Alguns dias se passaram depois do encontro com Christopher e lá estava Cristal, se arrumando para mais um daqueles jantares em "família". Christopher estaria lá, Raphael, Emilly e a mãe deles, Elena. Ótimo! O zíper subiu lentamente pelas costas, selando o vestido de cetim azul-marinho ao seu corpo como uma segunda pele. O tecido escorria com elegância até os tornozelos, deixando as costas nuas e uma pequena fenda lateral exposta — sutil, mas perigosa o bastante para lembrar que ainda existia ousadia ali, mesmo sob camadas de controle. Cristal encarou o reflexo no espelho do quarto. O batom vinho realçava seus lábios, e os cabelos estavam soltos, com ondas marcadas que emolduravam o rosto. Ela estava... impecável. Quase inacessível. Mas por dentro, era tudo menos isso. A mão repousou sobre a penteadeira por alguns segundos. Um respiro. Um lembrete de que aquele jantar não era apenas mais um evento social: era uma vitrine. Raphael queria mostrar que a família Moreau era uma mura

O restante da noite passou como uma névoa. Despedidas forçadas, abraços educados, sorrisos falsos. Elena se retirou com a elegância fria de sempre, Emilly trocou beijos nas bochechas e deixou no ar mais uma daquelas frases com duplo sentido que faziam Cristal se sentir como uma convidada indesejada na própria vida. Christopher não falou mais nada. Seus olhos, no entanto, diziam tudo — e Cristal sentia o peso deles mesmo enquanto ele caminhava para o carro, como se levasse consigo um pedaço da confusão que ela tentava esconder de si mesma. Assim que a última visita saiu e a porta da mansão se fechou, o silêncio preencheu o ambiente como um baque. Raphael soltou um suspiro longo e se virou lentamente para ela. — "O que vocês estavam conversando lá fora?" Cristal travou. Estava tirando os sapatos quando ouviu a pergunta, e o tom dele era diferente — não era casual, não era curioso. Era possessivo. Ríspido. — "Sobre nada demais," — respondeu sem olhá-lo, indo em direção à escada. R

POV Cristal Dias depois da discussão – Mansão Moreau Os dias passaram como páginas de um livro que Cristal não queria mais ler. Raphael saía cedo. Voltava tarde. Às vezes, nem voltava. Ela o via por fotos em eventos, jantares com investidores, almoços com Emilly. Sempre elegante, sempre sorrindo. Mas nunca com ela. Na mansão, o tempo escorria lento. Os criados evitavam contato. Elena — a sogra — parecia fazer questão de cruzar com Cristal nos corredores apenas para ignorá-la com perfeição milimétrica. E Emilly… sempre presente, sempre sorridente, como se nada estivesse errado. Mas Cristal sabia. Estava tudo errado. --- Sala de jantar vazia A mesa era longa, impecável, posta para dois. Como todas as noites. Mas só ela jantava. As luzes eram quentes, a porcelana era fina, o silêncio... cruel. Ela empurrou o prato. Perdeu a fome no terceiro garfo. Pegou o celular. Nenhuma mensagem dele. Nenhuma ligação. Nenhuma explicação. A tela exibiu uma notificação discreta: “Localização

POV Christopher Christopher não conseguia aceitar o fato de que Emilly apareceu naquelas câmeras de segurança sem investigar o motivo, por qual motivo ela estaria ali? O que ela queria? Aquilo ficava martelando em sua cabeça durante horas. Residência C. Moreau, porão blindado Christopher não era homem de suposições. Ele queria verdades. Frio, metódico, preciso. Quando algo fugia do padrão, ele cavava até encontrar a raiz. E com Emilly, a raiz estava mais funda do que ele esperava. Na tela à sua frente, um vídeo começava a rodar. Gravação de dois dias atrás. Emilly entrava no prédio do centro financeiro por uma entrada de serviço. Sem seguranças, sem motoristas. Camuflada. Sabia onde pisava. Sabia onde estava entrando. Christopher avançou o vídeo. Ali estava ela, reunida com Julius, um dos seus contadores mais antigos — homem que só recebia ordens diretas dele. A conversa era silenciosa, mas ele tinha o áudio. E o que ouviu fez sua mandíbula travar. — “Preciso daquelas moviment

POV Cristal Alguns dias depois – Mansão de Raphael Moreau, início da tarde Cristal observava seu reflexo no espelho com atenção. O vestido branco de seda, elegante e discreto, marcava a cintura com delicadeza. O colar de pérolas que usava fora um presente de Raphael, e as sandálias saltavam só o suficiente para dar firmeza à postura. O cabelo, preso em um coque baixo, deixava o pescoço à mostra — uma escolha estratégica. Ela sabia que ali, naquela casa, aparência era mais do que vaidade. Era linguagem. Era armadura. Respirou fundo e sorriu para si mesma, ainda que com certa hesitação. Havia uma nova presença na casa hoje: Elizabeth, tia de Raphael e Christopher. Ela viera de Las Vegas para passar alguns dias em Nova York. Segundo Raphael, era “uma figura”. Descendo os degraus com graça, Cristal ouviu vozes e risadas vindas do jardim dos fundos. O som de taças, o leve burburinho de conversas cruzadas, e o sutil perfume de lavanda das flores recém-podadas a envolveram conforme ela s