AlexandreMeu celular vibrou brevemente no meu bolso, mas antes de emitir o primeiro toque eu já o tinha em mãos. Atendi de imediato, pois sabia que a Jaqueline me ligaria. Do outro lado a voz dela veio suave carregada de uma emoção contida. Fechei os olhos e a imagem da Jaqueline com o vestido invadiu minha mente. Eu havia escolhido pessoalmente. Quando vi a cor vinho me recordei imediatamente dos lábios dela tingido com um batom do mesmo tom. Lábios que me enlouqueciam.Os dois últimos dias tinham sido uma verdadeira tortura doce. Apesar da agenda cheia de reuniões e compromissos, minha cabeça não saía dela. Ela estava mexendo comigo mais do que deveria. Os olhares trocados entre nós dentro da empresa não deixava espaço para dúvidas. Havia faíscas, desejo bruto, quase adolescente. Um jogo silencioso de provocações.O CEO ético e sempre exemplar, se via jogando todas as regras pela janela. Eu procurei desculpas para ir até onde ela estava. Tocá-la, senti-lá. Beijar sua boca às escond

JaquelinePermaneci de pé ao lado do Alexandre, tentando manter a postura, mas um leve tremor nas pernas me denunciava. O grupo de arquitetos conversavam com uma empolgação contida entre si. Mas os olhos quase arregalados do Talles continuavam sobre mim. Era como se ele tentasse assimilar o absurdo de me ver ali tão perto, sendo apresentada como a assistente do CEO do Grupo Ridell. Ele me encarava com surpresa e desorientação. Eu seguia cumprimentando a todos com aperto de mão tentando não deixar transparecer o turbilhão que se agitava dentro de mim.Alexandre com sua postura firme e segura de sempre, seguia alheio ao meu lado, cumprimentando um a um com cordialidade e autoridade. Andrei sempre atento a cada detalhe fez questão de enaltecer o time.– Aqui estão os meus melhores arquitetos paisagistas. Com eles, não tenho dúvidas de que o novo empreendimento será um sucesso absoluto.Com um leve sorriso, acrescentou:– E este é Talles Alves Sodré, um dos melhores. É um profissional bri

AlexandreDesde o momento em que coloquei os pés na galeria, senti um incômodo roçar a minha pele como um aviso silencioso. Logo de cara não gostei da forma que o Andrei olhava para a Jaqueline. Um olhar que demorou segundos demais, carregado de um interesse que ia além da simples formalidade empresarial. A forma como ele segurou a sua mão me desagradou. Meus olhos se estreitaram num reflexo involuntário. O desconforto subia no meu peito. Aquela expressão do Varnier, eu conhecia muito bem. Era insistente, de quem via uma oportunidade e queria tomá-la para si. Andrei me recebeu com entusiasmo, mas mal terminou os cumprimentos e já empurrou a filha para o centro da apresentação. Vitória, uma jovem bonita, claramente instruída para impressionar, mas empolgada demais, falante demais. Não parava um segundo.– Alexandre, venha, quero te mostrar minhas telas preferidas… Dizia Vitória, já me puxando pelo braço antes mesmo que eu pudesse me desvencilhar das mãos dela.Me arrastava entre as ob

JaquelinePermaneci de pé diante das janelas de vidro, observando a cidade que nunca dormia. As luzes piscavam lá embaixo, os carros cortando as avenidas, os prédios altos refletindo a vida de tantas pessoas, mas naquele instante, tudo parecia distante.Eu precisava reunir forças.Meu reflexo no vidro refletia uma mulher com ombros tensos e olhos marejados. Não era a mesma que enfrentava o mundo profissional com segurança. Ali eu vi a Jaqueline de antes, que acreditava em promessas vazias. A que engoliu humilhações em silêncio, enquanto fingia estar tudo bem.Atrás de mim, Alexandre me observava pacientemente, o que me fazia respirar com mais dificuldade. Meu coração pulsava como um tambor abafado. Meus olhos lutavam contra a vergonha que insistia em escorrer em forma de lágrimas contidas.Eu sentia vergonha por ter acreditado. Vergonha por ter me entregado. Por ter ignorado os sinais aceitando migalhas como se fossem amor. Contar tudo para o Alexandre doía. Alexandre é um homem forte

EstevãoA noite caía com lentidão e parecia pesar sobre os meus ombros. Fiquei parado, praticamente imóvel entre as sombras do jardim da casa em frente, escondido entre arbustos bem cuidados e o muro baixo coberto de trepadeiras. Me sentia um idiota. Ridículo. Mas não conseguia ir embora. Eu não conseguia simplesmente aceitar.Do outro lado da rua, as luzes da casa da Helena estavam acesas, e o som abafado da conversa familiar escapava pelas frestas da janela. Dentro a Malu se preparava, eu sabia disso. Cada minuto que passava me deixava mais inquieto, mais consumido. As palavras dela ainda ecoavam na minha mente, como navalhas: “Por mais que me doa, eu entendo os seus motivos e não vou mais insistir.”Apertei os punhos com força, mas não havia nada que eu pudesse fazer. Não podia impedi-lá de ir àquela maldita festa. Não podia protegê-lá ou sequer estar perto. O simples pensamento de vê-la nos braços de outro homem… Imaginar outro rosto colado ao dela, outros lábios nos seus, outro t