Capítulo 04

Conversei por telefone com a senhora Albuquerque que marcou uma reunião em sua mansão para resolvermos a questão de pagamento e do que seria exigido de mim. Eram quatro da tarde quando cheguei na mansão. Ela pediu pra que um dos seus motoristas fossem me buscar no meu apartamento, talvez ela estivesse com medo que eu mudasse de ideia, não posso julgá-la porque falei tantas vezes que não aceitaria sua proposta e lá estava eu, prestes a entrar na zona perigosa. Quando passamos pelo grande portão, meu coração começou a palpitar, o trajeto foi um pouco demorado pra alguém tão ansiosa como eu estava. Nunca tinha estado antes em uma mansão como aquela tão luxuosa. Fiquei deslumbrada com tanta beleza, eles tinham até mesmo um chafariz!

— Senhorita. — o motorista disse chamando minha atenção.

Limpei uma babinha no canto da boca na manga da camisa. Encarei o senhorzinho de cabelos grisalhos, sorrindo simpática.

— Obrigada! — agradeci por ele ter aberto a porta do carro pra mim.

A governanta da mansão aguardava-me logo ao lado do carro. Como sabia que era a governanta? Simples, ela estava com um uniforme diferente dos outros empregados! Tinha uma moça jovem perto das rosas brancas que sequer notou minha presença. Com certeza, ela era parente da senhora Albuquerque, pois eram parecidas. Não sabia muita coisa sobre aquela família, somente os escândalos que saiam nos jornais. A governanta pediu para que eu a acompanhasse e assim fiz.

Caminhamos em silêncio pelo grande salão. Vi algumas faxineiras fazendo a limpeza de alguns vasos aparentemente caríssimos. Para aquele serviço não bastaria apenas uma? Perguntei-me, continuando a seguir a governanta. Gente rica tinha um gosto bem peculiar de móveis, pareciam todos antigos! Cada passo me sentia desconfortável. Não conseguia esquecer que uma fisioterapeuta levou um tiro naquele lugar, mesmo com tantos seguranças, não conseguiram evitar. Precisava de dinheiro pra comprar o colete aprova de balas, não queria meu corpo todo perfurado por causa de Theo Albuquerque!

Paramos em frente a uma das portas fechadas. Senti um arrepio pelo corpo. A governanta abriu a porta, pedindo para que eu entrasse que a senhora sua patroa aguardava-me. Era um enorme escritório! Fui recebida pela senhora Albuquerque com um aperto de mão.

— Obrigada, por aceitar finalmente minha proposta, senhorita Campos. — disse ela, formalmente. — Sente-se! Vamos conversar um pouco sobre meu filho.

Assenti, sentando em seguida no pequeno sofá de três lugares do seu escritório.

— Espero que a senhora seja bem generosa porque estou arriscando minha vida...

O que foi? Claro que tocaria primeiro no assunto do dinheiro! Afinal, a razão deu ter ido até lá era essa! Esperava que ela não fosse uma mesquinha.

— O valor do dinheiro vai depender do seu trabalho. Theo, não é um rapaz fácil de lidar. Inicialmente, pagarei dez mil reais semanais. Não vou mentir pra senhorita, ele pode ser grosseiro e insolente, fará de tudo para que desista de ajudá-lo no tratamento. Peço que em momento nenhum o chame de aleijado, por mais que ele possa lhe ofender. Como sei o gênio forte que ele tem, lhe dou carta branca para respondê-lo a altura sempre que precisar.

Ouvi com atenção sem parar de pensar nos dez mil que foram oferecidos pelos meus serviços. Dez mil reais para uns não significava nada, mas pra mim era um dinheirão da porra!

— Meu filho é sensível, embora não demonstre que seja. A depressão veio depois do acidente de moto que sofreu com um dos seus amigos. Os médicos disseram que com tratamento ele pode voltar a caminhar normalmente como antes. O difícil é convencê-lo disso, entende? Ele recusa-se a qualquer tratamento, nem mesmo os psicólogos conseguiram convencê-lo disso. Ele dorme profundamente durante a noite a custas de medicações fortes...

Não tinha como eu ficar indiferente a tudo que aquela senhora me contava sobre seu filho. Me senti uma cretina por ter pensando apenas no dinheiro.

— Senhora Albuquerque, não posso prometer um milagre, no entanto, tentarei de tudo para que seu filho volte a caminhar normalmente. Espero que ele se recupere da depressão e volte a ser quem um dia foi. — falei de todo coração. Por mais difícil que ele fosse, eu também era cabeça dura.

— Com sua ajuda, com certeza, ele ficará bem. Obrigada, senhorita campos por aceitar esse grande desafio. Quando pode começar? — perguntou demonstrando ansiedade. Vi em seus olhos azuis esperança.

— Amanhã mesmo, caso a senhora me dê um adiantamento, pois tenho dívidas para pagar. — confessei, coçando a testa e continuei. — Precisei sair da clínica por motivos pessoais...

Ela não tinha porque saber do meu pé na bunda da clínica. Fiquei com receio dela negar-se a liberar o adiantamento.

— Me passe os dados da sua conta bancária que agora mesmo faço uma transferência da metade do dinheiro. — respondeu, aliviando minhas preocupações.

Após ela transferir o dinheiro pra minha conta, foi como se um peso saísse dos meus ombros. Combinamos que no dia seguinte eu seria apresentada ao seu filho, conhecia ele apenas por fotos e revistas de fofoca. Os Albuquerque eram do ramo do petróleo, dinheiro era algo que não lhes faltava. Não gastaria dinheiro com táxi, pois ela disse que todos os dias um dos seus motoristas me buscaria no meu apartamento. Retornei pro meu lar com o mesmo motorista.

Já no meu apartamento liguei o som alto e corri pra debaixo do chuveiro. Um banho demorado e revigorante. Com pensamentos positivos saí do banheiro. Enrolei a toalha nos meus cabelos úmidos, caminhando até o closet. Uma das vantagens de morar sozinha era que poderia ficar nua que ninguém falaria nada. Coloquei roupas confortáveis, saltitando pelo quarto em seguida.

— Aí! — resmunguei ao bater o pé na perna da cadeira. — Isso dói, caralho!

Okay, não deveria ter exagerado na empolgação. Nem sabia se sobreviveria ao primeiro encontro com meu paciente no dia seguinte. Não queria ter que devolver o dinheiro se algo desse errado. Ficaria preparada para enfrentá-lo e manter meu novo trabalho fossem quais fossem as consequências. 

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