A mentira

Clara e seus amigos chegaram em Torres à noite, e Jaque os buscou na rodoviária.

— Oi, meninas! Como estão? — perguntou assim que avistou os três amigos aguardando para pegar as malas ao lado do ônibus.

— Jaque! — Sabrina gritou, correndo em sua direção. Ambas eram muito amigas, e a meses não se falavam.

— Sah! Que saudade! — ela a abraçou e a ergueu do chão.

— Edy, você já conhece a minha tia — Sabrina apontou, e Jaque abraçou Edson. — Tia, essa é a minha melhor amiga, Clara, que eu tanto falava — Sabrina passou o braço por cima do ombro de Clara enquanto a apresentava animadamente.

— É um prazer finalmente conhecer a tão famosa Clara. Fico feliz que tenha se juntado a nós esse ano — Jaque a abraçou com ternura. — Vamos, que o Paulo está preparando um churrasco para recebê-los.

Durante o caminho, Clara tentava tirar da cabeça a imagem do amor de sua vida sorrindo com um olhar apaixonado para uma outra mulher, que por sinal era muito bonita. Mas infelizmente não conseguia apagar aquela cena e tais palavras da mente. Olhava pela janela do carro as ondas que se chocavam umas nas outras e que depois lentamente banhavam as areias da praia.

Ah, o mar, quão raivoso podia ser ao mesmo tempo em que era suave e

calmo.

Poderia um dia ela viver na calmaria do banhar das águas?

Ao encarar ao longe as grandes rochas, avistou ondas as agredindo com toda a força, as modelando ao seu dispor, mas ainda assim as mantendo de pé.

Seria assim sua vida dali para frente? Receberia as pancadas da vida, seria moldada, mas permaneceria em pé, firme como as rochas?

Em busca de uma paz que não experimentava há dias, continuava a observar a cidade durante o trajeto, até que o carro estacionou diante de uma pequena, modesta e charmosa casa lilás. Crianças aguardavam ansiosamente a chegada dos convidados, e um homem negro, forte e alto, com cabelo afro, abriu os portões da garagem para que o carro entrasse.

Paulo, um pescador, e Jaque, uma doméstica e babá extremamente requisitada na cidade durante o Carnaval, estavam de folga, pois os patrões de ambos viajavam durante as festas.

— Olá! Como foram de viagem? — Paulo cumprimentou Clara e seus amigos assim que foram recepcionados pelos abraços carinhosos das crianças. Cecília, de quatro anos, Diego, de dez, Bárbara, de doze anos, e Dênis, de dois, que chorava pedindo colo para Jaque, receberam os jovens.

— Cansativa, mas consegui dormir um pouco — Clara respondeu, buscando um local para colocar sua mala enquanto deixava a bolsa em um sofá vermelho no centro da sala.

— Essa aí só dormiu. Eu e o Edy viemos colocando as fofocas em dia, não é, amiga? — Sabrina brincava, puxando Edson pelo braço.

— Sabrina que não parou de falar um minuto, estou com dor no pescoço. Ai! — Edson revidou, rindo e massageando o pescoço na área que doía.

— Vamos jantar, porque hoje tem festa na Cheirinho, o melhor quiosque de Torres. Estão muito cansados? — Jaque perguntou enquanto colocava os pratos à mesa.

— Quer dizer que vocês estão de folga? Jaque me contou no caminho. Finalmente vamos ter os melhores guias turísticos conosco — Sabrina sorriu, abraçando Paulo.

— Esse ano vai ser o melhor! A escola de samba está muito feliz em receber novos integrantes — Paulo respondeu.

— Eu já disse pra Sah que nunca desfilei em escola alguma, nem sei sambar direito — Clara interrompeu.

— O quê? Uma brasileira que não sabe sambar? — uma voz masculina e ainda não conhecida por Clara invadiu a sala.

— Danilo, achei que estava viajando. Chegou quando? — Paulo perguntou ao surfista bronzeado e de cabelos dourados que deixava sua prancha próximo à porta da sala, se escorando na parede.

— Sim! Desde quando toda brasileira precisa saber sambar? — Clara respondeu, incomodada com a voz misteriosa.

Danilo analisava aquelas curvas moldadas em um short jeans curto enquanto, ainda de costas, ela se inclinava para buscar o celular na bolsa em cima do sofá.

— De fato, não precisa, mas isso ainda me surpreende. Quem desfilaria em uma escola de samba sem saber sambar? — perguntou com um sorriso travesso que amoleceu as pernas de Edson imediatamente.

