CAPÍTULO III

Dando um pulo sentou na cama assustada. Tudo não passara de um pesadelo, tinha que ser um pesadelo!

Respirou fundo e afastou com as mãos as mechas do longo cabelo dourado que lhe caíam em cima dos olhos.

Olhou para um lado, depois para o outro, não tinha a menor idéia de onde estava. As lembranças vinham aos turbilhões em sua mente, deixando-a ainda mais confusa.

Quando a realidade de tudo que acontecera desabou sobre ela, sentiu um nó enorme se formar em sua garganta e seus olhos se encheram de lágrimas.

Jogou o corpo para trás com violência. O colchão de plumas afundou com o peso do seu corpo que caía. 

Colchão de plumas? Que cativeiro era aquele que tinha colchão de plumas?

Suspirou mais uma vez e resolveu que não iria adiantar nada, ficar enterrada naquela cama chorando e sentindo pena de si mesma.

Olhou para o teto e viu que este era forrado de madeira de boa qualidade, inclusive os detalhes de acabamento mostravam que o artesão se esmerara no trabalho. Bem ao centro pendia um lustre em forma de lampião, com detalhes em cobre e latão. O quarto era espaçoso e bem mobiliado, sem exageros naturalmente. Os móveis em madeira eram pesados e bem polidos,  todos em linhas retas, sem entalhes. O acolchoado e as cortinas eram de um xadrez colorido que dava um ar de aconchego e alegria ao ambiente.

Mas que diabo! Que lugar era aquele? Não se parecia em nada com um reduto de marginais.

Apurou os ouvidos e tentou escutar algum barulho, alguma indicação da presença de alguém na casa. Levantou e foi até a porta, encostou o ouvido e esperou. Nada, nenhum som.  Estaria sozinha ali? Teria que sair para investigar.

Quando avistou sua imagem no grande espelho colocado na parede, empalideceu. Quem teria tirado as suas roupas e lavado seu rosto? Suas mãos também estavam limpas, constatou. Tinham-na colocado para dormir apenas com suas peças íntimas, estava sem o espartilho e sem as meias. Deixaram-na apenas com a calçola e o fino corpete de cambraia. Puxou um pouco a calçola e notou que seus joelhos esfolados tinham sido limpos e haviam passado um ungüento  sobre o ferimento. Franziu a testa sem entender e olhou pelo quarto em busca de suas roupas, não encontrou nada. Será que pretendiam mantê-la ali só com as roupas de baixo?

Agachou-se e olhou embaixo da cama, por trás das poltronas, dentro do único armário do quarto, no baú. Nada! Nada, nada, nada – bateu com os pés no chão, esperneando de raiva.

Malditos! Eles iam ver só, se iriam conseguir mantê-la ali cativa, somente por não ter roupas. Ela seria capaz de fugir nua em pêlo. Ah! Se seria.

Pegou o lençol da cama, enrolou-o nos ombros e foi até a porta espiar. Nem o sapato ela encontrou.

Abriu uma fresta na porta e espiou, não tinha ninguém. Saiu! Olhou para os dois lados, decidindo para onde ir. Do lado esquerdo, o corredor se alongava com várias portas fechadas até  o corredor acabar em uma janela de vitrais azuis. Do direito, o corredor terminava em uma sala pequena com várias portas que deveriam levar a outros ambientes.

Decidiu tentar a sorte pelo lado direito, que parecia dar para alguma saída. Pé ante pé, chegou ao portal que estava a sua frente e antes que pudesse recuar, dois olhos brilhantes se cravaram nela.

- Dios! Gabriel. De onde surgiu esta criatura? – disse uma  morena que estava sentada do lado direito do homem  estava na cabeceira da mesa.

- Sí, de onde surgiu esta mulher desvestida e descabelada? – falou uma segunda mulher sentada do outro lado.

O anjo loiro e descalço parado na entrada da sala de refeições, parecia mesmo uma criatura encantada. Envolta em um lençol branco, com os cabelos ondulados cor de mel e entremeados de mechas de um loiro bem claro que caíam em cascata até a cintura, era uma visão  de tirar o folêgo.  

 Os olhos um pouco inchados  e as faces rosadas como o de uma criança que acabava de sair da cama, formava um quadro extremamente encantador. Seus olhos castanhos escuros eram grandes e  amendoados, seus cílios eram longos e escuros e as sobrancelhas também escuras e arqueadas, contribuíam para aumentar o magnetismo daquele olhar.

