ARTHUR CASTELLANIEu sempre soube que poder é como porcelana fina: bonito, valioso , porém frágil. A Império cresceu sobre a base sólida de contratos blindados , relacionamentos políticos e um cala boca bem pago. Ninguém constrói um império limpo e tampouco eu fui ingênuo. Mas algo se encontrava errado e muito errado. Naquela manhã , a ligação veio de um número internacional. Inglaterra. Escritório da empresa que tínhamos parceria no mercado de importação de matéria-prima para a nova linha de cosméticos de luxo. Atendi com a voz fria de sempre. -Castellani falando. -Senhor Castellani, aqui é Jonathan Bracewell , diretor da IBC commodities. Recebemos um documento que nos preocupa. -Que tipo de documento? -Indaguei de cenho franzido -Um dossiê. Anônimo. Com acusações sobre práticas fiscais irregulares da Império nos últimos cinco anos. Envolve exportações paralelas e valores não declarados. Acabamos de informar nossa área jurídica. E suspender temporariamente as negociações em an

BÔNUS - VALENTINA CASTELLANIEu detestava surpresas . Principalmente as que vinham com sobrenomes iguais ao meu. -Olha ela , a nossa czarina glacial!- gritou Rael , entrando com um blazer de linho lilás e um lenço de seda amarrado no pescoço. Brian veio logo atrás , de óculos escuros , mesmo sendo sete da noite. -É assim que recebe a família agora? Sem champanhe , sem mordomo? Que decadência , maninha. Cruzei os braços no batente da sala -Estou ocupada. -Irmãaa!!!- Rael foi o primeiro a se manifestar como sempre , abrindo os braços com dramaticidade. - Que saudade de você e do seu eterno mal humor! George fechou a fila . Camisa , preta , cabelo penteado para trás com gel , expressão de nojo constante. -Já que você não vai até nós, resolvemos invadir seu castelo. Me mantive firme – Se vieram para sugar , escolham as taças certas. Porque sangue eu já dei demais. -Credo – disse Rael , rindo - Tá precisando de um drink e de um vibrador. -Eu preciso é de silêncio . Mas isso

ARTHUR CASTELLANI Dias atrás... Voltar para São Paulo era como prender o próprio corpo dentro de uma armadura feita sob medida- cara , elegante , sufocante. A estrada parecia mais cinza do que quando saí. Talvez fosse o contraste . O jardim da minha avó ainda vibrava na memória , com aquele aroma insistente de jasmins , o som do vento passando pelas samambaias . E ela ..me olhando como quem vê muito além do que se diz. ‘’Você está perdendo o seu brilho , meu príncipe ‘’, ela disse antes de eu entrar no carro . Era típico de Maria Antonieta , sempre com uma fala que parecia saída de um oráculo de interior . E embora eu desprezasse sentimentalismos , aquilo ficou preso como uma farpa debaixo da pele. Passei os dois últimos dias sem abrir o notebook. Sem responder e-mails. Sem atender ligações . Era o máximo de liberdade que podia me permitir . O máximo de silêncio que o mundo me concedia. Mas ao cruzar o portão do condomínio , o peso voltou. A cidade parecia me observar. Me med

MAITÊArthur , claro , não sabia . Nem muito menos desconfiava . Para ele , o fim de semana em Paraty tinha sido prazeroso, silencioso , livre. Voltamos juntos até um ponto estratégico e , de lá , segui sozinha até o endereço do ‘’Recanto das Águas Vivas’’ - a pousada falsa que eu mesma criei para enganar Valentina. A assistente da senhora Castellani estava à minha espera para ‘’buscar’’ a gestante descansada . Sorri e disse que os chás foram incríveis . Que as sessões de relaxamento funcionaram muito bem. Que me sentia ‘’ revitalizada.’’ Mentira atrás de mentira. Se alguém tivesse olhado mais fundo nos meus olhos naquele momento , teria visto o abismo . Mas ninguém olhou e isso me salvou – pelo menos por enquanto. **** O apartamento estava impecável . As empregadas contratadas por Valentina tinham deixado flores frescas , frutas cortadas e uma playlist suave tocando ao fundo. Um verdadeiro útero de luxo. Me tranquei n

MAITÊ Naquela mesma noite , preparei uma nova mentira. Não era fácil manter o equilíbrio - esconder o que perdi e proteger o que ganhei exigia muito mais do que inteligência. Exigia sangue frio. A gestação atual ainda era frágil, e qualquer deslize podia colocar tudo a perder, teria que ser mais cuidadosa . Mas eu já tinha escolhido o caminho Não voltaria atrás. Deitei cedo , mas o sono demorou. A cabeça não parava . Arthur tinha topado me tirar da cidade , mesmo sem entender meus reais motivos. Não fazia ideia do que eu carregava agora no ventre. O filho dele . E só dele. Dessa vez , o destino não era Paraty Ele disse que seria outro lugar- e isso me acalmava. Era como recomeçar o plano sem repetir erros , sem rastros. O sol nasceu tímido naquela sexta-feira. Levantei , tomei banho , com calma. Vesti um vestido leve ,nada chamativo. A barriga ainda não denunciava , mas meus seios estavam mais sensíveis. A sensação era a mesma da primeira gravidez ...e assim , completamen