MelissaA primeira coisa que sinto é o peso. Não no corpo. Na mente. É como acordar em um quarto cheio de ecos, vozes baixas que não falam, mas estão ali. Pensamentos que não são meus… e ainda assim me pertencem.Abro os olhos devagar.O teto é alto, de pedra escura. Cortinas grossas filtram a luz da manhã. O cheiro do lugar é inconfundível… floresta, poder, e ele.Meu corpo dói.Não de um jeito ruim. É uma dor profunda, espalhada, como se cada músculo tivesse sido usado até o limite. Levo a mão ao pescoço e meus dedos encontram a marca. Quente. Sensível. Viva. O coração dispara.— “Bom dia, Luna.” — Nyx sussurra, satisfeita, esticando-se dentro de mim.— Nyx… — sussurro. — Aquilo… foi real?Ela ri, suave.— “Mais real do que qualquer sonho que você já teve.”Fecho os olhos por um segundo e a lembrança da noite me invade. O calor. O olhar dele. A voz rouca chamando meu nome. O cuidado misturado com posse. A dor que virou prazer. A entrega.E então… sinto ele. Não fisicamente. Por dentr

MelissaA noite cai devagar sobre Aislen, mas meu corpo não acompanha o ritmo do céu. Desde a marca, dormir virou uma coisa estranha. Eu fecho os olhos e não encontro silêncio. Encontro ele. Encontro ecos do que Kieran pensa, do que ele tenta esconder, do que ele sente e jura que não sente.Nyx se espreguiça dentro de mim, satisfeita demais.— “Ele está tentando ser pedra. E falhando.”Eu puxo o cobertor até o queixo, irritada com a facilidade com que ela diz isso.— Nyx, por favor…— “Você sentiu a saudade dele agora há pouco. Eu senti. E ele sentiu a nossa.”Meu rosto esquenta.Não é só saudade. É um puxão constante, como se uma parte de mim estivesse sempre inclinada na direção dele. Mesmo quando tento me distrair. Mesmo quando digo para mim mesma que eu deveria respirar, pensar, ter paciência.O calor da Bruma já passou do pior, mas deixou um rastro. Como brasas escondidas embaixo da pele. A marca no meu pescoço ainda pulsa às vezes, e quando pulsa, eu sei que ele está pensando em

MelissaEle não me dá tempo de falar depois do abraço. Kieran me puxa pela cintura e me beija com força, um beijo duro, urgente, como se precisasse me calar antes que o mundo volte a existir. Não há delicadeza no início. Há tensão. Há algo quebrado nele.O corpo dele está rígido, quente demais, como se estivesse segurando algo perigoso por dentro.— Não brinca comigo desse jeito, pequena. — ele rosna contra minha boca.Minhas mãos sobem para o pescoço dele por instinto, sentindo o pulso acelerado sob meus dedos.— Então para de me tratar como se eu fosse frágil. — respondo, sem recuar.O beijo muda. Fica mais profundo, mais lento, carregado de posse. Ele me empurra contra a porta, o corpo grande me cercando, como se quisesse me esconder do mundo ali mesmo.— Você é minha, Lobinha, só minha. — ele diz, baixo, a voz vibrando. — Não ouse esquecer disso.Meu coração dispara.Ele me carrega até a cama sem esforço, mas não me j**a. Me deita como se estivesse lutando contra a própria força. A

MelissaA sala do Conselho sempre me pareceu grande demais. As paredes de pedra são altas, frias, cheias de marcas antigas. Não são apenas símbolos da alcateia. São cicatrizes. Decisões que custaram vidas. Alfas que caíram. Lunas que desapareceram da história como se nunca tivessem existido.Quando entro, sinto o peso de todos os olhares sobre mim. Não sou dali. Nunca fui. Mas sou dele, do meu Alfa.Os Anciãos estão sentados em semicírculo, em cadeiras elevadas. O cheiro deles é de poder antigo, poeira, controle. Cassandra está mais afastada, mas não precisa estar perto para ser sentida. O olhar dela queima nas minhas costas.Kieran está à frente, sozinho. De pé. Orgulhoso. Imóvel. Sua altura deixa todos receosos. O grande Alfa pode acabar com dez homens sem suar.Ele não olha para mim quando entro. Sei que faz isso de propósito. Para que eu não sinta a pressão que ele está carregando. Para que eu não leia seus pensamentos e tente protegê-lo.Mas eu sinto mesmo assim. Fenrir está tenso

MelissaEu acordo antes do sol. Não é comum. Desde a Bruma, meu corpo costuma dormir pesado, como se precisasse recuperar tudo o que mudou rápido demais. Mas hoje algo está errado. O ar parece mais denso. O vínculo pulsa inquieto.Kieran está sentado na beira da cama.Ele não percebe que acordei de imediato. Os cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos entrelaçadas, o maxilar tenso. Fenrir está agitado dentro dele. Eu sinto como se fosse meu próprio nervosismo.— Você não parece bem… — sussurro.Ele se vira na hora. Os olhos azuis ainda carregam sombras.— Te acordei?— Não. — respondo, sentando devagar. — Você me puxou pelo vínculo.Ele passa a mão pelo rosto, cansado.— Desculpa.— O que foi dessa vez?Kieran demora. E isso, por si só, já diz muito. Ele nunca demora quando é algo simples.— Eu não vou contar tudo. — diz, por fim. — Não agora.Meu peito aperta, mas eu não o interrompo.— Mas preciso te dizer uma parte. — ele continua. — Porque fingir que não sonhei não está funcionando.