Capítulo 51 CaioCom muito custo, consegui falar com José, o único homem próximo a Miguel em quem ainda confio.Ele me disse que Miguel e alguns capangas estavam fazendo uma cobrança, e que ele estava no carro, mas iria até o local para ver o que estava acontecendo.Esperei impaciente, mas alguns instantes depois, ele enviou apenas uma mensagem curta:"A cobrança foi feita, mas sem nenhuma intercorrência."Entendi que ele não podia ligar, e que nada além do que devia ter acontecido aconteceu, o que indica que Ágata deve estar bem.Assim que voltei para a sala, vi Milena ao telefone, e Ayla a observava nervosa. Ela se despediu e se jogou no sofá.— Está tudo bem. Ele simplesmente deixou um contato com ela e saiu...— Como assim? Me explica direito o que está acontecendo. Esse Miguel é irmão do Caio, matou alguém e depois saiu como se nada tivesse acontecido?Respirei fundo e me aproximei. Essa maldita vida que tanto tentei afastar volta à tona para me destruir, como sempre.— Ayla, eu

Capítulo 53Miguel FonsecaJá se passaram dias e aquela garota ainda não me procurou.Estou atolado de trabalho, lidando com reuniões, cobranças e à espreita do nascimento dos filhos do Caio... mas o maldito rosto dela não sai da minha cabeça.Posso ter qualquer mulher. Posso escolher, usar, mandar embora.Mas nenhuma delas apaga a imagem dela.Aquela expressão assustada, os olhos enormes, o azul turvo e doce como o céu antes da tempestade...Que porra tá acontecendo comigo?Ela não me provocou, não sorriu pra mim, não se ofereceu, e ainda assim, está cravada em mim como uma tatuagem.Tem algo naquele olhar. Algo quebrado. Algo que grita socorro em silêncio.E o pior? Isso me cativou.— Don! DON!— Que caralho é?! — rosnei, irritado.— Tem uma cobrança pendente... naquele café da viela. Estão se recusando a pagar a taxa de proteção.— No café? — perguntei, com um sorriso enviesado. Era quase música para os meus ouvidos.— Podemos agir?— Não. Eu vou. Deixa comigo.— Quantos homens dev

Capítulo 55ÁgataNão sei exatamente quando essa loucura começou dentro de mim…Se foi no instante em que ele atravessou a rua, me encarando como se enxergasse muito além do meu rosto apavorado.Ou talvez no momento em que suas mãos, frias e firmes, me tocaram com uma delicadeza que eu jamais imaginaria de alguém que acaba de matar outra pessoa na minha frente.Miguel Fonseca.O nome por si só já devia ser um alerta.E pelo que Milena me explicou sobre ele, ele é o tipo de homem que carrega o perigo nos ombros como quem carrega um simples paletó.O tipo que comanda sem precisar falar. Que ameaça sem mover um músculo.Com uma única ordem, ele é capaz de acabar com a vida de alguém. E ninguém ousaria desobedecer.Mas… por algum motivo que eu juro, não consigo entender, quando ele está por perto, eu não sinto medo.Eu sinto paz. Me sinto segura.Como não me sentia há muitos anos.E isso… isso me assusta ainda mais diante de tudo o que já vivi.Como alguém que passou anos em um cativeiro,

Capítulo 57MilenaOs dias e as noites são longos. Cuidar de gêmeos não é nada fácil. Mas esse nem é o maior dilema. O verdadeiro peso, a nuvem escura pairando sobre nós, é o medo de que Miguel apareça… e leve tudo o que temos de mais precioso.É o elefante na sala. Algo que evitamos comentar, mas que está ali, na mente de nós três, mesmo que ninguém ouse falar.Qualquer carro diferente, qualquer barulho mais alto, qualquer coisa fora do costume nos deixa em alerta total. Isso tem sido extremamente difícil. Hoje faz um mês que os gêmeos nasceram. Fiquei sabendo que estão prestes a encerrar o caso do assassinato do João por falta de provas, e isso me traz um certo alívio. Mesmo com a quase certeza de que foi alguém que eu amo... ele mereceu. Saber quem fez não vai mudar o fato de que ainda foi pouco, diante de todo o mal que causou, não só a mim, mas principalmente à Ágata.Ela tem avisado que logo vem nos ver, mas anda estranha, distante... Talvez a nova vida esteja sendo pesada. Mas

Capítulo 59Miguel FonsecaLogo que chegamos na casa, começou a chover forte.O tipo de chuva que inunda, que transforma estrada em rio, que silencia o mundo lá fora e te obriga a encarar o que está dentro.Os bebês dormiam em um quarto dos fundos da grande casa empoeirada que arrumei para ficarmos, vigiados de perto pelas mulheres que não tiravam as mãos das armas. Mas não havia mais motivo para ameaça. Eu já tinha cedido. Já tinha prometido devolver as crianças. Por ela.Ágata estava sentada diante da lareira, a luz do fogo dançando em seu rosto. Estava encharcada pela chuva que tomamos ao sair do carro, mas sem vontade de se secar. Como se o desconforto físico fosse menor que o caos em sua mente.— A estrada está completamente bloqueada — falei, depois de desligar o celular. — Nada de helicóptero, nada de carro. Teremos que esperar a chuva passar.Ela apenas assentiu, sem olhar pra mim.Sentei ao lado, a uma curta distância.— Você me odeia agora?Ela demorou para responder. Quando