O convite chegou de forma discreta, mas carregado de significado. Um envelope branco, simples, repousava sobre a mesa de Isabela com seu nome caligrafado à mão. Ela o abriu com certa hesitação, encontrando dentro um cartão elegante com os dizeres: “Convidamos você para o Coquetel de Encerramento do Trimestre – Constellation Group. Local: Terraço Vista Norte. Traje: esporte fino. Esperamos por você.” Na parte inferior, escrito à mão com uma caneta preta de tinta densa, havia uma mensagem curta: “Seria ótimo dividir um momento mais leve com você. – R.” Isabela ficou alguns segundos imóvel, encarando a caligrafia. Sabia que o “R.” era Rafael. Não havia dúvida. Seu coração acelerou imperceptivelmente, mas manteve a compostura. Um coquetel executivo. Claro. Networking, celebração trimestral… e talvez, uma linha tênue entre o profissional e o pessoal que começava a se firmar em silêncio. Ela passou o restante da tarde com a mente dividida entre a planilha de metas do projeto e a dúvida

A manhã começou com um burburinho incomum nos corredores da Constellation. As pessoas cochichavam em duplas e trios perto do refeitório, na área de convivência e até mesmo na sala de café do 12º andar. Isabela percebeu os olhares direcionados a ela com uma curiosidade ainda mais explícita do que de costume. Mas, naquele momento, sua atenção estava voltada para uma reunião importante — uma apresentação conjunta entre os departamentos de Comunicação e Marketing. Ao chegar à sala de reuniões, viu Carla posicionada na cabeceira oposta da mesa, já com o notebook aberto. O CTO estava presente, assim como a diretora de RH, Rafael e mais dois gerentes. Isabela, como responsável pela parte visual e narrativa do projeto, sentou-se à esquerda de Rafael. A pauta era clara: alinhar o escopo final da nova campanha de valorização interna — a mesma para a qual Isabela havia criado o protótipo original e Carla desenvolvera a estratégia de mídia. A reunião seguiu por quase vinte minutos de forma tra

O e-mail chegou às 9h12 da manhã, com a frieza de uma cobrança formal e o tom inconfundível de Henrique: *Prezada Isabela, Diante da crescente visibilidade do projeto “Constellation por Dentro” e dos recursos recentemente alocados, solicito, com urgência, o envio detalhado do orçamento utilizado, bem como as fontes de verba e justificativas de alocação por item. A transparência é fundamental. Att., Henrique Maia* Diretor de Operações Internas Isabela leu a mensagem três vezes antes de respirar fundo. Já não se surpreendia com as tentativas de minar sua credibilidade — Henrique vinha demonstrando desconforto desde os primeiros sinais de que seu trabalho estava ganhando notoriedade. Mas, ainda assim, aquela cobrança em tom de auditoria a incomodou. Era desnecessária. E, mais do que isso, sinalizava uma tentativa de expô-la. Rafael não a havia alertado de nenhuma investigação oficial. A comunicação vinha diretamente de Henrique — sem cópia para ninguém. Um movimento isolado, mas c

A sala estava em silêncio absoluto, exceto pelo zumbido leve do ar-condicionado e o clique ritmado do teclado de Isabela. Passava das 22h. A maioria dos andares da Constellation já estava escura, mas a luz da sala de projetos permanecia acesa como um farol de resistência. Isabela ajeitou os ombros e revisou pela terceira vez a nova versão do material visual. As alterações sugeridas por Carla — e aprovadas pela diretoria — haviam exigido não só uma mudança no design, mas uma reestruturação de fluxos de comunicação que ela havia planejado cuidadosamente nas semanas anteriores. Ela não reclamou. Nem em voz alta, nem em pensamentos. Ao contrário, encarou o desafio como uma chance de demonstrar solidez. Sabia que, em ambientes corporativos, nem sempre vencia quem gritava mais alto — mas sim quem permanecia firme quando os ventos mudavam de direção. Ao seu lado, uma caneca de chá morno. Sobre a mesa, folhas rabiscadas, o tablet com marcações de revisão e um fone de ouvido desligado — e

O apartamento de Rafael era iluminado por luzes baixas e discretas, que contrastavam com a grandiosidade do edifício. Do lado de fora, a cidade fervilhava com seus ruídos noturnos, buzinas espaçadas, vozes perdidas na calçada. Mas ali dentro, havia uma bolha de silêncio confortável. Isabela sentou-se à mesa de madeira clara, observando os detalhes ao redor. O ambiente não era exatamente o que ela imaginava para um CEO. Sem ostentação, sem quadros assinados nem esculturas de gosto duvidoso. Apenas estantes de livros, uma cafeteira italiana no canto da bancada e dois copos de vinho tinto já servidos. Ele surgiu da cozinha carregando uma travessa simples de massa fresca com molho de cogumelos. — Não sei cozinhar muita coisa, mas isso eu aprendi com minha avó. Prometo que é honesto. Ela sorriu, cruzando os braços na mesa. — Se for tão bom quanto seu talento para aprovar planilhas, já fico satisfeita. — Olha… não sei se isso foi um elogio. — Foi sim. E meio flerte também. — Ela pisc