— Tenho. — respondeu ela, o tom decidido, apesar do medo que tremia na voz. — Por eles. — colocou a mão na barriga outra vez. — E por todos que ainda podem ter uma vida diferente.Por um instante, os dois apenas se olharam, como se compartilhassem todo o peso do que estavam prestes a fazer. Aquilo era abominável, afinal, estavam planejando trair o alfa. Mas a deusa entenderia, certo? Aquilo era o melhor para todas alcateia, e não havia como castigá-los mais.Então Tommy quebrou o silêncio.— Eu vou avisar apenas aos que achar de confiança, apesar de duvidar que exista algum lobo nessa alcateia que não esteja pronto para se ajoelhar para Kael apenas por medo da morte. Camilla assentiu.— Eu vou falar com algumas lobas. — disse. — As que perderam filhos por causa das ordens dele, as que me protegem, elas podem se unir a nós, são de confiança e vão ajudar quando a hora chegar.Tommy respirou fundo, o olhar endurecido.— Dois dias, Camilla. — repetiu, quase como um voto solene. — Em dois

O sol mal havia nascido e a alcateia Lua Sangrenta já estava reunida diante da grande porta de madeira escura que marcava a entrada da mansão. O ar da manhã estava frio, trazendo o cheiro da terra molhada da noite anterior. Os lobos reunidos murmuravam entre si, olhos atentos, cheios de expectativa e também de medo.River estava parado alguns degraus acima, alto e firme, usando uma camisa preta simples e calças igualmente escuras. Ao lado dele, Lyra vestia uma blusa clara que deixava parte do pescoço à mostra, onde em breve receberia a marca, e Solomon mantinha o olhar sério, como sempre.O alfa levantou a mão, chamando a atenção de todos, e as conversas cessaram.— Irmãos e irmãs — começou River, a voz firme ecoando pelo pátio. — Hoje partimos para ajustar contas antigas. Vamos até a Ventos Sombrios acabar com aqueles que ousaram desrespeitar as leis da deusa da lua. Eles machucaram nossa luna, maltrataram ômegas e ignoraram todas as regras que mantêm a ordem entre nós, se curvaram p

Correram a noite inteira.Os galhos arranhavam a pelagem, as patas afundavam no chão úmido e o cheiro de terra molhada preenchia o ar. Lyra, Solomon e River seguiam lado a lado, as respirações fortes e compassadas ecoando pela floresta. A lua cheia brilhava lá no alto, testemunha silenciosa da fúria contida que os movia.Os renegados, aqueles lobos que não pertenciam a nenhuma alcateia, se escondiam pelas sombras, mas ao perceberem quem passava, abriam caminho em respeito, ou por medo, afinal, mesmo ali na terra de ninguém, a força do alfa supremo ainda era conhecida. Ninguém ousava impedir o avanço do alfa supremo e de sua futura luna.Quando o sol começou a nascer, tingindo o céu de tons de laranja e dourado, River diminuiu a corrida, dando sinal para que parassem. Lyra arfava, o peito subindo e descendo rápido, e Solomon, mesmo sendo um guerreiro veterano, também respirava pesado. O caminho era longo, a essa altura já haviam passado pelo território dos caçadores, então poderiam des

Alguns minutos antes Kael andava de um lado para o outro no grande salão da mansão, os passos pesados ecoando pelo mármore. O rosto pálido estava tomado por veias azuladas, a pele quase cinzenta e os olhos vermelhos de fúria. Havia tão poucos guerreiros... apenas um punhado de homens que se encolhiam sob o peso da própria respiração.— Covardes! — rosnou ele, a saliva voando da boca. — Vocês não são nada! Nada! Acham que podem me abandonar agora? Vão me deixar lutar sozinho e se esconder como ratos nojentos?Um dos soldados, um lobo jovem de rosto cansado, tentou se explicar:— Alfa... somos poucos... isso é suicídio...Antes que terminasse a frase, Kael avançou e deu-lhe um tapa tão forte que o rapaz caiu de joelhos, o rosto virando de lado, os olhos arregalados pelo choque e medo.— Cale essa boca! — gritou o alfa, cuspindo as palavras. — Se quiser viver, vai lutar! Todos vocês! Até o último maldito lobo dessa alcateia!Tommy, parado mais atrás, observava em silêncio. Seus olhos pa

A terra estremeceu sob o peso dos passos de River.Ele entrou primeiro, enorme, a pelagem negra brilhando sob o luar e os olhos vermelhos como brasas vivas. Rosnou tão alto que o som pareceu cortar o ar, e então uivou, um uivo profundo, monstruoso, que fez até as árvores tremerem.Os lobos da Ventos Sombrios, reunidos no pátio, foram tomados por um medo tão intenso que sentiram o sangue nas veias gelar e os joelhos cederem. Um a um, foram se ajoelhando, o rosto encostando no chão, a respiração presa, os corações batendo apavorados diante da presença do Alfa Supremo.Logo atrás, surgiu o lobo ruivo, a pelagem densa e os olhos atentos, o corpo tenso pronto para a luta. E, quase ao mesmo tempo, uma loba de pelos prateados, o porte elegante e os olhos brilhando com algo que misturava dor, coragem e determinação.Kael, parado entre os soldados, reconheceu o cheiro dela antes mesmo de ver sua forma. Por um instante, o mundo pareceu parar, o sangue esquentou nas veias, e ele esqueceu até de r