– É uma nova hóspede , mas pelo que pude entender ela só fala inglês. Infelizmente o entendimento entre vocês será  difícil – falou com um sorriso irônico nos lábios.

Beatrice continuava parada na soleira da porta como um “dois de paus”. Felizmente conseguia entender o que diziam, não falava muito bem o espanhol mas compreendia praticamente tudo. Esta era uma informação que iria guardar para si, eles não precisavam saber que ela entendia o que falavam, talvez isto lhe trouxesse alguma vantagem.

– Gabriel, querido – continuou a beldade morena sem tirar os olhos dela. – Será que já está entediado com a nossa companhia? – fez um beicinho e voltou os olhos para o homem.

– Será que duas não são suficientes? – falou a outra mulher. – Você parecia estar muito satisfeito em ter nossa atenção exclusiva antes desta viagem. Quando saiu daqui, há dois dias, não parecia estar precisando de outra mulher.

– E também, o conheço há bastante tempo para saber que você nunca gostou de loiras aguadas. Sua preferência sempre foi pelas morenas fogosas e exuberantes – falou novamente a  morena. Em seguida pegou uma das mãos do homem e  levou-a à face,  esfregou o rosto na palma da mão máscula e morena, deu beijinhos e por fim percorreu com a língua, despudoradamente, a palma da mão.

Enquanto recebia os carinhos, o homem moreno encarava Beatrice de maneira direta, parecia não  perder nenhuma de suas reações. Ela fazia um enorme esforço para conter suas emoções e não revelar o quanto estava indignada, com as palavras e atitudes daquelas mulheres que agiam de maneira estranha, com intimidade exagerada. Será que a morena seria esposa do ladrão? E a outra?

Ruborizada diante dos carinhos que a beldade morena continuava fazendo, virou-se para sair da sala.

Gabriel levantou rapidamente e num instante   segurava-a pelo braço. Para sua grande surpresa, ele falou em inglês.

– Senhorita, não saia. – Olhou-a diretamente nos olhos. - Sente-se conosco e tome seu desjejum. Deve estar com fome, pois quando chegamos a senhorita não tinha condições para mais nada, a não ser dormir.  – Com uma leve pressão no seu braço, a fez virar-se. Puxou uma cadeira e ajudou-a a acomodar-se.

– Anastácia! – gritou ele.

Logo, uma negra alta e robusta entrou na sala trazendo uma bandeja. Olhou para ela com curiosidade e um certo ar de repreensão, enquanto colocava o café da manhã à sua frente. 

Beatrice olhou para ela com certa impertinência. Quem aquela negra pensava que era para repreender-lhe por alguma coisa? Não passava de uma criada de bandido, uma pessoa que se sujeitava às ordens de um ser desprezível que ganhava a vida roubando e raptando pessoas inocentes. Ela que se mantivesse em seu lugar e não ousasse fazer nada contra ela. Lançou outro olhar zangado à negra e quando voltou a olhar para o homem, viu que ele continuava estudando suas reações.

Fez uma careta malcriada para ele, a qual, fez aparecer um amplo sorriso  no rosto moreno. Por uns instantes Beatrice ficou fascinada, dentes perfeitos e muito brancos contrastavam com a tez bronzeada. Os lábios sensuais e as ruguinhas que se formavam ao lado dos olhos, suavizaram suas feições,  lhe dando uma aparência de menino.

Com mil demônios! Que bandido afinal era aquele? Tinha ares de fidalgo, vestia roupas simples mas de excelente qualidade. Seu esconderijo era uma casa bem cuidada e provavelmente era casado com uma daquelas mulheres. E o pior de tudo! Era atraente por demais.

O cheiro maravilhoso do café fresco e pãezinhos quentes colocados à sua frente, fizeram com que sua boca  enchesse d’água. Seu estômago roncou e Beatrice olhou em volta, para ver se alguém notara. Ninguém lhe prestava atenção neste momento. Então cedendo a fome, comeu com grande satisfação.

Com o rabo de olho, Gabriel seguia todos os movimentos e expressões da loira que comia com vontade. Entre uma mordida e outra, soltava suaves suspiros. Quando passou a língua pelos lábios, lambendo um bocado de manteiga que ali ficara, Gabriel sentiu uma tensão crescente na virilha e um arrepio lhe subiu pela espinha. Incomodado, se retesou na cadeira para disfarçar seu estado e voltou a atenção para suas companheiras, passou a conversar em espanhol com as duas, com isso pensava colocar de lado a inglesinha petulante.

