Capítulo 59
Miguel Fonseca
Logo que chegamos na casa, começou a chover forte.
O tipo de chuva que inunda, que transforma estrada em rio, que silencia o mundo lá fora e te obriga a encarar o que está dentro.
Os bebês dormiam em um quarto dos fundos da grande casa empoeirada que arrumei para ficarmos, vigiados de perto pelas mulheres que não tiravam as mãos das armas. Mas não havia mais motivo para ameaça. Eu já tinha cedido. Já tinha prometido devolver as crianças. Por ela.
Ágata estava sentada diante da lareira, a luz do fogo dançando em seu rosto. Estava encharcada pela chuva que tomamos ao sair do carro, mas sem vontade de se secar. Como se o desconforto físico fosse menor que o caos em sua mente.
— A estrada está completamente bloqueada — falei, depois de desligar o celular. — Nada de helicóptero, nada de carro. Teremos que esperar a chuva passar.
Ela apenas assentiu, sem olhar pra mim.
Sentei ao lado, a uma curta distância.
— Você me odeia agora?
Ela demorou para responder. Quando