— E quem disse que eu... — Clara se virou, encarando pela primeira vez o dono da voz provocante. Uma rápida analisada a deixou sem fala, Danilo vestia apenas uma bermuda de banho azul e laranja, que ressaltava ainda mais o bronzeado de seu peitoral malhado e seus atrevidos olhos esverdeados com traços âmbar, que se iluminaram pela luz das chamas na churrasqueira próxima à

porta. — É... Eu... não vou desfilar em nenhuma escola de samba — finalizou, desviando o olhar, constrangida ao sentir como se estivesse nua diante da encarada lasciva de cima a baixo que Danilo dera em seu corpo.

— Já disse que você vai! — Sabrina interrompeu, mas os olhos de Danilo não saíram de Clara.

— Eu não vou. E se me derem licença, gostaria de ir ao banheiro. Onde fica, por gentileza? — Clara perguntou, e o silêncio que reinava em meio a todos cessou imediatamente.

— Por aqui, querida, eu te mostro — Jaque disse, indo em direção a um corredor.

— Obrigada — Clara agradeceu e seguiu o mais rápido que conseguiu.

— Não liga não, gatinho. Minha amiga está cansada, mas ela vai reconsiderar o desfile. Sou Sabrina, aliás, prazer — cumprimentou, indo em direção a ele com a mão estendida e um sorriso interessado.

— Eu ainda posso te ouvir, Sabrina, deixa de ser insistente! — Clara finalizou, irritada, ao virar o corredor.

— Aff! Que guria chata! — Sabrina puxava Edson pelo braço para fofocar sobre o sarado quase nu que devorara Clara com os olhos.

— Meu Deus! Abaixa, que é tiro, porrada e bomba! — Edson cochichava baixinho para Sabrina enquanto ia em direção à mesa de jantar. — Que homem é esse, minhas deusas do lacre? Eu queria aqueles olhos me engolindo como fizeram com a Clara. Me segura, amiga! Porque eu quero correr para enrolar meus dedos naqueles cachos dourados. Nunca gostei de homens cabeludos, mas por esses cabelos nos ombros, molhadinhos, refrescando aquele corpinho salgado do mar, eu me tornaria um lobisomem! Auuuu! — finalizou, beliscando o braço de Sabrina.

— Controla essa periquita disfarçada de linguiça! Pelo jeito, ele já tem dona, viu como ficou babando por Clara? Vamos aproveitar a situação, afinal é tudo o que ela precisa! Um homem como esse com certeza fará ela esquecer o babaca do Manuel! — Sabrina confabulou seu plano.

— Um homem desses me faria esquecer até o meu nome, Sah! Olha aquela boca... — Edson continuava a babar por Danilo, que conversava distraído com seu grande amigo, Paulo.

— Vou preparar o terreno para esses dois... Eu sou ótima sendo cupido!

— Sabrina piscou para Edson, que a alertou:

— Vai com calma, Sabrina, não pega muito pesado. É tudo muito recente.

— O que é muito recente? Aconteceu alguma coisa? — Danilo perguntou, demonstrando interesse ao se aproximar da mesa.

— Não é coisa que eu deva contar, se Clara se sentir à vontade, ela mesma...

— O namorado de quatro anos terminou com ela pouco antes de fazer o pedido de casamento. E por telefone, acredita? — ela interrompeu Edson.

— Sabrina! — Edson a repreendeu, dando uma cotovelada.

— Ai! Doeu! — gemeu de dor, devolvendo o gesto.

— Ah! Entendo! Ela precisa de um tempo para superar, e acho que não vai ficar muito à vontade em falar sobre o assunto — Danilo disse, sentando ao lado de Edson.

— Como certeza. Ela precisa de um tempo. Quem nunca precisou de um, não é, meu amigo? — Paulo piscou para Danilo enquanto removia a carne do espeto para pôr em uma travessa.

— Precisou do quê? — Jaque perguntou, retornando à sala.

— Um tempo, amor, Clara precisa de um... — Paulo respondia quando Clara retornou curiosa.

— Preciso do quê? Só fui lavar as mãos para o jantar.

— Um coquetel daqueles que Danilo sabe fazer! Você vai se apaixonar, não é, pessoal? — Paulo tentou disfarçar.

— Isso com certeza é algo que eu preciso. Tem aí? — Clara perguntou, e todos olharam para Danilo em busca de uma saída.

— Não! Mas posso fazer agora mesmo. Tem frutas e vodca, Paulo? — levantou em um pulo.

— Deixa, eu bebo na festa. E outra hora, quem sabe, eu prove do seu famoso coquetel? Obrigada — Clara respondeu Danilo e sentou ao lado de Sabrina.

— Será um prazer, senhorita. — Danilo sorriu, voltando a sentar à frente da jovem.

Durante o jantar, todos sorriam e contavam histórias, desde as de pescadores — que Paulo narrava como se fossem filmes —, até as de paqueras do Tinder, que Edson abrilhantava com as fotos de seus encontros, para que todos votassem nos melhores.

