No dia seguinte à feira, Rafael acordou com um sorriso bobo no rosto, daqueles que nascem quando o peito tá tão cheio que parece até que vai explodir. Valentina dormia ao seu lado, os cabelos bagunçados espalhados no travesseiro como um mapa do caos mais lindo que ele já viu. O colarzinho que ele deu — aquele com o coração torto e o raio — brilhava discreto no pescoço dela, como se dissesse: "ela é minha casa agora". Bruce roncava aos pés da cama com as patas pro alto, e Conde de Meow espreguiçava com ar blasé, tipo: "Até que enfim vocês dois se entenderam, seus humanos lentos..." Rafael não conseguia parar de olhar. Aquela cena comum — um quarto bagunçado, um cachorro fedendo a feira, uma gata soberana e o amor da vida dele deitada a poucos centímetros — parecia mais mágica do que qualquer final de comédia romântica que ele já tinha assistido. Com cuidado, passou a ponta dos dedos pelo rosto de Valentina, traçando a curva da bochecha até a ponta do nariz. Era ali que ele queria e

O Dia dos Namorados finalmente chegou.A loja estava um delírio de amor e bagunça.Os kits voavam das prateleiras como se tivessem asas. Clientes se esbarravam rindo, tiravam selfies no mural “Frases para Amores de Verdade (e de Guerra)” — com pérolas como “Te amo mais que açaí, e olha que é muito” e “Nosso relacionamento sobreviveu a reforma, logo, é eterno”.Bruce desfilava entre as pernas dos fregueses com uma gravata borboleta vermelha que mais parecia uma pipoca de tecido mal colocada. Já Conde de Meow observava tudo de cima do balcão, com sua coleira brilhante escrita “CEO da Bagunça”, julgando silenciosamente cada escolha humana ali.Tudo era barulhento. Tudo era caótico. Tudo era feito de improvisos, tropeços, acertos por acaso.Tudo era exatamente como eles.Mas Rafael escondia um segredo no meio da correria — um plano costurado entre fitas adesivas, madrugadas em claro e suspiros nervosos.Durante semanas, enquanto Valentina dormia com a cara colada no caderno de pedidos ou

Se o noivado de Rafael e Valentina foi uma bagunça linda, o casamento deles prometia ser uma ópera completa de confusões — com direito a orquestra desafinada, maestro perdido e público aplaudindo de pé no final.E o mais engraçado? Era exatamente isso que eles queriam.Nada de cerimônia em salão chique com lustres pendurados parecendo espaçonaves. Nada de vestido de princesa digno de conto de fadas ou tapete vermelho saído de premiação. Nada de coreografia ensaiada em estúdio com passos cronometrados e risos falsos.Eles queriam verdade.Eles queriam tropeços, risos sinceros, e histórias pra contar com a boca cheia de bolo e o coração cheio de amor.A primeira reunião com o organizador de casamentos foi... peculiar. E hilária.O homem apareceu com uma pasta de couro italiana, um tablet de última geração e uma planilha no Excel que parecia ter mais códigos do que a NASA. Sentou-se com pose de quem organiza casamento da realeza.— Então, vamos lá. Estilo da cerimônia? — ele começou, dig

Se casar num temporal parecia insuperável, viver o "felizes para sempre" para Rafael e Valentina seria um desafio ainda mais insano — e, claro, hilário.A vida de casados começou exatamente como deveria para eles: cheia de pequenos desastres.Na primeira manhã como marido e mulher, Rafael acordou inspirado. Queria preparar o “melhor café da manhã da história” para Valentina.Só esqueceu dois detalhes importantes:Um, ele não sabia cozinhar absolutamente nada além de miojo.Dois, esqueceu o fogão ligado enquanto tentava fazer panquecas.Resultado: um alarme de incêndio disparando às sete da manhã, Bruce latindo desesperado, Conde de Meow arranhando as paredes e Valentina correndo pela cozinha de camisola, rindo tanto que mal conseguia respirar.— Bem-vinda à vida de casada! — Rafael disse, abrindo os braços no meio da fumaça.Ela só respondeu jogando uma almofada nele.Apesar das trapalhadas (ou talvez por causa delas), os dois estavam mais felizes do que nunca.A loja prosperava como

Dois anos depois…Valentina estava sentada no chão da nova loja — agora uma rede com três unidades que funcionavam com mais amor do que logística —, com um copo de café frio na mão e Bruce deitado sobre seus pés, roncando como um trator velho. O cachorro, que antes era puro músculo e energia, agora carregava algumas dobrinhas extras e continuava achando, teimosamente, que cabia no colo de qualquer um.Conde de Meow, claro, tinha sumido. Provavelmente em cima de uma pilha de moletons recém-chegados, ocupando seu posto como rei não-oficial da loja, dormindo como se pagasse aluguel ali.Valentina olhou para o relógio pela terceira vez em cinco minutos. Rafael estava atrasado. De novo.— Se ele aparecer com outro plano mirabolante, juro que jogo esse café frio na cara dele — murmurou, encarando o líquido esquecido no copo. — Ou pelo menos derramo sem querer em cima do tênis branco novo.Mas, no fundo, ela sabia que não faria nada disso. No máximo, daria uma bronca sorrindo e acabaria rind