MAITÊO elevador subiu como um suspiro contido, lento e silencioso, até o último andar da mansão Castellani. Eu conseguia ouvir meu próprio coração , ritmado como o passo de um inimigo em aproximação . Quando as portas se abriram, o hall principal do triplex revelou-se como um palco dourado – luzes âmbar, flores exóticas em arranjos simétricos , música ambiente executada por um quarteto de cordas escondido atrás de cortinas translúcidas. O vestido que eu usava – vinho escuro, justo , com recorte nas costas e tecido acetinado – fora escolhido por Valentina, como um presente. Uma farda. Eu sabia que ela queria me ver assim , controlada , impecável ....e vulnerável sob o peso do luxo. Dei meus primeiros passos sentindo os olhares deslizarem sobre mim como lâminas finas . Não demorou para que parte da elite paulistana percebesse minha entrada. Alguns tentaram disfarçar a surpresa. Outros preferiram o desprezo silencioso. Uma jovem , com colar de diamantes e um nariz muito bem esculpid

ARTHUR CASTELLANIMaitê me olhou uma última vez antes de entrar no carro . Seus olhos diziam tudo – medo , culpa , gratidão. E algo mais. A promessa de uma aliança. Esperei o carro sumir na curva da rampa antes de voltar para o interior do triplex. O som da festa parecia mais abafado agora. Como se o último ato já tivesse sido encenado – e só restasse o confronto. Mas antes ...havia um detalhe técnico a resolver. Tomei o elevador de serviço até o mezanino , onde ficava o painel de segurança interno. Jonas , o funcionário encarregado das câmeras , estava monitorando as telas em tempo real. Quando me viu entrar , se levantou na hora. -Senhor Castellani. -Você tem acesso às gravações do quarto 5? -Sim , senhor. Todos os registros do sistema estão sendo salvos na nuvem da Império. -Apague. Agora. -Perdão? - Ele hesitou -Jonas – falei firme – Delete todas as imagens do quarto 5 nas últimas duas horas e da garagem inferior . E reinicie os backups. Se alguém perguntar , foi falha

BÔNUS - VALENTINA CASTELLANI Maitê Santos . preta , cabelos cacheados , corpo curvilíneo, beleza inegável- daquelas que carregam magnetismo onde passam. Não era invisível . Nunca foi. E mesmo assim , Arthur fingiu não reconhecê-la. Mas agora, sentada no meu escritório particular , com os documentos do passado espalhados como peças de dominó, entendi o que ele tentou esconder . Não se tratava de um segredo qualquer. Era uma escolha antiga, que Arthur acreditava ter deixado no passado. Mas o passado , como eu bem sei, sempre volta. O relatório chegou pelas mãos de Jonas , meu chefe de segurança. -Tudo sob o nome original , Maitê Santos. Ela nunca o alterou – disse ele , como se o detalhe fosse insignificante . Mas para mim ...era a peça mais gritante do quebra-cabeça. Arthur mentiu por omissão. Ela nunca escondeu quem era . E mesmo assim , ele a deixou entrar em nossas vidas . Como funcionária . Como amante . Como mãe de um filho que deveria ser meu. ANO: 2024 . LOCAL : SÃO ROQ

ARTHUR CASTELLANIO silêncio da madrugada foi quebrado apenas pelo eco dos meus passos enquanto atravessava o corredor em direção ao meu escritório particular. Maitê dormia, exausta, depois da tempestade de palavras, raiva, desejo e aquele maldito nome: Caio Duarte.Abri a pasta com os relatórios de recursos humanos da Império e busquei pelo arquivo que continha a ficha do consultor financeiro. Lá estava ele: 34 anos, MBA em Chicago, contratado por indicação do comitê de risco, excelente desempenho em todas as auditorias... e agora, aparentemente, interessado na mulher errada.Meu maxilar travou. Não era apenas ciúmes. Era algo mais profundo. Uma irritação primitiva com a ideia de outro homem desejando aquilo que eu lutava para manter em segredo, protegido, perto. Maitê.Abri o sistema de comunicação interna e digitei o nome de Jairo , meu braço direito de confiança dentro da Império. O único que não fazia perguntas desnecessárias."Preciso de um dossiê completo sobre Caio Duarte. Tud

MAITÊForam vinte e quatro dias. Vinte e quatro amanheceres em que eu me levantava do sofá ou da cama vazia, esperando que a porta destravasse, que o celular vibrasse, que a voz dele ecoasse novamente naquele apartamento silencioso. Vinte e quatro dias de ausência.Arthur Castellani havia desaparecido.O apartamento era dele. A vista era dele. O vinho na adega, as roupas dobradas com precisão nos armários de madeira escura — tudo gritava Arthur. Menos a ausência dele. Essa, silenciosa, me dilacerava mais do que qualquer grito.No começo, tentei acreditar que era apenas trabalho. Um Castellani nunca se afastava dos negócios. Mas as horas viraram dias. E os dias começaram a corroer minha paciência... e meu orgulho.Depois daquela noite — da discussão sobre Caio, da tensão, do beijo arrebatador — ele simplesmente... sumiu. Como se tivesse me deixado ali de propósito. Como se eu fosse parte de um erro que ele se recusava a revisitar.O mais cruel é que ele sabia. Sabia do que eu estava enf