Haiden A voz zangada de Natalia veio do andar de cima. Corri para minha mesa, peguei os documentos necessários e esperei que ela descesse para podermos ir. O primeiro rosto que vi foi o de Claus. Ele parecia mais feliz essa manhã, mais confiante. Sorriu antes de me desejar um ótimo dia. — Vou dar uma volta pela cidade – ele falou pegando a chave de um dos automóveis – você não se importa que eu vá me divertir um pouco? — Eu não me importo, aliás, sinto um pouco de inveja – eu disse e ele alargou o sorriso – hoje tenho uma reunião longa com uma mulher que não conheço e ainda tenho que levar toda a minha família comigo. Pode imaginar o quanto isso será entediante. O sorriso de Claus ganhou vida, agora ele gargalhava discretamente. Eu tinha uma leve impressão de que ele sabia o que iria acontecer. — Você vai se divertir também – ele tocou meu ombro e seus olhos brilharam. Eu abri meus lábios para perguntar como ele poderia saber daquilo, mas o barulho dos saltos de Natalia instalou

Daphne Fiquei exatamente uma hora falando sem parar, contando todo o meu passado como um passeio no trem, com a paisagem de ruína e destruição. Foi inevitável não sentir meu peito arder com aquelas lembranças. Eu tentei ter um esforço sobre-humano para não chorar outra vez. Aquilo borraria minha maquiagem e eu não teria tempo para refazê-la. Quando a entrevista terminou, a repórter parada à minha frente se debruçava em lágrimas. — Sinto muito por tudo o que aconteceu com você – ela disse com a voz embargada – mas essas acusações são muito sérias. Estamos falando de Ramon, o homem mais poderoso dessa cidade. — Preciso ter certeza de que você vai publicar essa matéria da maneira como relatei – estiquei o braço e agarrei a mão dela – a minha segurança e a do meu filho estão em suas mãos. A repórter abaixou o olhar para nossas mãos, a minha sobre a dela e seu semblante se modificou. Ela não se afastou. Limpou o rosto com um lenço, sugou o ar fazendo um barulho comum e depois estufou

Daphne Eu não esperava encontrar a Natalia grávida, muito menos imaginei que essa notícia me abalaria tanto. Agora estou no escritório, acabando com o plano todo e sozinha com o Haiden mais uma vez. A maneira como ele me olhava me fazia querer correr para longe e me arrepender de ter viajado para estar ali. Contrair o meu corpo assim que ele se aproxima, eu odeio saber que o Haiden ainda causa esse efeito em mim, ainda faz meu estomago revirar com essa emoção estranha, fazendo minhas pernas perderem o controle. Mas ele continua parado na minha frente sem conseguir dizer nada. Tenho tantas coisas para dizer a ele, mas tudo parece ficar preso na minha garganta. Odeio a maneira como ele me olha, como se me amasse e odiasse ao mesmo tempo. Dou um passo atrás, depois outro, mas a distância entre nós dois não aumenta, parece diminuir. Eu mal percebo, mas Haiden me acompanha milimetricamente. As batidas na porta se intensificam conforme os minutos passam. Ninguém, fora do escritório, pa

Daphne Automaticamente, eu me movi para fora, lutando contra os meus sentimentos até finalmente colocar os pés para fora da empresa onde trabalhei por oito longos anos. Aquele lugar cheio de lembranças quase me nocauteou. Precisei esquecer tudo isso para seguir com o plano. Precisei ignorar os rostos espantados, os sussurros, a tristeza no olhar deles para conseguir chegar até o final. Minhas pernas falharam no caminho quando as mãos de Carl me agarraram pela segunda vez. — Está tudo bem, Daphne? – essa era a pergunta que ele vinha me fazendo constantemente. Eu não respondi, apenas senti as mãos dele me agarrando e me levando de volta para o carro sem que eu pudesse protestar. Eu deveria ser mais forte e acreditei que estava preparada para esse momento, mas não é tão simples voltar dos mortos e encarar o rosto do homem que eu ainda amava e fingir que nada estava acontecendo. Eu estava destruída por dentro. — Ele rasgou o contrato? – A voz de Simone me fez despertar – que homem

Daphne Fiquei em silêncio por muito tempo. Rosália estava no banco do passageiro com o corpo encolhido, de cabeça baixa, como se temesse algo que viria em seguida. Sentia uma fúria enorme fluindo pelas minhas veias, mas eu não dizia nada, eu só pensava no reencontro que eu acabara de ter com minha irmã e na maneira fria e indiferente como ela agiu por me ver viva novamente. Eu já deveria ter me acostumado com a maneira como Ember me tratou a vida inteira. Ela nunca me viu como membro daquela família, apenas como um objeto que deveria ser removido do seu caminho. Ela sempre estava rivalizando comigo, ela sempre queria vencer de mim. Enquanto eu invejava minhas amigas por ter uma irmã que era alguém importante, eu via a minha irmã apenas como minha inimiga. Durante muito tempo, eu lamentei por Rosália nunca ter tentado mudar isso, ao contrário, ela alimentava a rivalidade que Ember tinha comigo. Isso criou um abismo entre nós duas. Em toda a minha vida, eu nunca recebi um abraço da