JasonA primeira vez que vi Clara patinar, de verdade, foi como assistir a uma cena que não deveria ser tocada. Tinha algo sagrado ali.Ela girava com leveza, o cabelo preso num coque frouxo, a expressão concentrada e decidida. Era a mulher que eu amava, mas também era alguém que eu ainda estava descobrindo. A arquibancada da pista era gelada, mas eu não sentia frio. Só orgulho.Clara não sabia que eu estava ali — e talvez fosse melhor assim. E eu ainda não sei porque estou aqui, muitas coisas importantes me esperam. Ela deslizava como se o mundo sumisse quando estava sobre o gelo. E ali, naquele espaço branco e silencioso, parecia inteira. Forte. Livre. Tão diferente da garota que me escreveu um bilhete e sumiu por dias.Ela estava voltando a ser quem sempre foi.— Impressionante, né? — ouvi uma voz ao meu lado.Me virei devagar. Um cara alto, cabelo castanho claro preso num coque baixo, olhos atentos. Roupa esportiva. Estava sentado a poucos metros de mim.— É. Bastante. — respondi

JasonEu já tinha esperado demais. Amélia apareceu na frente da minha casa sem ser convidada — como sempre fazia quando queria bagunçar o que restava da minha paz. Mas dessa vez, não seria do jeito dela.Ela estava parada no meu hall de entrada, com os braços cruzados e aquele sorriso calculado nos lábios. O mesmo sorriso que um dia me atraiu... e que hoje só me causava repulsa.— Podemos conversar? — ela disse, fingindo doçura. — Prometo que não vou tomar muito do seu tempo. Não vou tentar nada, prometo. Revirei os olhos, exausto.— Você já tomou tempo demais da minha vida, Amélia. Não há mais conversa. Cai fora. Ela franziu o cenho, surpresa com a firmeza da minha voz.— Vai me tratar assim agora? Depois de tudo o que passamos? Depois de tudo que já vivemos?Me aproximei, os olhos firmes nos dela.— O que a gente passou acabou no dia em que eu descobri a verdade. Mas ela não, Clara nunca escondeu algo de mim ou me fez chantagens para ficar com ela. Se estou com ela, é por escolha

JasonA chamada terminou, mas o eco da conversa ficou pairando como um lembrete do mundo que eu escondia. Mas não queria fazer parte do meu passado. Então retornei a ligação e disse que estaria me cansando em breve e que minha noiva está grávida. Isso tudo, na cara de pau para o comandante. Quem dera meus problemas fossem somente esses. Agora que estou reconquistando o que realmente me importa, acho que posso voltar um pouco da minha atenção aos meus negócios e como eles estão indo. Sim, eu deveria embarcar. Sim, havia uma reunião com investidores importantes marcada para Londres. E sim... eu era o CEO da ArcTech, uma empresa privada que movimentava cifras grandes o suficiente pra abalar a bolsa se quisesse.Mas nada disso me importava tanto quanto ela.Fechei o celular e o joguei sobre a mesa de vidro. Olhei para o quarto, ainda com o cheiro do nosso corpo, da noite anterior. Clara estava tomando banho agora, provavelmente cantarolando distraída, sem nem imaginar o que eu havia aca

ClaraO despertador tocou às 7h, mas eu já estava acordada havia algum tempo. Observava o teto, ainda deitada, sentindo o lençol macio contra minha pele. Ao meu lado, Jason dormia profundamente, o peito subindo e descendo em um ritmo que, por si só, me acalmava.Levantei com cuidado, tentando não acordá-lo, e fui direto para a cozinha. Preparei café com leite, cortei fatias de pão e coloquei algumas flores frescas no pequeno vaso em cima da mesa. As mesmas flores que colhi da estufa da minha floricultura no dia anterior.Estava em paz. Não era uma paz silenciosa, sem conflitos — era uma paz com cicatrizes. Mas ainda assim, paz.Mais tarde, fui para a pista de patinação. Vesti o collant, calcei os patins e respirei fundo. Era o mesmo lugar de sempre, mas eu não era mais a mesma.Deslizei pelo gelo com suavidade. Sem metas, sem técnico gritando instruções. Apenas eu e minha respiração. A música tocava baixinho no fundo, e as lâminas cortavam o gelo com precisão. Fiz duas voltas, três sa

ClaraDormir não foi fácil. A cabeça latejava com mil perguntas que ninguém no mundo saberia responder. Mas o corpo…O corpo lembrava muito bem de quem estava ao meu lado.Depois de horas de conversa, de choro, de riso nervoso, de silêncio compartilhado, Jason se deitou de costas, com o peito exposto e a mão ainda pousada de leve sobre minha barriga. Como se já a protegesse. Mas quando ele se virou pra mim, olhos quentes, dedos vagando pela minha cintura, eu soube. A gente ainda estava ali.— Tem certeza que quer? — ele perguntou, o tom rouco, como se medisse cada limite. — Eu não tenho pressa.— Quero saber que isso ainda existe entre a gente — sussurrei. — Quero que você me lembre que ainda sou sua. Que sou eu. Com ou sem filho.Jason sorriu de leve. Um sorriso escuro, faminto. Como se eu tivesse acabado de acender um fósforo dentro dele. Ele subiu sobre mim devagar, os joelhos firmes na cama, o corpo quente. Seu olhar percorreu meu rosto, desceu pelo pescoço, até onde o lençol cobr