– Consuelo, está redondamente enganada sobre esta jovem, ela é apenas uma hóspede ocasional. Assim que eu tiver mais informações, tomarei algumas providências e ela irá embora. Meu interesse por ela, nada tem a ver com a nossa relação.

– Posso ao menos saber qual o interesse que tem nesta galega? – perguntou a outra mulher que até agora não tinham chamado pelo nome.

– Isso não é do interesse de vocês. Não ocupem suas lindas cabecinhas com isso, não vale a pena. Continuem agindo como se ela não estivesse aqui. Levantou as duas mãos  e acariciou o rosto das  mulheres ao mesmo tempo. Com isto, deu por encerrada a sua refeição. Levantou-se e saiu sem olhar para trás.

Beatrice olhou para as duas mulheres que agora a encaravam.

Será que aquele homem desprezível, se relacionava com as duas mulheres debaixo do mesmo teto? – pensou. - Que tipo de mulher se submeteria a isso? Por que uma mulher dividiria um homem com outra? Aquilo tudo era ultrajante, só mesmo uma criatura abominável como aquele homem, poderia manter uma relação tão imoral. E ainda por cima elas tinham pensado que ela seria mais uma para o seu harém. Bah! Nem que estivesse louca.

– Você acreditou nele, Soledad?

– Não sei... Mas pensando bem ele não tem necessidade nenhuma de arrumar outra. Ainda mais esta daí – disse com desdém. - É muito magrinha – falou e a olhou de cima em baixo. Soltou um riso rouco e continuou a falar com malícia. – Nós sabemos bem do que ele gosta, não é querida?

As duas continuaram rindo enquanto se serviam de mais café, ignorando-a completamente.

Beatrice  levantou-se e ajeitou o lençol sobre os ombros, saiu da sala e parou indecisa, sem saber para onde ir . Sair da casa enrolada num lençol lhe parecia uma medida um tanto drástica. Trancar-se no quarto seria impensável. Resolveu que deveria ir atrás de alguém para que devolvessem  suas roupas, ou talvez  um pouco dos seus pertences roubados. Afinal de contas não poderia ficar ali em situação tão precária.

Abriu uma porta e entrou numa ampla cozinha muito limpa que recendia a temperos e aromas diferentes e exóticos . Olhou para os lados e não viu ninguém. A porta dos fundos estava aberta e dava para o quintal, espiou  pelo vão e deparou-se com o terreiro rodeado de   canteiros com flores muito coloridas, as quais ela não conhecia e uma horta muito bem cuidada. O gramado chegava até as primeiras árvores que formavam a floresta. Deu alguns passos e a grama úmida molhou seus pés descalços, tinha que arrumar algum calçado – pensou -  de pé no chão não iria muito longe. Observou os arredores e viu a uma pequena  distância  uma outra edificação, devia ser o estábulo –pensou. Galinhas ciscavam pelo terreiro, devagar para não machucar os pés e  espantar as galinhas que poderiam fazer muito barulho, foi naquela direção. Se conseguisse roubar um cavalo, não precisaria de sapatos para fugir.

Ao chegar mais perto, notou  o barulho de pessoas lá dentro. Junto da porta espiou com cuidado, não tinha a menor chance de conseguir um cavalo, o maldito e um negro estavam lá dentro . Voltou-se rapidamente e não se deu conta do balde de lata que estava ao seu lado. Esbarrou no balde jogando-o longe e causando um barulho que para ela soou como um estrondo enorme. Assustada e sem parar para pensar se  viriam atrás dela, saiu em disparada na direção da floresta.

Gabriel quando ouviu o barulho, voltou-se e viu um vulto branco sair em disparada. Imediatamente saiu correndo na mesma direção, vendo que se tratava da inglesa foi em sua perseguição. Aquela maluca poderia se perder na floresta, ser picada por uma cobra,  machucar-se ou até mesmo encontrar algum desocupado vagando por ali – pensou enquanto corria.

Beatrice corria feito louca, quando pressentiu que estava sendo perseguida o desespero aumentou. Tentou correr mais rápido mas seus pés estavam sendo castigados pelas pedras e buracos, não iria agüentar por muito tempo. Mas tinha que tentar, precisava fugir, não poderia ficar esperando para ver o que aquele maluco faria com ela.

