonardo apoiou as mãos na escrivaninha. — Mas eu cansei de reagir. Está na hora de agir primeiro.