Há dias em que o silêncio de uma manhã parece mais perigoso que uma reunião de acionistas.Hoje era um desses.Eu estava na minha sala, tentando revisar relatórios que, honestamente, não me diziam nada além de números repetidos.Desde que Santi embarcou para Londres, o ritmo na Rabbit ficou… diferente.Mais preciso.Mais vivo.Culpa da diretora interina.Ou mérito, dependendo de quem pergunta.Ágatha Heil.O nome já me tirava a concentração antes mesmo de ela entrar em qualquer sala.Mas eu fingia que não. Era bom nisso. Ou costumava ser.O toque do meu celular vibrou sobre a mesa — Isabela.Suspirei antes de atender.— Espero que não tenha vindo me pedir mais entrevistas — falei.— Que modesto. — A voz dela soou leve, quase divertida. — Só queria te contar que encontrei suas duas maiores dores de cabeça juntas.— Dores de cabeça? — reviro os olhos. — Não lembro de ter contratado duas.— Lara e Ágatha. — respondeu, saboreando cada sílaba. — Tomamos café. São um encanto.O silêncio que

Saí da sala do Dante com o coração batendo feito tambor.Não porque ele tivesse dito algo… mas justamente porque disse demais.A entrevista, o convite, o jeito que ele me olhou — tudo me deixava confusa.Era como se ele tivesse me puxado de volta pro epicentro do furacão que eu jurava já ter sobrevivido.Respirei fundo no corredor, tentando parecer o retrato do profissionalismo, e não uma mulher que quase perdeu o ar por causa de um par de olhos.Mas é claro que o universo não ia me deixar sair ilesa.— Ágatha.A voz soou atrás de mim, e quando me virei, encontrei Isabela Emberlain, elegante como sempre, equilibrando uma pasta e um copo de café como se tivesse nascido pra isso.Ela sorriu com aquele ar entre curiosa e divertida — o mesmo tipo de sorriso que me dava vontade de cavar um buraco e desaparecer.— Hummm… — fez, arqueando uma sobrancelha com sutileza. — Reunião longa, hein?— Assuntos de trabal

Eu estava prestes a enlouquecer dentro daquele escritório. Pilhas de relatórios, reuniões intermináveis, e um e-mail atrás do outro sobre números e contratos que eu mal conseguia fingir que me importavam. Nunca pensei que sentiria falta do cheiro de flashes e perfume caro misturado a spray de cabelo, mas ali estava eu, sufocando de saudade da Rabbit. A rotina de diretora interina me consumia — e, sinceramente, me deixava meio amarga. Eu mal via a Lara ultimamente. Ela andava mergulhada nos ensaios e eu, presa a uma cadeira. Quando o relógio marcou três da tarde, eu fechei o notebook e respirei fundo. Dane-se o cronograma. Hoje, eu ia respirar um pouco de luz. Peguei as chaves e fui direto pro estádio onde a Lara tinha ensaio fotográfico. Um lugar imenso, aberto, e cheio de eco — do tipo que fazia a gente se sentir minúscula e poderosa ao mesmo tempo. Assim que pisei ali, o Sebastian veio correndo até mim, todo sorriso maroto e câmera pendurada no pescoço. — Ora, ora... se não é a

Santi ainda estava encostado na bancada quando fechei a porta atrás de nós.O silêncio pairou por alguns segundos — denso, carregado, até que ele soltou uma risada curta.— Você tem um talento impressionante pra transformar qualquer ambiente numa cena de crime. — disse, com aquele meio sorriso que sempre me irritou.Passei a mão pelos cabelos, tentando não explodir.— Não começa.— Só tô constatando — ele retrucou. — Faz duas semanas que tô fora, e quando volto encontro você brigando com a diretora interina da Rabbit no vestiário.— Ex-diretora interina — corrigi.— Ex? — arqueou a sobrancelha. — Quer dizer que você já tirou ela do cargo?Olhei pra ele, impaciente.— Ela não devia estar se expondo desse jeito.— E você devia? — rebateu, rindo com ironia. — Porque, se não me falha a memória, foi você quem insistiu pra colocar a Heil nessa posição. Nem era pra ter interina. A Rabbit podia ter esperado.Respirei

Já passava das duas da manhã, e eu ainda estava acordado. A cidade dormia lá fora, mas o silêncio dentro do apartamento era outro tipo de insônia. Um que doía. O abajur do escritório lançava uma luz amarelada sobre a mesa coberta de relatórios e garrafas vazias. Mas eu não estava lendo nada. Só encarando o vazio, esperando o cansaço me vencer. A conversa com Santi ainda ecoava na cabeça. “Ela não vai aceitar o controle, Dante. Você sabe disso.” Sabe disso. Sim. Eu sabia. E, mesmo assim, não consegui parar. O telefone vibrou sobre a mesa. O visor piscou com o nome do segurança da Emberlain. Suspirei fundo antes de atender. — O que foi agora? — perguntei, cansado, esfregando os olhos. — Senhor... a senhorita Ágatha saiu do prédio há mais de uma hora. Meu corpo inteiro enrijeceu. — Saiu pra onde? —