Quando alcançou as árvores achou que poderia  se esconder atrás de alguma moita, mas não teve tempo para tentar, logo um braço forte como aço envolveu seu corpo puxando-a para trás. Desesperada, sacudiu as pernas para o alto tentando se soltar. A sucessão de movimentos fez com que Gabriel perdesse o equilíbrio e os dois rolaram pelo chão numa mistura de pernas, braços e lençol.

Ao pararem, ela estava estatelada no chão e ele por cima, acomodado entre suas pernas e sufocando-a com todo seu peso.

- Sua louca! – disse com voz rouca, enquanto soltava uma risada divertida. – Poderia nos matar, se não morrêssemos no tombo, poderíamos morrer enforcados com esse lençol.

Quando ela tomou coragem e abriu os olhos, deu de cara com ele. A ponta dos narizes se tocavam de tão próximos .

– Me solte! Saia de cima de mim seu bandido miserável. Além de roubar e raptar, o que mais você terá coragem de fazer comigo?

– Roubar?

– Sim, você  roubou todos os meus pertences e  ainda teve a audácia de me raptar e me manter cativa nesta casa. O que você pretende? O que vai fazer comigo? – perguntou sem conseguir evitar que lágrimas lhe enchessem os olhos e  seus lábios tremessem.

Ele olhou-a  parecendo um pouco surpreso e confuso. De repente piscou os olhos e abriu um sorriso.

– Ah! Minha loira, neste momento milhares de coisas deliciosas passam pela minha cabeça – roçou levemente os lábios nos dela causando-lhe  arrepio. Tenho muitas sugestões de coisas para fazermos juntos.

O olhar ardente de Gabriel foi atraído para a boca carnuda e sensual. Por um momento ele hesitou, mas   abafou um palavrão e colou os lábios nos  dela.

Ao contato da boca masculina, ondas de choque sacudiram o corpo de Beatrice. Num momento sentia um arrepio de frio e no seguinte achava-se em fogo.

A princípio, a idéia de Gabriel fora a de fazer do beijo uma punição. Mas no instante em que suas bocas se tocaram, a intenção inicial foi completamente esquecida.

Deus do céu, como os lábios dela eram macios, quentes e ... trêmulos.

Um delicioso perfume de rosas se desprendia do corpo feminino, o beijo suavizou-se e os lábios de Gabriel tornaram-se gentis, persuasivos.

Beatrice que tinha se preparado para o pior, aguardava seu destino com os olhos bem fechados e os punhos bem cerrados, servindo de barreira entre seu peito e o do seu algoz.

Estava pronta para resistir a violência de um ataque que alimentaria seu ódio pelo bruto. Mas a ternura com a qual ele a beijou, pegou-a despreparada. Era um beijo totalmente diferente, já fora beijada várias vezes , mas este homem nada tinha a ver com os pavões que freqüentavam a corte inglesa e nem com o seu finado marido.

Aquele homem era forte e viril, irradiava paixão pelos poros e ao mesmo tempo seus lábios eram macios e a excitavam com carícias leves como plumas. O calor do corpo másculo irradiava-se para o seu e Beatrice sentia-se arder, como que percorrida por um rio de fogo.

O cheiro dele, másculo e almiscarado, enchia-lhe as narinas contribuindo para excitá-la ainda mais. Maravilhada, ela sentia o corpo atlético se ajustar às curvas e maciez do seu.

Alheios à sua vontade, os dedos delicados se abriram e agarraram a camisa branca que ele usava. Um suspiro inconsciente escapou-lhe dos lábios e Beatrice entregou-se ao prazer sensual daquele momento.

Experiente na arte da sedução, Gabriel aprofundou ainda mais o beijo deixando-a perdida em meio as deliciosas sensações. Beatrice ofegou quando a língua masculina, invadiu-lhe a boca aveludada numa ousada exploração. O beijo tornou-se íntimo, guloso. Quando sentiu que iria desfalecer diante de tantas emoções estranhas e perturbadoras, ele afastou-se e fitou-a com olhar ardente, cheio de paixão.

Ela era tão doce, tão sensual - pensou. Os olhos escuros achavam-se muito abertos e brilhantes. Incapaz de resistir juntou seus lábios novamente com ardor, com uma paixão que os deixou ofegantes, atordoados.

