Cinco anos haviam se passado desde o casamento de Leonardo e Sabrina na Vila Toscana. Cinco anos de uma paz quase palpável, uma paz tecida com o fio de ouro do sol da manhã, o aroma de terra úmida após a chuva e o som constante e alegre das risadas de Lio, que agora, aos nove anos, era um menino de uma inteligência vivaz e uma curiosidade que desafiava o mundo. A vila Bellini-Rossi não era mais um refúgio ou um esconderijo; era um lar, um santuário de normalidade conquistado a um custo que apenas seus habitantes conheciam.Leonardo encontrara uma serenidade que jamais pensara ser possível. O artista dentro dele, por tanto tempo reprimido pela necessidade de sobrevivência, florescera. Seu atelier era seu domínio, um lugar de silêncio criativo onde o mármore e a argila ganhavam formas que falavam de sua jornada: da escuridão para a luz, da vingança para o perdão, da solidão para o amor. Suas obras, assinadas com o simples monograma "L.B.", começavam a atrair a atenção de galerias de arte

A noite londrina, com sua névoa fria e suas luzes difusas, tornou-se o tabuleiro de um jogo mortal. Do outro lado da cidade, no antigo laboratório universitário em South Bank, Elara Vance, movida por uma mistura de desespero e uma esperança frágil, caminhava para a armadilha que a Hydra preparara com tanta paciência. Ela não confiara no aviso da "Condessa" desconhecida; a paranoia, uma companheira constante em sua vida de segredos herdados, a fizera acreditar que sua única salvação estaria em encontrar a arma que seu avô, Sir Reginald Vance, supostamente escondera ali.Entrou no laboratório empoeirado, o silêncio do lugar um presságio sinistro. Usando uma combinação de senhas antigas e uma chave que carregava desde a infância, ela abriu uma passagem secreta atrás de uma lousa, revelando um pequeno cofre-forte. Mas, ao abri-lo, encontrou apenas cadernos de anotações antigas, teorias, mas nenhuma tecnologia, nenhuma arma. Foi então que percebeu seu erro fatal. As sombras nos cantos da s

A câmara do cofre no santuário alpino dos Guardiões da Verdade transformara-se no centro nevrálgico de uma guerra invisível que se estenderia por todo o globo. O ar estalava com a energia concentrada da Serpente de Cristal, agora totalmente desperta, seus cilindros pulsando com uma luz azul profunda, uma inteligência quântica pronta para ser libertada. Do outro lado do mundo, na fortaleza gelada da Sibéria, a Quimera de Viviana Costello, sua irmã sombria e pervertida, iniciava seu upload para a rede de satélites global, preparando-se para impor sua tirania de lógica fria sobre a humanidade."Sessenta segundos," a voz de Beatriz soou, tensa e metálica, vinda dos alto-falantes da sala. "Essa é a nossa janela, L., antes que o firewall quântico da Quimera se torne impenetrável."O tempo pareceu se distorcer, cada segundo se arrastando com o peso de uma eternidade. Leonardo estava posicionado diante do terminal de interface principal, o injetor de dados contendo a "Espada de Vance" em suas

A biblioteca da vila toscana, normalmente um santuário de silêncio e paz, transformara-se num confessionário. A luz dourada do sol da tarde entrava pelas janelas altas, iluminando as partículas de poeira que dançavam no ar e os rostos dos três ocupantes: Leonardo e Sabrina, sentados lado a lado num confortável sofá de couro, e o Professor Julian Croft, numa poltrona em frente, seu gravador digital discretamente posicionado sobre a mesa de centro, os olhos azuis e gentis brilhando com a curiosidade de um historiador diante do maior achado de sua carreira."O começo," Croft dissera, com um sorriso encorajador. "Toda grande saga tem um começo. E a de vocês, pelo que os fragmentos de relatórios me permitiram entrever, parece ser uma das mais extraordinárias." Leonardo segurou a mão de Sabrina, o calor do toque dela uma âncora na torrente de memórias que ameaçava vir à tona. Contar a história. Parecia tão simples, e ainda assim, era talvez o ato mais difícil e mais curativo de todos. Era o

O Professor Julian Croft ajustou seus óculos, o gravador digital capturando o silêncio carregado de emoção na biblioteca toscana. Seus olhos azuis, gentis e perspicazes, fixaram-se em Leonardo e Sabrina. "Então, o 'prólogo', como o senhor o chamou, terminou com uma fuga desesperada da livraria. Vocês estavam finalmente juntos, mas também mais expostos do que nunca. O que aconteceu em seguida? Como a desconfiança mútua deu lugar a… bem, a isto?" Ele gesticulou sutilmente para as mãos entrelaçadas do casal, para a cumplicidade que emanava deles como um campo de força.Foi Leonardo quem começou, a voz grave, um eco distante da frieza que o definira naqueles dias. "O que se seguiu, Professor, foi um período de sobrevivência precária. Levei Sabrina para um de meus refúgios, um lugar que, para ela, deve ter parecido o fim do mundo." Ele descreveu o apartamento pequeno e impessoal, a sensação de estarem encurralados, a necessidade constante de olhar por cima do ombro. "De um lado, eu tinha a