A vida de Lucas na cidade havia se transformado em um inferno silencioso. O apartamento que ele dividia com Luiza, antes um refúgio da solidão, agora parecia uma jaula. A ausência de Lara não era um vazio; era uma ferida aberta que Luiza cobria com um curativo sujo de exigências e manipulação.No trabalho, Lucas era uma sombra do executivo brilhante que costumava ser. Sua mesa estava cheia de papéis, mas sua mente estava em Laguna. Ele se pegava encarando o mapa no celular, traçando rotas que nunca faria, imaginando a casa simples onde Lara estava recomeçando.As reuniões eram um tormento. Ele era impaciente, distribuía ordens curtas e perdia o foco com facilidade. Os sócios notavam, os funcionários temiam. Ele compensava a dor com mais horas, mais trabalho, mas isso só o deixava mais esgotado.O arrependimento era um fardo físico. A cada decisão errada no trabalho, ele pensava: Lara teria me avisado. Ele lembrava de como a honestidade dela era a bússola que ele desprezou. Ele havia t

Quarta-feira. Eu estava sentado em meu escritório, fingindo revisar planilhas, quando a secretária entrou, visivelmente nervosa. — Dr. Lucas, chegou um envelope. É registrado, do escritório de advocacia Vicente & Associados, de Laguna. Laguna. O nome me atingiu como um tiro. Era o advogado dela. Lara havia se blindado legalmente, exatamente como eu temia. Peguei o envelope e rasguei-o com violência. Dentro, havia uma notificação formal, fria e sem rodeios. Não era um processo, mas um ultimato. Li as frases afiadas do advogado, Dr. Vicente. Ele reiterava que qualquer comunicação com Lara deveria ser feita exclusivamente através dele e que qualquer tentativa de aproximação direta seria considerada assédio e motivo para uma ação judicial imediata. O texto era um muro legal. Mas o que me fez ferver, o que trouxe um calor de ódio à minha garganta, foi a última parte. O advogado alertava que Lara estava disposta a ir a tribunal para garantir a segurança da criança e que possuía "info

A casa em Laguna estava silenciosa, banhada pelo sol quente do meio-dia. Emma e Mia tinham saído para comprar mantimentos e alguns itens para o quarto de Maya. Lara estava na sala, tentando relaxar no sofá, mas a mente fervilhava com a tensão do confronto legal iminente com Lucas.A campainha tocou, tirando-a de seus pensamentos. Era inesperado.Ela abriu a porta e o sorriso de surpresa forçada congelou em seus lábios.— Marcos? O que você está fazendo aqui?Ele estava elegante como sempre, mas com um ar visivelmente tenso.— Eu estava na região a trabalho e não podia deixar de vir ver como você estava — ele disse, com uma preocupação calculada, dando um passo para dentro.Lara hesitou, mas a necessidade de desabafar foi maior. Ela o deixou entrar.— sabe de tudo. Ele me humilhou, me fez mal. Mas agora estou me blindando.Eles se sentaram. Lara, sentindo-se estranhamente à vontade com a presença dele – o amigo que a tinha confortado – decidiu compartilhar a última atualização.— Eu c

Laguna. Final da tarde.. A brisa do mar nunca pareceu tão fria. Eu saí daquela delegacia, libertado apenas porque o Dr. Vicente estava jogando de forma inteligente: a denúncia era apenas por coação e ameaça, o suficiente para me deter e me dar um aviso, mas não para me prender por fraude de DNA — ainda não. Ele estava me deixando solto, sabendo que eu estava aterrorizado.Eu mal consegui dirigir de volta para a cidade. O carro parecia me sufocar. Lara me pegou. Me pegou em flagrante, com meu celular, com as provas do meu crime. Ela não era mais a boneca quebrada de antes.Cheguei ao meu apartamento no centro da cidade. As luzes estavam apagadas e o lugar parecia oco. Em cinco minutos de estupidez, Lara desvendou o plano inteiro. O golpe final? Eu a amava. Não o suficiente para ser honesto, claro, mas eu a queria e queria o dinheiro do Lucas. Agora, eu tinha perdido os dois.Eu estava bebendo um copo de uísque, tentando formular um plano de fuga, quando a campainha tocou. Era Luiza.

Lucas parou, a respiração presa na garganta, o desespero na voz.— O que aconteceu aqui?! Meu Deus, Luiza!Luiza, com a voz embargada e forçada, começou seu ato de mestre:— Lucas! Ah, Lucas! Que bom que você veio! Ela mentiu! Ela mentiu que estava mal! Ela me chamou aqui, ela teve um surto de raiva quando eu perguntei sobre o processo... — Luiza soluçou, apontando o dedo trêmulo para Lara. — Ela me atacou! Ela me machucou! Eu tentei proteger o nosso bebê!Lucas olhou para o sangue, para a angústia desesperada de Luiza, e depois para Lara, que estava paralisada pelo choque e nojo da encenação, com as mãos levantadas, sem conseguir pronunciar uma palavra.O instinto o fez correr para Luiza.— Fique calma! Emma, chame uma ambulância! O que você fez, Lara?! — Lucas gritou, virando-se para mim, os olhos cheios de ódio e confirmação.— Eu não fiz nada! Ela se machucou! Ela está fingindo! Ela está mentindo sobre tudo! — Lara finalmente conseguiu falar, mas a cena a incriminava.— Lucas, é m