O tempo passou com pressa, como se o mundo tivesse sido acelerado desde a chegada de Valentina. Agora com quase um ano, a menina já engatinhava pela casa, sorria com os olhos e chamava "mamã" com ternura. Isabela se dividia entre fraldas, papinhas e canções de ninar. E Lorenzo… continuava ali. Presente. Mas diferente.Ele ainda a beijava ao sair para trabalhar. Ainda brincava com Valentina no chão da sala e se emocionava com os primeiros passinhos da filha. Ainda dizia que a amava, às vezes, quando se lembrava. Mas havia algo em seu olhar. Uma ausência. Uma distância que nem todos os abraços conseguiam preencher.Isabela percebia.Sentia.A cada noite em que ele demorava para chegar. A cada conversa que terminava em monossílabos. A cada celular virado para baixo sobre a mesa, ou ligações encerradas assim que ela entrava no quarto.No início, tentou ignorar.“Ele está cansado. São os negócios. A pressão da máfia, talvez.”Mas a dúvida, uma vez plantada, crescia como erva daninha. Isabe

Aurora: Uma Nova LuzCinco meses haviam se passado desde a descoberta da segunda gravidez, e a barriga de Isabela já denunciava com orgulho a nova vida que crescia dentro dela. Valentina, agora com pouco mais de um ano, adorava encostar a cabeça na barriga da mãe e murmurar sons que pareciam carinho — como se já soubesse que ali estava sua futura companheira de aventuras.Apesar da tensão que ainda pairava entre ela e Lorenzo, a notícia da gravidez havia criado uma trégua silenciosa. Ele estava presente, sim. Levava-a às consultas médicas, montava móveis com dedicação, beijava-lhe a barriga com ternura. Mas seus olhos continuavam ausentes.Isabela já não falava muito sobre isso. Guardava as perguntas para si. O medo de ouvir verdades dolorosas era maior do que a ansiedade de saber. Mas, no fundo, seu coração ainda ardia em dúvida. Ela precisava se proteger — e proteger suas filhas.Naquela manhã, ela acordou mais cedo. Havia chegado o dia da ultrassonografia morfológica, e aquele exam

A Verdade, o Sangue e a LuzLorenzo entrou em casa ao entardecer, desabotoando a camisa, os olhos cansados de mais um dia de “trabalho”. O silêncio da casa o incomodou. Valentina não correu para abraçá-lo. Não havia cheiro de comida. O ar estava denso.Isabela o esperava sentada no sofá, com o olhar fixo em nada. Seus olhos vermelhos, inchados. O rosto pálido.— Isa...? — ele se aproximou, preocupado. — O que houve?Ela ergueu os olhos devagar.— Dominique passou aqui hoje.Lorenzo congelou.— Ela... o quê?— Me contou tudo. Desde o início. As traições. As mensagens. Os vídeos. O bebê que perdeu. Os dois bebês que perdeu.Ele empalideceu.— Ela tá mentindo, Isabela. Você sabe como ela é. Sempre foi obcecada.— Obcecada? — Isabela se levantou, com a barriga pesada balançando no esforço. — Ela pode até ser doente, Lorenzo. Mas você alimentou essa doença. Dormiu com ela enquanto dizia que me amava. Disse que estava em reuniões, e estava com ela. Você jurou ser diferente.Lorenzo tentou s

Renascendo com AuroraA luz do sol atravessava suavemente as janelas do hospital naquele fim de tarde quando Isabela, com a pequena Aurora no colo, cruzou o corredor rumo à saída. A bebê, agora com pouco mais de dois quilos, dormia serena, envolta em um cobertor lilás bordado com o nome que Lorenzo insistira em homenagear a própria avó. Valentina segurava com força a mão da mãe, saltitante de alegria.Do lado de fora, Lorenzo esperava em silêncio, com os olhos marejados. A imagem das três juntas — Isabela, Valentina e Aurora — era um lembrete cruel do que ele quase perdeu. Mas não se atreveu a tomar o bebê nos braços. Em vez disso, abriu a porta do carro com respeito, colocou as malas no porta-malas e seguiu dirigindo sem dizer muito.---A adaptação em casa foi tudo, menos fácil. Aurora chorava muito durante a madrugada. Valentina sentia ciúmes, querendo atenção, e por vezes fazia birra ou se recusava a comer. Isabela, embora feliz por estar com as filhas, sentia o peso do cansaço e

O apartamento luxuoso que Lorenzo dividia com Dominique já não era um lar, mas um campo de guerra silencioso. As paredes, antes vibrantes com tons dourados e espelhos reluzentes, agora pareciam refletir apenas o desgaste de uma relação construída sobre areia movediça.Dominique, com seus vestidos caros e perfumes marcantes, havia se tornado um enigma frio. Já não se importava com a presença de Lorenzo, tampouco se esforçava para esconder suas escapadas noturnas. Ele, por sua vez, chegava tarde, dormia pouco, e passava horas em silêncio, encarando o teto, como se buscasse nas frestas do gesso respostas para sua angústia.As traições entre eles se tornaram rotina. Dominique trocava olhares e encontros com empresários, modelos e até jovens estudantes que conhecia em eventos de gala. Lorenzo, tomado pela frustração e vazio, afundava-se em encontros superficiais com mulheres que não significavam nada, em busca de uma sensação que já não existia. Era um ciclo doentio, onde nenhum dos dois t