A tarde estava quente e viva. A brisa do mar soprava leve, o som das ondas se misturava com risos e conversas ao fundo. Cristal caminhava devagar pela casa após ajudar a organizar as últimas malas. Quando saiu para a área externa da mansão, o cenário era quase de filme: o sol batia na piscina de borda infinita, criando reflexos brilhantes que dançavam na água. O bar ao lado já tinha garrafas sobre o balcão, e Raphael e Christopher estavam ali — os dois irmãos conversando, ambos com os óculos escuros, drinques em mãos e postura relaxada. Mais à frente, Elena de maiô branco e chapéu largo estava deitada em uma espreguiçadeira, ao lado de Elizabeth de biquíni preto e óculos escuros. As duas riam de algo enquanto tomavam sol, como se o mundo fosse simples. Elena, Emilly, Chloe e até Elizabeth já haviam trocado de roupa, exibindo seus biquínis com a naturalidade de quem sabia que era observada. Chloe ajeitava o cabelo e cruzava as pernas propositalmente devagar, deitada em uma cadeira à

Depois de horas ali na área da piscina, o sol começava a se pôr, tingindo o céu com tons dourados e alaranjados que atravessavam as amplas janelas da casa. A brisa entrava leve pelas cortinas esvoaçantes, trazendo com ela o cheiro do mar e o som abafado das ondas ao longe. Cristal havia se trocado. Vestia um vestido leve, branco, de alcinhas finas, que realçava o tom rosado das bochechas aquecidas pelo sol. Seus cabelos ainda úmidos caíam em ondas soltas pelas costas. Passou um pouco de gloss nos lábios e, antes de sair do quarto, encarou seu reflexo no espelho com firmeza — como quem se lembrava de não perder o controle. Na varanda coberta onde a longa mesa de jantar havia sido montada, todos já estavam sentados. Frutos do mar frescos, drinks coloridos e taças de vinho branco decoravam a mesa com elegância casual. As conversas fluíam com leveza, entre sorrisos e risadas espontâneas. Elizabeth roubava a cena, como sempre, contando alguma história indecente de seus tempos em Las Vega

Cristal suspirou fundo, ainda com o gosto amargo na boca e os olhos perdidos no espelho. Elizabeth estava ali, serena, mas atenta a cada detalhe, como se enxergasse mais do que Cristal dizia. — "Se a gente for fazer esse teste..." — começou Cristal, com a voz baixa, como se estivesse fazendo um pacto — "só nós duas podemos saber. Independente do resultado. Não quero dizer nada pra essas pessoas... não ainda." Elizabeth assentiu com leveza, como quem entendia sem precisar de explicações. — "Pode confiar em mim." — respondeu. (...) Mais tarde, quando voltaram para o ambiente com os outros, Cristal apenas se serviu de um copo d'água. O cheiro dos alimentos e o som das risadas já não combinavam com o que ela sentia por dentro. Seu apetite desaparecera, assim como sua disposição. Enquanto o restante do grupo ria alto, bebia e se jogava na piscina, Cristal permaneceu deitada na espreguiçadeira, os olhos semicerrados e os pensamentos em outro lugar. Sentia o calor do sol na pele, mas s

Cristal sentiu o gosto amargo da náusea subir com força, como se seu corpo reagisse à exposição que Emilly causara. Pela primeira vez em muito tempo, ela estava completamente sem palavras. O nó na garganta era tão denso quanto o silêncio que se seguiu. Ela não conseguia olhar diretamente para Raphael, nem para Christopher, que a observava fixamente, confuso, como se procurasse entender o que ela não dizia. Ele sabia dos sentimentos dele — mas agora, se perguntava se ela realmente confiava nele. Elena, por sua vez, não esboçou um sorriso sequer. Seu olhar era firme, crítico, quase calculado. Aquela notícia não parecia ser, para ela, uma alegria. Representava o prolongamento de algo que ela sempre desaprovou: Cristal em sua família, agora ligada por um filho. Mas, como sempre, sua postura foi revestida de ironia fina. — "Ai, por favor… ninguém precisa transformar isso em um drama mexicano," — disse ela, com um sorriso que mais parecia um corte. — "Filhos são bênçãos. Claro que Cristal

Dois meses se passaram desde o retorno da viagem. A barriga de Cristal mal mostrava diferença, mas ela sentia na pele cada mudança: os enjoos ainda vinham em ondas, o sono parecia infinito, e a sensibilidade... essa era a mais traiçoeira. Bastava uma lembrança, uma palavra ou um olhar para desmoronar tudo por dentro. Raphael seguia mergulhado no trabalho. Em suas palavras, estava “garantindo o futuro do filho deles”. Cristal, no entanto, começava a perceber que o futuro estava sendo construído sem sua participação emocional — ela era apenas o símbolo dele. Já Christopher... Christopher era outra história. Ele aparecia com frutas que ela dizia gostar, com chás contra enjoo que ele “leu na internet”, e sempre tinha um tempo — mesmo que rápido — para perguntar como ela estava. A afeição dele pelo bebê era tão espontânea que a confundia. Como alguém podia se apegar tão rápido a algo que, teoricamente, nem era seu? Naquela manhã, Cristal acordou mais disposta. Colocou um vestido le