* Dayse entrou em casa sem acender as luzes. A penumbra da sala a envolvia com um calor estranho, mais humano do que a luz fria e indiferente do restaurante onde passara quase duas horas esperando por Enzo. Largou a bolsa no sofá, tirou os sapatos e deixou o corpo afundar na poltrona, como se quisesse desaparecer entre as almofadas.Ela não chorou. Talvez fosse pior assim — esse vazio seco e oco no peito, um latejar surdo que reverberava por dentro, consumindo cada pedaço de esperança que ainda restava.— “Ele não mandou uma única mensagem. Nem um aviso. Nem uma desculpa.” — a revolta crescia como uma chama que queimava silenciosamente, mas implacável.E, quando finalmente apareceu, com aquela cara de pau, a camisa manchada de batom como um insulto escancarado à sua dignidade, ela sentiu o mundo desmoronar.No fundo, muito no fundo, ela já sabia. Desde o primeiro minuto de atraso, sem uma palavra sequer, o estalo dentro dela já havia acontecido. A certeza amarga de que algo estava irr

"Você só me subestima até o dia em que eu escolho mostrar quem realmente sou." — Clarice LispectorO elevador social da sede da Lancaster Holdings se abriu, revelando um silêncio reverente que parecia suspenso no ar.Dayse deu o primeiro passo, os olhos fixos à frente, como se cada movimento fosse calculado para transmitir uma mensagem clara: ela estava no comando. O blazer branco, minimalista e estruturado, contrastava com o batom escarlate que destacava seus lábios firmes e os cabelos perfeitamente presos em um coque baixo. Elegância e domínio em cada centímetro do seu corpo.Os funcionários pararam por um instante, como se o tempo desacelerasse. Sussurros abafados percorriam os corredores, mas ninguém ousava quebrar o silêncio.Ela não estava ali para agradar — estava ali para comandar.Ela não vinha mais como consultora, como supervisora externa ou voz por trás das cortinas. Agora, ela voltava como: A presidente.A mulher que, até poucos dias atrás, dividia noites e olhares com E

“Ele dizia que não lembrava…, mas seus olhos me procuravam no escuro. Seus dedos reconheciam meu corpo como um templo esquecido. E sua boca, mesmo sem memória, ainda sabia o caminho de volta.” — Diário de D.🎵 Trilha sonora sugerida: "Wicked Game" – Ursine Vulpine feat. Annaca* Enzo acordou antes que o sol tivesse despontado no horizonte, ainda sentindo o calor do corpo de Dayse, que estava entrelaçado ao seu. A penumbra do quarto os envolvia em um manto silencioso, abafando os primeiros sons da cidade que ia despertando.Ele ficou ali, observando-a dormir em silêncio. Os cabelos dela caíam suavemente sobre o travesseiro, e sua expressão tranquila parecia quase contraditória à força que emanava dela quando estava acordada.Havia algo intrigante nela que conseguia desorientá-lo por completo.Dayse Lancaster. A presidente imponente de um império que surgia abalando os alicerces de empresas arcaicas, que resistiam a nova ordem tecnológica mundial. Dona de um discurso direto e de um

Explorar o passado é algo que quase não dá para evitar, mas é no presente que eles precisam decidir o que realmente querem construir. Entre descobertas, emoções e escolhas difíceis, Enzo e Dayse se entregam a uma semana que pode mudar tudo — ou talvez nada.Na manhã seguinte, Enzo acordou antes dela e decidiu explorar o apartamento. Não por curiosidade invasiva, mas por uma necessidade inexplicável de entender melhor quem era aquela mulher que conseguia desarmá-lo completamente.Na estante da sala, ele encontrou algumas fotos. Dayse em formaturas, em viagens, em momentos que pareciam casuais, mas que, na verdade, tinham sido escolhidos com cuidado. Em nenhuma delas havia crianças, marido ou família. Era como se a vida dela tivesse começado do zero em algum momento.Havia livros sobre tecnologia e empreendedorismo, além de romances e poesia. Um exemplar de "O Pequeno Príncipe" chamou sua atenção. Ele abriu o livro e percebeu uma dedicatória na primeira página:“Para que você nunca esqu

A mansão Bellucci estava envolta em um silêncio sepulcral naquela manhã. Victoria ainda estava alerta. O sono se tornara um luxo impossível. Dentro de sua mente, o nome Dayse Lancaster pulsava como um alarme teimoso — insistente, corrosivo, quase tóxico. Ela não entendia por que, mas sabia: aquela mulher representava uma ameaça. E a simples lembrança de sua existência a fazia ferver por dentro.Ela passou a noite toda acordada, pensando nas suas suspeitas. Ela só tinha visto aquela CEO uma única vez, no evento do Prêmio Visão Sustentável, aquele em que a Bellucci Corporation sempre recebia homenagem, mas que, daquela vez, foi a Lancaster Holdings quem levou o prêmio.Victoria se sentou diante do computador e digitou “Dayse Lancaster” no motor de busca. Logo apareceram várias imagens. Lá estava ela: linda, forte e poderosa. CEO de uma das empresas mais promissoras do mercado. Victoria prendeu a respiração e começou a olhar as fotos com atenção detalhada: imagens, notícias, entrevistas.