MelissaA curandeira se senta à nossa frente com um cuidado quase solene.O quarto parece menor. O ar, mais pesado. Eu seguro a mão de Kieran com força, como se isso pudesse impedir o que quer que venha a seguir. O vínculo pulsa inquieto, carregado de ansiedade, medo e algo que eu ainda não sei nomear.Kieran não diz nada. O olhar dele está fixo na curandeira, atento, tenso, como se estivesse diante de um inimigo invisível. Nyx se mexe dentro de mim, inquieta.— “Fala logo…”A curandeira respira fundo antes de falar. O silêncio dura mais do que deveria.— Luna… Alfa… — ela começa, escolhendo as palavras. — Os exames não mentem.Meu coração dispara.— Ela está grávida.O mundo para. Eu não consigo falar. Não consigo respirar direito. Minha mão aperta ainda mais a de Kieran, e só então percebo que ele também está tremendo.Nyx explode dentro de mim, radiante, quase rindo:— “Eu te disse, Mel. Legado.”— Grávida.A palavra ecoa na minha mente como se não fosse minha. Como se estivesse fal

MelissaO quarto ainda carrega o cheiro dele quando acordo. Quente. Profundo. Familiar demais para alguém que entrou na minha vida como uma tempestade.Kieran está perto. Não preciso abrir os olhos para saber. Sinto pelo vínculo, pela forma como meu corpo reage antes mesmo do pensamento alcançar a consciência. Nyx se espreguiça dentro de mim, satisfeita, inteira.— “Ele é nosso.”Viro devagar na cama e encontro o olhar dele preso em mim, intenso, atento, como se ainda estivesse decidindo se fico ou se desapareço. A mão grande dele desliza pela minha cintura, firme, protetora, despertando cada centímetro da minha pele.— Você me olha como se eu fosse fugir. — sussurro.— Eu te olho como quem não sobrevive a outra perda. — ele responde, a voz baixa, crua.O beijo vem lento, carregado de intenção. Não há pressa. Não há Bruma. Só escolha. Minha boca se abre para a dele com confiança, e o calor cresce, denso, vibrando no vínculo. Meu corpo reconhece o dele como casa, como abrigo e perigo ao

MelissaNyx não para de andar dentro de mim.Sinto o movimento inquieto dela como se fosse meu próprio coração batendo fora do ritmo. Estou sentada na beira da cama, as mãos apoiadas no ventre, tentando organizar pensamentos que parecem fugir.— Nyx… o que está acontecendo com a nossa alcateia? — penso, em silêncio.Ela suspira, pesada.— “Quando um Legado aparece, Mel, o medo aparece junto.”— Mas eles são nossa família.— “Família também trai quando acha que vai perder poder.”Engulo em seco.— E o Rafael?— “Ele não quer só território. Quer quebrar Kieran. E você é o caminho mais rápido.”Meu estômago aperta.— E se eu não aguentar tudo isso? — confesso. — Eu só queria viver… amar… ter nosso filhote em paz.Nyx suaviza o tom, quase me abraçando por dentro.— “Você não foi escolhida por ser fraca.”Fecho os olhos.— O que vem agora?— “Divisão. Testes. Sangue.” — ela responde, honesta. — “Mas também escolhas. E você vai precisar decidir quem você é como Luna.”Passo a mão pela barrig

MelissaO pátio interno da fortaleza está em constante movimento.Curandeiras passam apressadas, carregando bacias, panos limpos, ervas secas. Lobos entram e saem trazendo notícias fragmentadas da batalha. Eu observo tudo do centro, tentando não deixar o medo escapar pelo vínculo.É quando sinto um cheiro diferente. Antigo. Forte. Familiar, como terra molhada depois da chuva.— Luna. — a voz vem atrás de mim.Viro e encontro uma loba curvada pelo tempo, cabelos completamente brancos presos num coque simples. Os olhos, porém, são vivos, atentos. Não há medo neles. Só experiência.— Meu nome é Isra. — ela diz. — Estou perto dos cem invernos. E quero ajudar você.— Ajudar como? — pergunto, surpresa.Ela ergue uma pequena bolsa de couro presa à cintura.— Unguentos. Antigos. Alguns só usamos quando a guerra chega. — pausa. — E ela sempre chega.Caminhamos juntas até uma mesa vazia. Isra começa a separar ervas com mãos firmes.— Kieran era só um filhote quando o pai morreu. — ela comenta, c

MelissaA primeira coisa que sinto é o cheiro. Ervas fortes. Amargas. Antigas. Abro os olhos devagar e a luz do quarto me incomoda. Minha cabeça gira. Meu estômago revira. Levo a mão instintivamente à barriga, o coração disparando.— Calma, Luna. — a voz vem suave.Isra está sentada ao meu lado, os dedos firmes segurando minha mão. O toque dela me ancora.— Onde… — minha voz sai fraca. — Onde ele está?Antes mesmo de falar, eu busco. O vínculo. E encontro… quase nada. Um eco distante. Fraco. Como se Kieran estivesse submerso em água profunda, longe demais para alcançar. O pânico me invade com força.— Onde ele está? — pergunto de novo, agora com urgência.Loara surge do outro lado do quarto.— No quarto dele. — responde. — Vivo. Mas o veneno quase o levou. E você quase foi junto.Nyx se manifesta, séria e carinhosa ao mesmo tempo.— “Você fez o que qualquer loba ligada faria. Mas agora a gente segura a onda juntas.”Não espero autorização. Levanto da cama ignorando a tontura. Isra tent