Capítulo 03

— Seus pais estão em casa agora, lhe esperando. Suas amigas: Luísa e Lorena, estão na festa que está sendo dada na faculdade em que você faz administração, também lhe esperando. Eu sei onde você mora e estuda, e eles também. Eu não vou lhe machucar, mas eles vão. E tem mais vindo aí. Ou você me solta e seguimos adiante ou volta para casa ou para a festa e causa uma chacina com todos que você ama. Eles não vão parar. — Ele disse após reverter à situação e me prender ao chão enquanto segurava as minhas mãos e ficava por cima.

— Como sei que também não vai me machucar? — Eu falei sabendo que dali eu não conseguiria sair, eu realmente estava imobilizada.

— Eu sei que é pedir muito, mas preciso que confie em mim. Ally. Estou tentando proteger você. — Ele falou respirando fundo e soltando minhas mãos. — Se eu quisesse lhe matar já tinha metido uma bala em sua cabeça.

— Tá. — Recuperei o fôlego enquanto o encarava, Ele havia me chamado pelo nome íntimo, nome que só a minha família chamava e aquilo havia me causado algo estranho. Ele havia vencido e eu não sei o porquê mas parecia estar sendo sincero, era lógico que ele já teria me matado se quisesse. — Pode sair de cima de mim agora.

— Me desculpe. — Ele falou se levantando e me dando a mão para levantar.

Assim que nos levantamos do chão percebemos um carro ao longe na velocidade da luz, corremos até o carro dele, entramos e ele deu a partida, seguimos caminho entrando e saindo de ruas até despistar o carro que nos seguia. Além do pavor de tudo que estava acontecendo, uma ironia rodava em minha cabeça... "Não morri com malucos e sequestradores para morrer por entrar em uma rua errada dessas e ser alvejada de tiros" Ainda estávamos no Brasil. 

— Por que tudo isso está acontecendo? O que eu fiz? Quem é você? — Perguntei tentando controlar todo o desespero que surgia em minha mente.

— Gael. Não é o que você fez. — Ele falou com a voz mais tranquila. —É o que você pode fazer. Eu não tenho como lhe dar as respostas que você quer agora. Mas, darei quando estivermos num lugar seguro. Ok?

— Ok. Gael. — Falei me conformando por hora. Aquelas palavras estavam rodeando minha mente.

Meus pais ficariam preocupados quando percebessem que eu não voltei para casa e aquilo estava me matando.

— Meus pais vão ficar preocupados. – Eu falei.

— Você vai ligar para eles e vai dizer que vai dormir na casa de uma das suas amigas, a Luísa. Os pais dela estão viajando e os celulares estão fora de área então não terá como eles conferirem, sua amiga perdeu o celular hoje. — Ele deu de ombros.

— Como você sabe de tudo isso? — Perguntei confusa.

Ele me encarou novamente e voltou a olhar para a pista, acredito que aquilo tenha sido a resposta.

— Meus pais vão viajar amanhã, vão desconfiar de eu não estar lá para me despedir. — Falei tentando mais uma vez.

— Não vão; você vai tentar ir, mas vai ter um engarrafamento num dos caminhos para a sua casa e você não vai chegar a tempo para se despedir.

— Você vai criar um engarrafamento? — Falei ironizando.

Ele me olhou novamente com um sorriso no canto dos lábios. Eu suspirei. Ficamos na estrada por uns vinte minutos e eu percebi que havíamos saído da cidade.

— Para onde estamos indo? — Perguntei olhando o nada adiante.

— Normalmente, você costuma fazer tantas perguntas assim? — Ele falou estreitando os olhos para a estrada.

— Não, só quando sou sequestrada por um louco de olhos brancos, e entro em um carro com outro para um lugar que eu nem sei onde. — Ironizei enquanto olhava pela janela.

Ele abriu um sorriso que parecia ser sarcasticamente descontraído. Não era nada engraçado, mas ele estava achando! Eu fiquei olhando pela janela a nossa rota pelo nada até que apareceu uma casa, e dez minutos depois apareceu outra, até que ele parou o carro no fundo de uma das casas do caminho.

— Fique em silêncio. — Ele sussurrou.

Descemos do carro com o mínimo de barulho possível e caminhamos pelo escuro até a janela dos fundos da casa. Ele encarou o lado de dentro percebendo que não havia ninguém no andar debaixo, então nos afastamos um pouco para que ele pudesse observar o andar de cima, estava tudo apagado. Ou não tinha ninguém, ou estavam todos dormindo. Um pouco afastado da casa havia um local fechado que parecia ser uma garagem com fechadura normal. Ele tirou um grampo do bolso e abriu a fechadura me dando espaço para que eu pudesse entrar.

— Aos dezenove anos vou presa por invadir propriedades. Isso é ótimo. — Ironizei.

— Só se você for pega. — Ele deu de ombros entrando depois de mim.

No lugar havia um carro, um balcão com ferramentas e atrás desse balcão um espaço vazio que dava para uma janela.

— Fique aqui que eu já volto. — Ele falou voltando por onde entrou.

— Vai me deixar... — Antes que eu pudesse terminar de falar ele saiu. Suspirei.

Parecia um filme de terror onde eu era deixada para trás num lugar desconhecido para ser morta, tentei tirar aquele pensamento da minha cabeça e fiquei olhando pela janela do fundo para o nada. Senti a porta ser trancada atrás de mim, depois ouvi o barulho do carro e quando meu coração vi que ele estava estacionando o carro atrás da garagem, então pulou a janela entrando novamente.

— Achou que eu ia lhe largar aqui né? — Ele falou com um sorriso debochado no rosto.

— Claro que não. — Dei de ombros, nem eu acreditei naquela mentira.

Gael pegou dois cobertores que estavam no carro dele, forrou o chão atrás do balcão com um e me deu o outro para que eu pudesse se enrolar.

— Que confortável. — Ironizei.

— Se quiser deitar na grama lá fora é mais confortável. — Ele falou se sentando ao meu lado e se apoiando no balcão.

— Haha. Preciso ligar para os meus pais. — Falei.

— Tudo bem. — Ele disse me dando o celular.

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