— Helena nunca foi boa sozinha. Seus demônios internos a aterrorizam e têm muito poder sobre ela. - Gregory afirmava, categórico. - Eu tentei mantê-los em silêncio, mas, enfim... - Gregory expirou, pesadamente. - É, fui um imbecil. Eu a aprisionei, a mantinha dopada com antidepressivos e calmantes, para que pudesse descansar. Ela nunca se recuperou bem do estupr# e da violência a qual foi exposta, ainda mais, depois que perdeu os ovários. - Ele se abria.— Ela é esterectomizada? - Rafael acessava informações novas.— Não. Além disso. Sofreu um acidente em Laredo. Perdeu o filho no ventre. Eli, era o nome que o menino receberia. - Gregory apoiou a cerveja na mesa, encarando a garrafa. - No acidente morreram o bebê, arrancado do ventre dela por uma barra de aço e o então marido, meu amigo, Hebert. - Ele disse, entristecido. - Ela se fechou por muito tempo depois disso, mas sempre falava em tirar óvulos para o dia que pudesse ter paz, ser mãe e coisas assim. Antes de toda essa confusão,

Tudo que cercava Helena implicava extrema violência e pesadas habilidades de combate, estratégia, tática e capacidade de resolver problemas e traçar planos, arriscados, minimizando riscos, perdas e danos. Helena era uma combatente fenomenal, explicava o sofrimento para manter as atividades da fronteira incólumes, tarefa que ficou muito mais simples depois que ela foi retirada para a reserva. Gregory e Dario liam as cartas. A quarta carta era uma sequẽncia de códigos que, como Gregory previu, se tratava da matriz que havia entre eles, um algo que jamais tinham usado, mas haviam construído juntos, como medida de inteligência em território inimigo, em caso de perda da comunicação e exposição a canais de contato não seguros. Ele, com uma folha em branco, começava a decodificar aquilo, manualmente. Rafael parecia chocado e Dario se aprofundava na situação dela, ainda que tivesse bastante conhecimento. Uma mesagem surgia dos códigos. "Olá, Gregory." Aquela mensagem era remetida exclusivame

— É certo que sempre um de nós precisa estar perto... - Rafael disse. - Perto mesmo. Na sombra dela. — Bom, sim. - Dario concordava. - Tem a questão dos negócios. Não dá pra atender Helena sem bons rendimentos. — Se engana. - Rafael disse. - Ela é dada à vida simples e gosta de lugares amplos e iluminados. — Fato. - Dario associava a nova percepção à única viagem que viveram juntos. - Suíça. - Ele disse, aparentemente, aleatório.— Desculpe. - Gregory se confundia.— Tenho uma noção do que a agrada, de verdade. - Dario resgatava os detalhes em sua mente. — Suíça. - Gregory repetiu, aleatório. - Ela tem investimentos na Suíça. - Ele percebia o planejamento de longo prazo dela e se surpreendia. - Fala alemão. Ela tem alguma propriedade lá. — Não sei, mas acho que não. - Dario disse.— Logo fico sabendo. - Rafael enviava uma mensagem. - Se for o que parece, Helena tinha um plano "B" e sempre odiou calor. - Os outros concordavam. — Três asnos! Ninguém percebeu. - Dario os condenava.

Com a viatura intacta em sua mira, Rafael disparou contra o motor, imobilizando-a também. Agora, os policiais estavam a pé, no meio de uma plantação de algodão, sem seus veículos.— Vamos! - Gritou Rafael, correndo de volta para o carro deles. - Eles não têm como nos seguir a pé.Voltaram para a van, Rafael ligou o motor e o carro avançou penosamente de volta para a estrada vicinal, deixando para trás os policiais isolados e frustrados na escuridão da plantação. A poeira levantada pelos pneus era a única lembrança da perseguição tensa.Olhando para trás, as luzes das viaturas diminuíram até desaparecerem na escuridão. A fuga, por enquanto, havia sido bem-sucedida. Mas eles sabiam que não seria o fim da perseguição. Haviam cruzado uma linha e as consequências os alcançariam. Agora, a prioridade era encontrar um lugar seguro para Helena e cuidar de seus ferimentos, antes que a lei os encontrasse novamente.O carro, crivado de tiros e arranhões, coberto de poeira de algodão, cambaleava p

Helena olhava para a paisagem outonal. Campos verdejantes e montanhas, havia um movimento suave naquele lugar que a convidava a desacelerar. Ela tinha o aspecto da desnutrição severa e da desidratação.— Sei que se esforçou, mas me deixe aqui sozinha. - Ela intuia a recusa de Gregory. - Você não vai cumprir sua promessa. - Ela fechou os olhos. Dava-lhe as costas. A garganta dele se fechada, não era o único lutando por ela. Gregory se levantou e saiu. Helena, com imenso esforço, se desvencilhou da sonda e dos acessos, o corpo todo doía. Naquelas condições, sem auxilio, não conseguiria alcançar seu fim. Ele ouviu o estampido abafado no quarto, era mais forte que ele, voltou. Ela batalhava ferozmente, puxando o corpo como podia pelo carpete, a perfuração do soro sangrava discretamente com o esforço. Ela desistiu depois de alguns metros, ofegava, exausta, baixando a cabeça sobre as mãos, com o rosto para o chão. Uma musa que parecia lamentar. Ela ainda tentou mais algum tempo, não tinha