Entramos em combate quase imediatamente. Eu nascera para lutar, por isso avancei na linha de frente, mesmo que o homem também fosse habilidoso. Lutamos por algum tempo e, quando ele encontrou uma brecha, escapou com a companheira, deixando-me sem resposta. Assim que desapareceram, vesti às pressas o colete e saí da caverna. O céu já clareava e o primeiro galo cantara. Recolhi machado, faca e espada e prendi cada lâmina na respetiva bainha. Precisava deixar aquele lugar sem demora, pois o ataque revelara que eu colocava a garota em risco.Se o inimigo descobrisse qualquer vínculo entre nós, perseguiria a garota em vez de voltar-se contra mim. Enquanto recolhia os poucos pertences, um pensamento tomou forma: aqueles intrusos também deviam conhecer a garota, pois eu já sentira o cheiro deles antes. Partir, portanto, não era a melhor opção. Em vez de abandonar a montanha e a vila, desci até as primeiras casas. No quintal de um estranho, peguei um manto, cobri a cabeça com o capuz e escondi

HISTÓRIA DE MORPHEUS 13MILDREDEu jamais tinha visto aquele homem. O sorriso torto, pousado num canto da boca, e o brilho duro nos olhos me gelaram por dentro. Alguma coisa no meu instinto gritava que ele era perigoso e que eu precisava correr.— Olá, Princesa.Meu coração afundou no estômago. Ele sabia quem eu era e viera para me levar de volta. Mas eu não permitiria. Lancei o olhar ao redor e concluí que, se tentasse escapar, ele me alcançaria em poucos passos. Pior ainda, eu nem sabia para onde correr.— Quem é você e o que quer de mim? — Perguntei enquanto ele avançava.— Quero que venha comigo agora.— Fique longe de mim agora.Ele não deu ouvidos. Chegou mais perto, agarrou meu pulso, tapou-me a boca com a outra mão e me arrastou para as sombras. Meus gritos saíram abafados. A tristeza de ter sido encontrada e a certeza de voltar para a prisão me esmagaram. Eu me contorcia, pensando no que faria se ele não estivesse me segurando por trás.— Você não vai levar a garota daqui. Não

— Não terei escolha a não ser forçar você a fazer isso. — Disse o homem da montanha.Assim que Odin sinalizou que terminara de juntar seus pertences, o homem da montanha ergueu-me de dentro do saco de dormir. Ordenou a Odin que empilhasse roupas no próprio saco e no espaço onde ele ficara deitado, cobrindo tudo com peles grossas. Bati nas costas dele, duras e ásperas, enquanto ele girava meu corpo sobre o ombro, porém golpear aquele tronco era como socar madeira. Sem esforço, carregou-me pela janela dos fundos.Odin foi o primeiro a saltar e aguardou do lado de fora, no pequeno campo que levava à floresta. Eu ainda lutava para que aquele gigante me largasse. Sentia-me furiosa com ele e também com Odin. Não podíamos viver sempre no compasso que o homem da montanha determinava. Ele nos abandonara e agora aparecia dizendo meia dúzia de palavras e Odin já se dobrava. Eu sabia impor-me e não seria capacho como Odin.— Mulher, pode ficar quieta? Estou tentando tirar você viva daqui. — Rosnou

MILDREDEu observei o homem da montanha enquanto ele acendia uma fogueira para nós, notando o humor instável que mudava tão repentinamente quanto o clima, o que me deixou completamente confusa. Ainda na cabana de Odin, ele me envolveu num abraço tão intenso e tão próximo que senti seu calor me consumindo, uma sensação absurda de conforto que pareceu libertar nele também uma oportunidade de relaxar. Quis permanecer ali para sempre, mas mal cogitei aquela ideia e ele se afastou abruptamente como se estivesse queimado para depois partir sem olhar para trás.Agora ele se recusava a me olhar, evitando qualquer contato visual, e eu me perguntava se havia feito algo errado ou se ele havia descoberto quem eu realmente era, sentindo um peso de culpa por acreditar ser eu a causa da destruição da cabana de Odin. Se eu tivesse revelado a verdade desde o começo, provavelmente não estaria ali com eles e já teria retornado ao palácio.Eu precisava compreender o que se passava com ele e talvez confron

MILDRED— O que você quer dizer com isso? — Perguntei a Odin horrorizada ao ouvir que ele partiria.Eu não conseguia imaginar como seguiria em frente sem Odin ao meu lado, pois eu havia criado um vínculo com ele como se fosse um irmão e ele me fazia companhia em meio à presença gelada daquele homem da montanha, que era frio e reservado demais para até revelar seu nome. As lágrimas arderam nos meus olhos quando Odin finalmente assentiu.— Não! — Soltei de repente. — Eu vou com você.Olhei para Odin e depois para o homem da montanha e notei que, como sempre, sua expressão era estoica.— Foi você! Você está mandando ele embora.Odin segurou minha mão e me puxou para o lado. Eu funguei e olhei para ele, que também não parecia nada feliz, pois eu tinha certeza de que o maldito homem da montanha o estava obrigando a partir.— Ei, Viviana.— E para onde você vai, afinal?— Vou encontrar meu caminho. Eu sei me virar.— Por quê? Eu vou com você.— Viviana...— Eu não sou Viviana.Chorei, limpan