Narrado por MelissaO sol ainda não tinha nascido completamente, mas a luz fraca que atravessava a fresta da cortina já desenhava o contorno do Bruno no lençol. A cabeça dele repousava no travesseiro, os cabelos bagunçados, a respiração firme, pesada. Ele dormia, finalmente. Pela primeira vez desde que voltou pra casa, depois de tudo, depois da facada, depois do inferno do presídio.Eu tava deitada em cima dele, com a orelha encostada no seu peito, ouvindo as batidas do seu coração como se fosse a melodia mais bonita que já escutei. O calor do corpo dele me envolvia, e eu me sentia... em casa. Ali, naquele instante, era como se o mundo lá fora não existisse. Como se as balas, as ameaças, os muros da prisão, tudo isso tivesse ficado num universo paralelo. Aqui, no nosso quarto, era só eu e ele. E mesmo assim, mesmo com a paz temporária, a minha mente não conseguia silenciar completamente.Os olhos começaram a marejar quando lembrei do resultado do exame. Eu tinha feito há poucos dias,

Narrado por MelissaA festa estava pegando fogo, e eu, ali no meio, sentia meu corpo vibrar com a energia das pessoas ao redor. Mas o que realmente importava para mim naquele momento não era o som da música ou as gargalhadas ecoando pelo ambiente. O que me preenchia de uma forma única era o olhar de Bruno. Ele estava ali, do meu lado, com aquele sorriso que me dava paz e ao mesmo tempo me fazia perder a noção de tudo ao redor. Eu sabia que, com ele, não havia mais espaço para dúvidas ou inseguranças. O nosso amor não era apenas sobre paixão, mas sobre confiança, respeito e, acima de tudo, proteção.O casamento tinha sido simples, mas perfeito. Nada de luxos ou exageros. A cerimônia foi breve, sem grandes formalidades. Mas, em nossos corações, ela carregava um peso imenso. Era a nossa forma de dizer ao mundo que, apesar de tudo o que passamos, nós nos pertencíamos de uma maneira que nada e ninguém poderia quebrar. Eu, finalmente, estava casada com Bruno, o homem que me tirou da minha v

Narrado por EnzoEu fui forjado na dor, mas não do tipo que se sente na pele. Eu não vi meu pai matar a minha mãe — mas soube. Cresci com isso entalado na garganta, uma verdade que todo mundo preferia varrer pra debaixo do tapete, inclusive eu. A Mariana fez o possível pra preencher o vazio. Ela nunca foi minha mãe, mas tentou. Com carinho, com firmeza, com presença. Ela se manteve ali. E mesmo ouvindo cochichos pelas vielas do Morro dizendo que minha mãe morreu por culpa dela, eu nunca a culpei. Nunca me permite ter a cabeça virada ao avesso por algo que não mudaria, já havia acontecido e nunca seria desfeito. Clarisse nasceu pouco depois que eu conheci a Mariana, e foi como se o sol tivesse resolvido morar com a gente. Desde pequena, aquela menina tinha uma luz que nem a miséria apagava. Eu era um moleque frio, fechado, mas a Clarisse me fazia rir. Me fazia sentir. Ainda faz. Meu mundo gira em torno dela, e talvez seja por isso que eu tenha tanto ciúmes... dela e da melhor amiga de

CAPÍTULO 47Eu não conseguia parar de andar de um lado para o outro no quarto. O lençol amassado ainda guardava vestígios da noite anterior, e meu corpo, embora já vestido, ainda tremia com as lembranças. Enzo. O filho dos meus padrinhos, meu proibido, meu... tudo. Meus dedos tremiam enquanto tocavam a cortina da janela entreaberta, tentando buscar alguma paz no horizonte de Porto de Galinhas. Mas não havia paz. Só o caos pulsando dentro de mim.Clarisse estava sentada na cama, me observando como quem assiste a uma tragédia em câmera lenta. Ela não dizia nada, o que me deixava ainda mais nervosa.— Clarisse... — comecei, hesitante. — Eu preciso te contar uma coisa.Ela ergueu as sobrancelhas, como se dissesse "finalmente".— Eu já sei, Maya.Meus olhos se arregalaram.— Como assim?Ela sorriu de canto, e se levantou devagar, caminhando até mim.— Você acha mesmo que eu não percebi? Desde o momento em que vocês dois começaram a se olhar como se fossem as únicas pessoas no mundo... eu s