Capítulo 1

Vingança? Era uma boa palavra para o “ato insano” que eu iria cometer segundo alguns, mas eu julgava como um ato desesperado, um último apelo de uma mãe, a última tentativa de encontrar minha filha. 

Quando eu era mais nova, escutava as pessoas dizerem que as mães são capazes de fazer tudo por seus filhos, que passariam por cima de tudo e de todos para protegê-los, e comigo não seria diferente, eu seria capaz de tudo pela minha filha, venderia minha alma ao diabo se fosse necessário, mas eu a teria de volta.

— Fez o que eu mandei? — foi minha primeira fala ao entrar naquele escritório, Matthew fez sinal de negação e me deu um sorriso forçado como resposta.

— Bom dia Richel, eu estou bem e você? — Debochou da minha falta de educação. — Pedi a Madson que fizesse, eu não vou descer tão baixo ao ponto de pisar naquela casa e ter que olhar na cara daquele imbecil.  

— O imbecil que pode chegar a ser meu marido. — Toquei sua ferida, Matt na mesma hora mudou o semblante e se levantou da cadeira, indo acender o seu cigarro.   

— Desiste dessa ideia maluca, ainda está em tempo de voltar atrás. Richel podemos encontrar outra maneira de achar a Alice, não chegue tão baixo ao ponto de se subordinar a ele.  

— Usamos todas as maneiras possíveis, até detetives nós contratamos e não achamos minha filha. Já tomei a minha decisão, se está tão infeliz com ela e te incomoda tanto, vá embora, eu não preciso de ninguém me dizendo se é certo ou errado o que estou fazendo. — Matthew me olhou por alguns segundos enquanto soltava fumaça do seu cigarro recém aceso, suspirou logo em seguida dando passos largos até a porta.  

— Não vou embora, prometi ficar ao seu lado até o fim, e vou cumprir minha promessa, mas não pense que irei estar junto com você quando concretizar essa insanidade.  

— Posso fazer isso sozinha!  

Por fim, Matt saiu me deixando ali sozinha. Ele odiava meu plano, odiava quem eu iria usar para concretizá-lo, mas eu não podia me dar ao luxo de escutar cada um que não estivesse de acordo, não podia me dar ao luxo de deixar escapar a grande chance de encontrar minha filha. Talvez, saber quem tirou Alice de mim tenha me ajudado, apesar da dor que me foi causada ao descobrir o culpado.  

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— Eu tenho boas notícias, consegui as gravações do dia em que Alice foi sequestrada. — Edward parecia feliz do outro lado da linha, sabia que a notícia me alegraria muito.  

— E o que encontrou? Mostra quem estava com ela?  

— Uma enfermeira, mas não consegui ver bem o rosto. — Suspirei frustrada, não iria adiantar ter o vídeo se não víamos quem estava nele. — Mas, apenas três enfermeiras estavam trabalhando no berçário aquele dia, duas delas estavam lá e você as viu, se conseguir se lembrar, podemos descobrir quem era a terceira que estava com a sua filha, já que elas ainda trabalham no hospital. — senti meu coração se encher de esperança novamente ao escutá-lo.  

— Me lembro bem, aquele dia horrível não sai da minha cabeça.   

— Podemos nos encontrar no hospital, só precisamos de um jeito de ver as três enfermeiras e você poderá identificar quem não estava na maternidade.  

— Claro, eu darei meu jeito, nos encontramos lá.  

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O dia estava nublado, sem sinal algum de que o sol iria aparecer, o vento gélido deixava o clima um tanto dramático. Estava idêntico ao dia em que enterrei minha mãe, o mesmo dia em que cometi a loucura de beber demais e ir para cama com um estranho. Meu único consolo depois daquele desastre, foi quando vi o rostinho da minha filha após nove meses do ocorrido. Me lembro que entrei em pânico quando descobri a gravidez, eu não me lembrava nem do rosto do homem que havia se deitado comigo. Meu primeiro pensamento foi abortar, mas não permitiram, diziam que o bebê não tinha culpa da minha burrada, e eles tinham razão. Meu pai, não ousou levantar a mão para me bater, ao me escutar dizendo que estava esperando um filho, apenas negou com a cabeça, me deu as costas e saiu da sala, ficou meses sem me dirigir a palavra, usava a empregada de pombo correio para levar suas mensagens até mim. Quando me viu em frente ao espelho, enquanto olhava minha barriga já volumosa, chorou, me disse que estava decepcionado, como eu pude ser tão descuidada, como não tive coragem de tirar aquela criança, dizia ele. As palavras dele machucavam, meu próprio pai, um homem que jamais tirou a vida de um ser inocente, se dizia decepcionado por eu não tirar a vida do meu filho quando eu tive chance.  

— Agora não dá mais tempo, o bebê já está formado, sua barriga já está crescendo e qualquer um pode ver que você está grávida. — Sorri sem vida, com lágrimas nos olhos — Era isso que ele me dizia. 

Após anos, ainda lembrava das palavras ditas por meu pai, lembrava também como ele queria tanto escolher o nome dela ou dele, como em poucos meses a atitude mudou, ele parecia tão feliz quando a viu pela primeira vez. 

— Não fique pensando tanto nisso Richel. — Madson tentava me consolar após outra crise de ansiedade, era constante nos últimos anos.  