O calor transformou-se num fogo abrasador, já não sentia medo só excitação, nunca antes experimentada. Os seios firmes e cheios, apertaram-se de encontro ao peito vigoroso e os mamilos se enrijeceram. Um latejar percorreu o seu corpo transformando-a em uma criatura ardente, dominada pelo desejo.

Tanta paixão excitou Gabriel ainda mais. Com enorme esforço ele tratou de se controlar, antes que perdesse totalmente a cabeça e a possuísse ali mesmo. Antes de qualquer coisa tinha que saber quem era ela, para onde estava indo e com quem iria se encontrar. Suas suspeitas aumentavam, principalmente por ela ser inglesa. Não poderia ser tão louco, a ponto de  arriscar  ser preso apenas pelo corpo de uma mulher qualquer.

Reunindo suas forças,  afastou-se e colocou  uma boa distância, a fim de fugir da tentação e esfriar um pouco os ânimos.

Surpresa, Beatrice piscou várias vezes, suspirou e quando abriu os olhos voltou à razão. Fechou-os novamente envergonhada pela sua atitude. Não fora apenas submissa, fora participante ativa em tudo o que acabara de acontecer. Agora precisava arrumar uma saída honrosa que lhe aliviasse a culpa e a vergonha.

Esfregou os lábios úmidos com as costas das mãos e murmurou:

– Acabou de provar que  não passa de um grosseirão, um selvagem.

– Isso mesmo. – Gabriel se pôs de pé com apenas um salto, num movimento elegante. Seu ar zombeteiro irritou-a ainda mais, seus olhos brilhavam maliciosos ao puxá-la para que ficasse em pé. Com o movimento, seus corpos voltaram a se encostar e imediatamente o desejo voltou a assaltá-los. Rapidamente se afastaram como se tivessem levado um choque. Ambos tentavam se convencer de que não sentiam coisa alguma. – Nesse caso – ele prosseguiu – tenha cuidado com selvagens grosseiros, senhorita.

Ergueu-lhe o queixo e  fitou o rostinho encantador. Os lábios dela estavam inchados dos beijos ardentes e essa visão fez com que o corpo masculino estremecesse de paixão contida.

- Da próxima vez – ele continuou falando para disfarçar a perturbação – este grosseirão será capaz de devorá-la inteirinha, “senhorita”. Carregou a última palavra de ironia como se questionasse o fato de ela ser uma dama.

Apontou o dedo para o nariz dele e falou com a voz abafada pela indignação.

– Se ousar me tocar de novo eu lhe arrancarei os olhos, fique certo disso. E para o seu governo, eu não sou uma senhorita – deu uma pausa tentando causar mais interesse. – Sou uma senhora!

 – Ah! Então madame é casada? E por onde anda este excelentíssimo senhor que deixa a mulher sozinha por aí? – disse zombeteiro.

O brilho malicioso nos lindos olhos verdes escuros, contribuiu ainda mais para acirrar a indignação  de Beatrice.

– Saiba que sou viúva e uma senhora de muito respeito – disse empertigando-se e levantou o queixo desafiadora.

Rindo, divertido com a novidade, Gabriel resolveu espicaçá-la um pouco mais.

– Oh! Então tenho em minhas mãos uma viúva, devo crer que seja uma mulher experiente e um pouco mais idosa do que imaginei. Como me explica então, o fato de ter parecido tão surpresa com as emoções causadas pelo beijo que lhe dei? – Um sorriso preguiçoso curvou seus lábios, tornando-o ainda mais bonito.

– O senhor não passa de um bruto. Saiba que sou realmente uma viúva, apesar de ter apenas vinte anos. E não fiquei surpresa com nada, fique ciente que senti apenas nojo, meu estômago está embrulhado até agora. Fui forçada a um ato abominável. O senhor não passa de um bandido asqueroso, malcheiroso que só me causa aversão.

Gabriel levantou os braços,  se cheirou e fez uma careta.

 – “Madame” tem toda razão, não estou assim por dizer perfumado. Mas posso ficar mais cheiroso da próxima vez.

– Nunca mais tocará um dedo em mim.

– Se eu quiser possuí-la  senhora, saiba que nem um exército inteiro poderá me impedir.

Puxou-a pelo braço e começou a voltar para a casa.

Trêmula, com as pernas bambas, Beatrice respirou fundo várias vezes para conter as lágrimas e  recuperar o controle.

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