"Ravenna"Um pátio amplo nos recebeu, cercado de muralhas com limo grudado nas pedras escuras. Cassius nos guiou para o interior, enquanto os vampiros que nos acompanharam ficaram silenciosamente para trás. Não vimos mais ninguém por ali. O hall era gelado, com luminárias acesas espalhando um tom dourado nas paredes cinzentas. Uma lareira antiga, apagada, dava as boas-vindas, assim como um tapete que parecia ter séculos de existência e seguia pelo longo corredor.Impressionei-me, mesmo sem querer. As alas se abriam em um amplo salão muito bem decorado, como algum palácio real. Cheiro de madeira, de antiguidade, nossos passos ecoando das largas pedras polidas do chão. Corredores se estendiam para todos os lados, com portas ou lugares sombrios. Janelas estavam fechadas, mas, mesmo assim, um vento arrepiante vinha dos cantos. Cassius foi para a direita e abriu uma das portas. Então, paramos diante de uma nova sala, tão antiga quanto todo o resto. Mas não estava vazia.Quatro vampiros est

"Cassius" — Você ainda não me perguntou, Cassius.Sua voz saiu baixa, quase rouca, pelos lábios entreabertos. Ouvir meu nome em seus lábios era torturante. O desejo fez meus batimentos ganharem força, desordenando meu controle. Era um poder que ela tinha, irritante demais.— O quê?— Por que aceitei o convite e estou aqui.O ar espocou com a energia viva. Meu corpo todo ligado, os sentidos despertos.Apreciei-a sob meu teto, com a cama grande atrás. Exatamente no lugar onde precisávamos estar. Sua expressão contida, mas seus olhos ardendo, seus instintos me chamando.Eu me aproximei devagar, querendo ver mais dela. Os cabelos soltos, a pele nua. O seu cheiro sendo esfregado em meu nariz. Sentir seu sangue latejar na ponta da minha língua e se derramar em minha boca quando eu a mordesse. E penetrasse até

"Ravenna" Eu queria saber muito mais, só que Elara se calou, dando de ombros para o restante das perguntas e se apressando. Chegamos ao hall de entrada e de lá fomos para outra ala. Na hora vi a diferença.Era mais clara e quente. Algum tipo de aquecimento ligado, pois as lareiras eram apenas enfeites. Cheiro de perfume, de comida, de gente.Absorvi as informações que meus sentidos captavam, até chegarmos à cozinha. Cinco pessoas estavam lá: duas cozinhando e três sentadas à uma grande mesa, comendo. Todos se paralisaram ao me ver.Eram como Elara, mais simples, sem a altura ou a elegância dos puros. Imaginei que alguns deviam ter mais sangue de vampiro, outros menos. E fiquei feliz por não ver sangue nos pratos deles, mas comida de verdade. Minha boca se encheu de água e adentrei, cumprimentando-os.— Como vão?

"Cassius" Terminei de subir até a torre. Troquei a roupa por uma calça de pijama preta, acompanhada de um robe pesado da mesma cor. Saciado, porém incomodado. O corpo ainda preparado.Saí para a varanda mais alta daquela ala, recebendo o vento forte e gelado que em nada afetava minha temperatura corporal. A paisagem sombria abaixo, com os contornos das árvores e montanhas escuras, não trouxe o relaxamento habitual.Desci meu olhar pelas varandas, até a que ficava mais à direita. Não pensei muito, levado pela ligeira raiva que me espezinhava. Não era necessário que eu me perturbasse sozinho.Facilmente passei meu corpo para fora, em um pulo. Caí, o robe voando para o alto e deixando o vento bater direto em meu peito nu. Arremessei-me na varanda logo abaixo e pulei para a seguinte, em ziguezague, até alcançar a da su&iacu

"Ravenna"O cômodo estava movimentado, bem mais que na noite anterior. Panelas grandes em um fogão largo, louça sendo lavada, comida preparada. Conversas aconteciam, mas silenciaram assim que eu entrei e os cumprimentei. Na mesma hora, se retraíram, tensos, olhares desconfiados na minha direção.Podiam ser miscigenados com outras espécies, mas tinham como determinante a polidez fria dos vampiros. E talvez me temessem mais do que eu imaginava.Uma senhora me indicou a mesa farta, dizendo que eu poderia me servir, se queria algo a mais. Agi como eles, sem insistir em conversa, fazendo o primordial naquele momento: comer. Enquanto me deliciava com os pães recém-saídos do forno, com manteiga e geleia caseira derretendo, eu apenas os observava. Sentia vontade de fazer um monte de perguntas, mas nem perdi meu tempo. Eles não colaborariam muito.O café fumegava, e acabei abusando de tanta coisa boa. Não chegava aos pés do que Amapola cozinhava na nossa casa quando eu era menor, nem do que Ner