Na manhã seguinte, bem cedo, Amara se arrumou com cuidado. Vestiu um vestido rosa-claro, simples mas delicado, combinando com sandálias brancas de salto baixo. Passou uma maquiagem leve, o suficiente para realçar sua pele, e alisou os cachos que desciam suavemente pelos ombros.No cabelo, prendeu um grampo em forma de coração, rosa como o vestido. O reflexo no espelho mostrava uma mulher doce e elegante — alguém que poderia facilmente ser confundida com uma esposa amorosa.Quando saiu do quarto, encontrou Pitter sentado no sofá, com o jornal aberto entre as mãos. Ao vê-la, seus olhos pararam por um instante, como se algo dentro dele tivesse vacilado.— Sua roupa… — murmurou.Amara raramente se vestia de forma tão feminina, ainda mais para algo simples como sair de casa. Normalmente, seu estilo era prático, casual, quase despretensioso.Com um sorriso travesso, ela girou sobre os calcanhares e abriu os braços. — E então? Como estou? Não pareço a esposa de alguém?Os olhos de Pitter bri

— Querido, você não ficou com medo, certo? — Amara perguntou baixinho, lançando um olhar preocupado para Théo.O menino balançou a cabeça, agarrando firme o braço dela. Não havia medo em seus olhos, mas um traço melancólico sombreava sua expressão infantil.Por que tinha apenas cinco anos?No fundo, ele desejava crescer rápido. Assim, poderia protegê-la, em vez de apenas assistir de longe.Do banco do motorista, Pitter captou exatamente o que passava na mente do filho. Como pai, sabia que aquela responsabilidade não deveria pesar em ombros tão pequenos. Ele mesmo cuidaria disso. Sempre.Amara, tentando distrair o ambiente carregado, puxou uma das caixas que recebera no prédio. — Poucas pessoas sabem meu endereço… Quem me enviaria um pacote? — murmurou, estreitando os olhos diante da caligrafia vaga e irreconhecível.Pitter estava prestes a oferecer uma faca, mas antes que dissesse qualquer coisa, Amara já havia rasgado a embalagem com destreza.Definitivamente, habilidade essencial de

Embora a missão tivesse sido concluída com sucesso, Amara ainda precisou lidar com um obstáculo inesperado: Pietro, o guardião apaixonado por sua horta. Assim que percebeu que as folhas seriam usadas na cozinha, ele a encarou com amargura.— Sua idiota! — explodiu. — Como ousa? Devolva-me toda a couve-flor, o repolho, as folhas de nabo que estão nas suas mãos!Pietro continuou, bufando: — Esses vegetais são meus, fui eu quem os cultivou. Eu rego, fertilizo, canto para eles, leio histórias e até conto piadas. Eles são o meu orgulho e alegria! São cem vezes mais preciosos que ouro! Você já viu verduras tão viçosas na casa de outra pessoa? Jogá-las em uma panela comum é um desperdício!Amara piscou, confusa. — ...?Jamais imaginaria que Pietro tratava vegetais como filhos. Pensava apenas que ele os cultivava para comer.— Coloque-os no chão imediatamente! — ordenou.Amara ergueu uma sobrancelha. — Tarde demais, já colhi. Quer que eu te pague por eles?Os olhos de Pietro se arregalaram.

Depois de apresentá-la à nova assistente, Gracy Maldovan retirou de uma gaveta um pequeno molho de chaves e o entregou a Amara.— Este é o seu apartamento arranjado pela empresa. Você precisa se mudar o quanto antes.Amara baixou os olhos para a chave. Gravado no metal, lia-se: Vila Palace Riveira.Ela piscou, incrédula. O Palace Riveira?!Naquela cidade, só existiam dois lugares que podiam ser chamados de “morada dos privilegiados”: as vilas do Diamantina Palace e os apartamentos luxuosos do Palace Riveira. Este último pertencia também ao Grupo Leds Corporation. Era exatamente lá que Melissa morava.A nova empresa de Amara, Astros & Strellas, não brincava em serviço.— Obrigada, Gracy — respondeu Amara, ainda surpresa. — Mas… ainda não posso me mudar.A empresária ergueu os olhos, analítica. — Você tem namorado?Amara quase engasgou. — Não! Não é nada disso! Eu apenas prometi a uma amiga que ficaria com ela por um tempo. Assim que isso terminar, me mudarei imediatamente. Juro que i

— O quê…? — Amara ficou sem palavras, o choque travando sua respiração. — Como assim eu não sei disso?— Você estava bêbada naquela noite — explicou Lenno Bráz do outro lado da linha, a impaciência evidente em sua voz. — Foi no jantar de boas-vindas da equipe para mim.A lembrança atingiu Amara como um estalo. Naquela noite, ela havia entrado no quarto errado e quase fora assediada por Pleúzio Bullack. Pitter, ao perceber a confusão, a levou até a sala da equipe e pediu que esperasse por ele antes de voltar para casa. Depois disso… só lembrava de vê-lo cambaleando, completamente embriagado, até cair inconsciente. O restante da noite era apenas um borrão. Era naquele intervalo que a conversa entre Pitter e Lenno provavelmente havia acontecido.O silêncio de Amara do outro lado da linha fez Lenno suspirar fundo. Sua voz, pesada de frustração e desânimo, quebrou o espaço entre eles.— Você ainda não acredita? Eu sei que não é uma prova definitiva, mas aquelas capturas… eram ele falando