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— Temos essas três senhoras, segundo o histórico do hospital, elas estavam na maternidade no dia do sumiço da Alice, mas na hora do ocorrido, uma delas não estava. — Edward olhava um papel que tinha em suas mãos fornecido pelo hospital com o nome das três mulheres. — Olhe bem Richel, se lembra?  

— Me lembro como se fosse ontem. Margareth me ajudava com a Alice nas horas da amamentação, ela estava no berçário. — apontei para uma delas. — Essa outra, ela parecia muito mais desesperada, era o primeiro dia de trabalho e já havia sumido uma criança no seu turno. — apontei a outra, que me olhou sem medo algum demonstrado. — Mas essa, não estava lá, nem sequer me lembro do rosto dela.  

— Eu pintei o cabelo a alguns anos, talvez seja por isso que não se lembra de mim. — respondeu assustada, estava pálida, esfregava suas mãos uma na outra, denunciava seu medo.  

— Acha mesmo que eu não iria me lembrar de alguém se estivesse lá? — me aproximei dela, a fazendo dar alguns passos para trás — Eu disse que me lembro como se fosse ontem, você poderia ter se pintado de palhaça, mas eu me lembraria se você estivesse naquele berçário.   

— As outras já podem vir comigo. — Edward acompanhou as outras enfermeiras para fora do quarto onde estávamos. Restou apenas eu, Matthew e a mulher que me olhava amedrontada.   

— Agora me diga, o que você fez com a minha filha. — engrossei a voz, na tentativa de deixá-la mais apavorada, para que falasse de uma vez. 

— Eu não fiz nada, juro. — As lágrimas caiam de seus olhos, escorriam incessantemente por seu rosto.   

— Me fale por bem, ou…  

— Richel! — Matthew chamou minha atenção ao me ver colocar a mão na arma que continha na minha cintura. — Não vai conseguir nada assim. 

— Foi um homem, ele me pediu que pegasse a menina e levasse pra ele do lado de fora do hospital. Eu fiz apenas isso, quando a entreguei voltei rapidamente para dentro da maternidade, eu não sei oque ele fez com ela, eu juro. — entre seus soluços disse o que eu queria ouvir, mas não era o suficiente.   

— Como era esse homem? — Matthew perguntou com calma, segundo ele, deixar a mulher nervosa e com medo não iria nos ajudar.  

— Alto, seus cabelos eram escuros, não tinha aparência de tão velho, seus olhos eram claros e tinha uma tatuagem no pescoço.   

— Que tipo de Tatuagem? Consegue se lembrar?  — Matthew fez a pergunta enquanto me olhava, a descrição era familiar.  

— Se não me engano era um leão com uma coroa, só me lembro disso. — respondeu limpando suas lágrimas.  

— O símbolo dos Lions… — sussurrei, sentindo um nó em minha garganta.  

— A primeira geração da gangue do seu pai, o pacto de lealdade que Sebastian tanto me disse. 

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A cada minuto que passava, eu tinha mais certeza do que estava prestes a fazer, não sentia medo, não sentia vontade de voltar atrás, eu apenas queria fazer tudo aquilo rapidamente. Pensava que, quanto mais rápido fosse, mais rápido teria minha filha de novo em meus braços.  

— Você é pontual. — me olhou assim que me sentei em sua frente.  

— Não gosto de atrasar meus compromissos, e esse é muito importante. — Respondi, chamando em seguida o garçom.  

— Deve ser realmente importante, pediu pressa em me ver. Me diga Decker, o que devo a honra?  

— Acho que nós queremos algo em comum. — Jason me olhava pensativo. Enquanto isso, eu pedia dois copos de whisky com gelo. — Ainda não sabe?  

— Acho que não, talvez esteja passando algo pela minha cabeça, mas deve ser impossível ser o mesmo que você quer.  

— Impossível porque? — Dei um gole em minha bebida assim que ela foi entregue. 

— Seu pai nunca quis a união dos tráficos, porque você iria querer?  

— Poder, riqueza, vingança. — Dei de ombros.   

— Vingança? — Me olhou curioso. — Contra quem?  

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— Ri-Richel, abaixa essa arma. — Implorava com as mãos levantadas.  

— Me diga John, como foi tirar a filha dos braços da mãe? — Minha mão tremia, estava nervosa.  

— Vamos conversar com calma, por favor.   

— O que você fez com ela?   

— Richel…  

— EU PERGUNTEI O QUE VOCÊ FEZ COM ELA! — Gritei, o fazendo fechar os olhos por alguns segundos e respirar fundo. 

— Eu… Eu dei a um homem que a comprou, ele disse que daria à menina a filha dele que não podia mais ter filhos.  

— Você vendeu a minha filha… — sussurrei, sentindo meus olhos marejarem.  

— Eu não a vendi, apenas cumpri a ordem de entregá-la ao comprador. — John parecia mais calmo, deu alguns passos até mim e pegou a arma da minha mão. — Eu sinto muito, mas fui obrigado.  

— Quem deu essa ordem?  

— Acho melhor você não saber.  

— Diz logo quem foi o desgraçado que vendeu a minha filha. — Engrossei a voz novamente.  

— Foi o seu pai.

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