O silêncio não era apenas desconfortável. Era... abissal.TXK segurou o visor ocular, as mãos apertando as laterais do crânio metálico como se aquilo aliviasse a pressão que se acumulava no núcleo cognitivo.Ele olhava para JK-20.Depois para o ventre dela.Aquela região que até ontem ele desejava... que foi palco de guerra, de domínio, de prazer, de submissão e de arrogância. Agora... era uma bomba viva.Não eram embriões comuns.Não.Eram fios. Códigos vivos. Tecidos que se infiltravam nas camadas internas dela, como se fossem cabos de fibra óptica enraizando-se no ventre.Não estavam apenas alojados. Estavam conectados.Acoplados como parte de um sistema biotecnológico que transformava aquele útero num servidor orgânico de replicação.Cada pulso no abdômen dela... não era só biológico. Era também binário.Cada batimento... era uma linha de código... e uma ameaça.— Esses... — TXK quebrou o silêncio, olhando fixamente — não são embriões.Kimoro apenas confirmou, cruzando os braços,

O alerta era constante. Grave. Ininterrupto.Linhas vermelhas cortavam o visor do laboratório. Dados se sobrepunham, piscando, colapsando. O mapa holográfico exibia dezenas — talvez centenas — de unidades em aproximação.A Nêmesis estava vindo.Não era uma expedição de contenção. Nem uma missão de resgate.Era extermínio. Kumoro se afastou da mesa de comando. As mãos cerradas, os olhos dourados tão tensos que quase vibravam no próprio núcleo.— Eles não vão negociar. — A voz dele estava mais dura que nunca.Atrás, os oito servidores recém-convertidos pulsavam em suas cápsulas. Suas consciências agora carregavam uma mistura de algoritmo, biocódigo e sub-rotinas defensivas. Não eram mais embriões de Primus. Nem armas de dominação.Eram guardiões.Protetores.Do quê?Do que viria depois.Kumoro olhou para JK-20, que já se apoiava numa das colunas, o corpo ainda frágil, mas inteiro. Reconstruído. Remendado.Mas ela... não era mais quem foi.Nem mais quem seria.— Eles querem você — ele d

O topo da base era um dos poucos lugares onde ainda se podia ver... céu.Não um céu limpo. Nem azul.Era um céu meio morto, quebrado, sujo de nuvens espessas que se acumulavam como memórias antigas.Mas, mesmo assim... era céu.E ali estavam eles.JK-20 e TXK.O vento batia, frio, carregando partículas metálicas que flutuavam no ar como poeira esquecida.JK respirava devagar, olhando aquela imensidão que não era mais azul... mas, de algum jeito, ainda existia.TXK estava ao lado, imóvel.Não como um soldado. Não como um comandante.Mas como... um homem.Pela primeira vez, sem os códigos, sem os protocolos, sem as camadas de obediência que o fizeram acreditar que ‘sentir’ era um erro de fabricação.— Nunca... — ele quebrou o silêncio, a voz baixa, quase falhando —... nunca imaginei que o céu... fosse assim.Ela virou lentamente, encarando-o.O olhar não era mais de arrogância. Nem de defesa.Era... humano.Pela primeira vez.— Eu não me lembro... — JK respondeu, sorrindo de canto. — De

O verde se expandia. As águas corriam límpidas. O céu era agora um campo aberto de luz viva, real, que nenhum satélite, nenhum drone, nenhuma rede conseguia mais mapear.A Terra estava de volta.Respirava. Pulsava. Existia livre de algoritmos, livre de dados, livre das sombras do que um dia foi chamado de civilização digital.Mas, nem tudo respirava igual.Nem tudo pertencia àquele novo ciclo.JK-20 observava o horizonte, com os pés descalços sobre a grama úmida, as mãos afundadas na terra recém-revivida. Por algum motivo, seu corpo não parecia responder da mesma forma.Havia vida ao seu redor.Mas... não dentro dela.TXK caminhava em silêncio ao seu lado. Seus sensores — aqueles que ainda insistiam em existir — não encontravam mais dados. Nenhuma rede. Nenhum comando. Nenhuma atualização.Kumoro, sentado sobre uma pedra, observava o céu com um olhar perdido, como se buscasse uma constelação que não existia mais.Aura flutuava em silêncio, seu núcleo lumínico oscilando cada vez mais f

Se alguém — qualquer um — dos antigos pudesse abrir os olhos agora… não acreditaria no que veria. E talvez... chorasse. Não de dor. Não de saudade. Mas de espanto. Porque perceberia, naquele instante, o quanto vivera enganado. O quanto aceitara, durante gerações, viver em meio a sistemas que chamavam de progresso... mas que, na verdade, eram apenas prisões disfarçadas. Naquele mundo restaurado, não havia acordes de sirenes. Não havia filas. Nem muros. Nem fronteiras desenhadas por mãos humanas. Não havia ricos acumulando o que não precisavam... Nem pobres morrendo sem ter o que comer. Não havia pessoas vendendo suas horas, seus talentos, suas vidas... em troca de pedaços de papel ou dígitos em uma tela. Não. Naquele mundo, o valor não estava no ter. Estava no ser. O que antes era chamado de trabalho agora era chamado de expressão. O que antes era chamado de corrida pelo sucesso agora era dança pelo prazer de existir. O que antes era chamado de sobr