O silêncio entre eles era denso, carregado de tudo que nunca foi dito — e de tudo que não podia ser dito em voz alta dentro daquela mansão sufocante. Christopher fez uma curva lenta, levando o carro por uma rua mais afastada, ladeada por árvores altas e quase sem postes. Estacionou próximo a um mirante discreto, onde a cidade piscava ao longe, como se estivesse em outro mundo. O motor silenciou. Apenas a respiração dos dois preenchia o espaço fechado do carro. Cristal permaneceu olhando a vista por alguns segundos, o rosto levemente iluminado pela luz da cidade refletida nos vidros. Então virou-se para ele, com um sorriso contido, cansado e sincero. — “Queria ter te conhecido antes, Christopher... talvez tudo fosse diferente.” Os olhos dele encontraram os dela. Havia algo quebrando ali, algo que ele lutava para manter controlado há tempo demais. — “Você não faz ideia de quantas vezes eu pensei nisso,” — ele disse, a voz baixa, quase rouca. — “Se fosse eu que tivesse te c

Cobertura de Christopher, jantar à luz de velas, tinha como ser melhor? Cristal se sentou lentamente, deslizando as mãos pela seda do vestido enquanto mantinha o olhar nele. Christopher serviu vinho em sua taça, depois na própria. O gesto era calmo, controlado... quase íntimo. — “Você sempre foi tão... calculado?” — ela perguntou, erguendo a taça sem desviar os olhos. Ele se sentou de frente para ela, sorrindo de canto. — “Eu gosto de controle. Mas com você...” — os olhos dele a percorreram com desejo cru — “...eu aceitaria perder.” Ela tomou um gole do vinho, sentindo o calor descer pela garganta. O silêncio entre eles era denso, carregado de tensão. Ele cortou um pedaço da carne no prato e o ofereceu a ela na ponta do garfo. Cristal hesitou um segundo. Depois se inclinou, abrindo os lábios e aceitando o gesto. Seus olhos não saíam dos dele enquanto mastigava lentamente. Christopher estava imóvel. Observando. Dominando. — “Você sabe o que está fazendo,” — ela disse em

O quarto ainda carregava o calor do que havia acontecido entre eles. Cristal se levantou em silêncio, enrolando-se no roupão e seguindo para o banho. Raphael entrou logo depois, murmurando algo sobre água quente e o tempo frio, como se tudo estivesse absolutamente bem. A rotina seguiu quase mecânica. Eles se vestiram, Cristal optando por algo confortável e leve — uma blusa de linho clara e uma calça elegante, cabelos presos num coque baixo novamente, sem esforço, mas com elegância. Descendo as escadas juntos, foram recebidos pelo aroma de café fresco e pão recém-assado. Os mordomos haviam acabado de pôr a mesa: frutas cortadas com precisão, sucos naturais, croissants, queijos finos e geleias em pequenos potes de vidro. Sentaram-se lado a lado. Raphael parecia mais presente, sorrindo de forma contida, como se quisesse mostrar atenção. Cristal manteve a compostura. Sorriu também. Comeu devagar. Observava. Depois de um tempo, ele limpou os lábios com o guardanapo e se virou para ela

Cristal caminhou de volta após um momento sozinha, em passos calculados, o rosto composto, como se nada tivesse acontecido ali no jardim. Pegou uma taça de espumante da bandeja de um garçom que passava e levou aos lábios, mais por gesto do que por gosto. O som das taças tilintando chamou sua atenção. Ela olhou à frente e viu todos se virando em direção ao centro da mesa. O momento dos discursos. A tradição familiar encenada como se fossem um lar de comercial de margarina. Elena se levantou com elegância forçada, o cristal cintilando entre os dedos cobertos de anéis. — “Gostaria de propor um brinde,” anunciou, com o tom doce de uma cobra prestes a dar o bote. — “À Cristal... nossa aniversariante.” Fez uma pausa dramática, sorrindo com os lábios, mas não com os olhos. — “Apesar dos desafios, ela tem se mostrado resiliente. Uma mulher... perseverante. Mesmo com tantas diferenças de valores, ela permanece firme. E isso, sinceramente, é admirável. Que continue assim: aprendendo, se

O silêncio ainda pairava quando Raphael pigarreou, tentando retomar o controle da reunião informal. — “Bom... agora que tudo foi dito,” — ele começou, colocando as mãos nos bolsos com aquele tom prático que tanto usava nos negócios — “eu queria anunciar uma coisa boa.” Todos se viraram para ele com expectativa. — “Pensei em... uma viagem. Preparei o jato particular para todos nós. Só alguns dias, uma pausa... pra que possamos voltar a nos entender. Talvez até funcionar como uma verdadeira família.” Cristal nem disfarçou o ceticismo no olhar. Sabia que aquilo era menos sobre reconciliação e mais sobre manter as aparências. Uma viagem, fotos sorrindo, conversas superficiais, fingimentos em ambientes paradisíacos. Raphael queria harmonia — mas só a que pudesse ser vista de fora. — “Vamos para a casa de praia da família. Em Montauk,” — ele concluiu com um leve sorriso. — “Nada muito longe. Mas suficiente pra respirar novos ares.” Elena foi a primeira a reagir, como sempre. — “Monta