Que é ele?

Meu coração deu um salto no peito só de pensar em perguntar dele para Raquel. Mas antes de fazê-lo, eu o procurei novamente com os olhos.

Surpresa, vi que ele olhava em minha direção. Senti um arrepio na espinha, quando nossos olhos se encontraram. O sangue ferveu nas veias com um nervosismo anormal. Meu Deus, eu não era assim....

 Com a expressão séria, ele levantou a lata de Coca-Cola que ele segurava, numa saudação. Eu sustentei o olhar dele e lhe dei um leve sorriso, fazendo com que ele sorrisse também.

Com dificuldade, voltei minha atenção para Raquel que o olhava também, pois com certeza seguiu o meu olhar.

Raquel, torcendo o nariz, virou a cabeça em minha direção.

—Nada disso! Ele não é para você.

Eu engoli em seco, me sentindo decepcionada com as palavras dela.

—Você está interessada nele? —Perguntei vermelha, extremamente constrangida.

—Gregory? Imagina. Nunca que eu namoraria um pé rapado como ele. E ele é meu primo.

Eu senti uma leve vertigem com as palavras ferinas dela. Me senti mal.

Com o coração acelerado o fitei novamente. Realmente, suas roupas eram bem gastas. Mesmo assim, ele se destacava entre os jovens, digamos, bem arrumados, presentes na festa.

—Seu primo? Você nunca me falou dele. —Eu me senti curiosa em relação a ele.

—Sim. Gregory é filho da minha falecida tia, por parte de mamãe. Ele comprou um pequeno apartamento em Hurley, que está reformando. Por isso ele ficará um tempo conosco até o apartamento ficar pronto. Ele não é daqui ele morava em York. Mas não se iluda com ele. O apartamento não tem elevador, é num bairro pobre, cheira mofo e tem umidade para tudo quanto é lado. E para piorar, ele está desempregado. E para piorar mais ainda, ele não tem profissão definida. É do tipo faz tudo.

Eu engoli em seco, triste com a descrição que ela me fez de Gregory. Enxerguei um grande contraste da minha vida com a dele, um grande abismo entre nós.

 Tornei a fitá-lo, discretamente. Ele sorria para Jonas. Novamente nossos olhos se cruzaram. Ele falou qualquer coisa para o senhor Jonas e me fitou decidido, engoli em seco.

  — Shiiii, ele vem para cá. O afaste de você. Esse cara é curva de rio. Seu pai nunca o aprovaria. Já sabe. — Raquel me disse séria e se afastou contrariada.

Desviei os olhos de Raquel e, nervosa, assisti ele caminhar na minha direção. Passos decididos como um felino. Olhos negros e quentes fixos em mim. Um pouco antes de ficarmos cara a cara, seus olhos passaram rapidamente pela minha figura, me medindo de cima a baixo. Eu tremi na base e nesse instante tive a plena certeza de quanto ele mexia comigo.

Será que ele percebia isso? Com certeza! Eu era muito transparente. Como ele não perceberia se desde o momento que eu coloquei meus olhos nele, fiquei perturbada, atraída e a cada minuto, o procurava com os olhos?

Quando ele parou na minha frente, eu estava com minha garganta seca, meu coração agitado e me sentia quente por dentro.

—Gregory Thompson. Sou primo de Raquel. — Disse com uma voz profunda e agradável. E estendeu a mão para mim.

E euuuuuuuu?

Fui nocauteadaaaaaaaaaaaa.

Meu Deus, que sorriso era aquele?

Lindo!

Ele deveria ter parentesco com índios ou negros. Nunca vi dentes tão perfeitos.

Torci para ele não perceber meu coração pulando no peito que parecia participar de alguma maratona, fazendo saltos ornamentais batendo contra as minhas costelas.

Abri a boca, mas não consegui que saísse som algum. Limpei a garganta.

—Sacha, amiga de Raquel. —Sorri, disfarçando meu nervosismo e peguei a sua mão.

Ao sentir o calor das mãos dele, eu estremeci. Ele demorou um pouco para soltá-la e quando o fez, eu ainda conseguia sentir o calor da mão dele na minha.

 Ele se aproximou mais, quase dei um passo para trás de tão assustada com os sentimentos fortes que ele provocava em mim e de tão perturbada que eu estava. Desviei meus olhos da intensidade dos negros dele. Eles caíram em seu peito peludo à mostra, pela camisa semiaberta.

Pior!

Vermelha, desviei meus olhos daquela massa de pelos castanhos, tentador, e o encarei novamente.

— Você veio sozinha?

—Sim.

