Melissa
Eu acordo antes do sol. Não é comum. Desde a Bruma, meu corpo costuma dormir pesado, como se precisasse recuperar tudo o que mudou rápido demais. Mas hoje algo está errado. O ar parece mais denso. O vínculo pulsa inquieto.
Kieran está sentado na beira da cama.
Ele não percebe que acordei de imediato. Os cotovelos apoiados nos joelhos, as mãos entrelaçadas, o maxilar tenso. Fenrir está agitado dentro dele. Eu sinto como se fosse meu próprio nervosismo.
— Você não parece bem… — sussurro.
Ele se vira na hora. Os olhos azuis ainda carregam sombras.
— Te acordei?
— Não. — respondo, sentando devagar. — Você me puxou pelo vínculo.
Ele passa a mão pelo rosto, cansado.
— Desculpa.
— O que foi dessa vez?
Kieran demora. E isso, por si só, já diz muito. Ele nunca demora quando é algo simples.
— Eu não vou contar tudo. — diz, por fim. — Não agora.
Meu peito aperta, mas eu não o interrompo.
— Mas preciso te dizer uma parte. — ele continua. — Porque fingir que não sonhei não está funcionando.