Ele sorriu torto. Seus lábios eram muito sexys. Carnudos.

Lindo.

Seu rosto foi ficando sério.

—Vi você acompanhada. Aquele rapaz que estava com você, é seu namorado? — Ele me observando daquele jeito, me tirava o foco, e eu me tornava menos racional. Não estava gostando nada daquilo.

Fiz uma pausa de alguns segundos.

— Não. Eu o conheci aqui.

Ele sorriu, pude ver um brilho de satisfação em seus olhos e ele abriu mais ainda o sorriso.  Os olhos me encarando intensamente me intrigaram. Uma aura de força muito grande emanava dele e não era por causa de sua altura, um metro e oitenta, e nem seu sorriso ser o mais bonito que já vi. Ele passava uma imagem de um homem lutador...

Predador? 

Com esses pensamentos eu o temi. Raquel se colocou ao nosso lado.

—Gregory, nos dê licença.

Raquel me puxou para longe dele.

—O que está fazendo? —Eu perguntei, me sentindo contrariada por ela ter me afastado de Gregory.

—Te salvando. Ele é lindo. Realmente bonito. Mas não vale a pena.

Eu parei no meio do caminho e puxei a minha mão.

—Eu que decido isso, Raquel. Já basta meus pais que me controlam o tempo todo.

Ela suspirou.

—Tudo bem. Se você quer alguém que não sabe nem ler e escrever direito. Ele é todo seu.

O que ela falou me deixou pálida.

Não sabia ler, nem escrever direito? Ele parecia ser tão inteligente...

Henry se aproximou de nós.

—Raquel, você me dá licença agora, pois monopolizou muito sua amiga. —Ele disse sorrindo para ela, mas com um brilho decidido nos olhos.

—Tudo bem.

Ele me encarou.

—Vamos continuar onde paramos?

Eu baixei meus olhos ainda pensando no que Raquel me disse.

—O que foi? O que Raquel lhe disse para estar assim, tão chateada?

—Não quero falar sobre isso. —Balancei a cabeça. Foi melhor assim.... Tentei me convencer que realmente Raquel me salvou. —O que você faz? —Perguntei, mudando de assunto.

Henry passou a mão pelos cabelos.

— Sou estagiário no hospital, assim como Travis. Aquele rapaz que você conheceu. Estudo pediatria, estou no último ano.

—Linda sua profissão. —Eu disse com um sorriso. — Você parece tão novo.

— Tenho vinte e oito anos.

—Nossa, nem parece.

—Obrigada. —Ele então me olhou pensativo. — Gostei muito de você Natasha. Uma pena que meu tempo é tão tomado. Mas gostaria de te ver algum dia... Podemos sair, comer um lanche, visitar um museu... —Ele disse a última palavra de forma debochada.

Museu? Sorri com o bom humor dele.

— Perdi alguma coisa? — Raquel disse, brincando. Ela estava incomodada por Henry se aproximar de mim.

Henry fitou Raquel, impaciente.

—Você não tem nada para fazer, Raquel?

Ela sorriu.

—Desculpe. Não está mais aqui quem falou.

Ela se afastou de nós, chateada.

—Você mora longe daqui? — Henry indagou, estudando minha reação.

—Não. —Disse seca.

A música Please Don't Go de The Sunshine Band, tomou conta do ambiente. Senti a presença de alguém ao meu lado. Era Gregory. Meu coração deu um salto no peito, eu respirei com dificuldade.

Observei Henry. Ele parecia incomodado com a presença de dele ao meu lado. Gregory vendo a reação de Henry; sorriu de lado para mim com um traço levemente cruel.

— Dança comigo? —Gregory me convidou estendendo a mão.

Eu levantei as sobrancelhas surpresa. Desviei os meus olhos dos dele por um instante. Fiquei indecisa alguns segundos, pensando se aceitava ou não.

Estava tão amedrontada com os sentimentos que ele me provocava... meu pai não iria aceita-lo. Mas quem falou em namorar? Eu podia curtir o momento! Só o momento? Era isso que eu realmente queria? Eu conseguiria depois de experimentar os braços dele sair ilesa?

Levantei o rosto a fim de recusar, mas quando meus olhos verdes se encontraram com os intensos olhos negros dele, eu me perdi neles. Minha mente ficou embotada, e meu coração bateu mais rápido, as pernas quase fraquejaram. E o medo do desconhecido se perdeu dentro de mim.

— Danço. —Com minha resposta, ele me deu um lindo sorriso. Peguei sua mão, na hora senti um choque instantâneo, pelo calor de sua pele e pela conexão do seu toque.

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