Durante todo o jantar, Danilo e Clara trocaram olhares diversas vezes, era notável a química que sentiam um pelo outro, de modo que o constrangimento anterior parecia já ter ficado para trás.

— Você trabalha com o quê? — Danilo perguntou enquanto cortava um pedaço de carne em seu prato. Evitava olhar para Clara por muito tempo, ou acabaria demonstrando quão bobo estava diante de sua presença.

— Sou fotógrafa estagiária em um estúdio. Mas pretendo continuar me profissionalizando na área, já fiz diversos cursos de fotografia. Acredito que, com a faculdade, vou poder explorar bem mais meus horizontes — respondeu, fixando o olhar nos movimentos dos talheres em seu prato. — Você tem quantos anos? — tentou tirar o foco da sua faculdade, pois era algo que ainda estava pensando a respeito e não queria demonstrar qualquer tipo de insegurança.

— Vou fazer vinte e cinco, mas ainda me vejo com vinte, se quer saber...

— encarou os olhos de Clara profundamente.

— Ah! Meus... parabéns... — gaguejou um pouco. — Trabalha em que área? Ou é um surfista profissional?

— Quem dera se eu pudesse passar meus dias surfando… Trabalho com turismo e hotelaria, é o ramo dos meus pais, na verdade. Como gosto muito de viajar, acaba servindo como experiência profissional.

— Sério? Nossa! Eu amo turismo e hotelaria, se eu pudesse, teria escolhido esse curso na faculdade — afirmou honestamente.

— E por que não escolheu? O que lhe impediu? — Danilo ficou ainda mais interessado.

— Me formei com dezoito anos e digamos que passei o ano passado todo estudando para o vestibular. Eu queria passar para Publicidade e Propaganda, que é a área da minha mãe, apesar de querer muito o curso de Turismo e Hotelaria. Quando passei nos dois cursos, ficou óbvia qual carreira eu deveria escolher. Não podia desperdiçar um ano de esforços e sacrifícios por uma escolha precipitada — respondeu e seu semblante se tornou pesado.

— Por que escolheu a área de atuação da sua mãe? — indagou, curioso.

— Não escolhi a área dela, escolhi a área para qual eu me preparei.

— Mas você disse que é o campo de trabalho da sua mãe, por que escolheu o mesmo? — repetiu a pergunta, instigando a jovem a falar mais.

— Não estou entendendo. Escolhi a área que eu quis. Porque eu quis. Só isso — finalizou, incomodada.

— Tudo bem, me perdoe. Só estava curioso...

— Mas e você, por que escolheu a mesma área dos seus pais? — Clara revidou com a mesma pergunta.

— Já disse, porque gosto muito de viajar, e a profissão me proporciona experiências de viagem. Simples assim.

— Entendi... — Clara voltou a encarar o prato.

Por alguns segundos, Danilo apreciou a sua beleza, analisando cada traço: os lábios finos e desenhados na parte de cima e carnudos na de baixo, convidativos. Seus cílios alongados faziam o acabamento dos olhos, levemente

puxados nos cantos, dando um ar de mistério. A franja longa e dourada, que insistia em cair sobre o rosto, tinha alguns fios que eram delicadamente colocados atrás da orelha, que por sua vez estava enfeitada com uma pequena argola de prata.

— Danilo, você mora em Torres? — Sabrina interrompeu, o lembrando de que havia mais pessoas à mesa. Até aquele breve momento, parecia só existir os dois, ambos mexidos com a presença do outro.

— Aham... Sim! Moro em Torres, mas viajo muito. Então não costumo dizer que tenho uma moradia fixa. Pelo menos enquanto não houver motivos para isso — respondeu e tornou a olhar em direção à Clara, que esboçou um leve sorriso tímido.

Enquanto Paulo tinha a atenção de Danilo em uma conversa animada, Clara aproveitava a distração de todos para admirá-lo: o sorriso leve, o tom manso e potente da voz, a leve sombra de uma barba que nascia sobre seu rosto, as sobrancelhas grossas e os lábios encorpados, que emolduravam perfeitamente o formato do queixo. Os ombros largos recebiam o toque das pontas dos seus cabelos loiros e cacheados. Mas nada se comparava aos olhos, que Clara tivera o privilégio de analisar as cores de todos os ângulos possíveis.

Danilo percebeu o olhar de Clara e por breves segundos retribuiu, lhe mostrando que também estava a observando atentamente. Sentir-se desejada realmente foi um santo remédio, pois Clara se animou para ir à festa.

Não demorou muito, e todos estavam prontos para a primeira noite de festa juntos. Danilo tinha ido em casa tomar um banho e trocar de roupa, já que havia passado o dia surfando, mas logo retornara. Sabrina e Edson estavam ouriçados, incomodando Clara a respeito dos muitos olhares à mesa, o que a deixava constrangida com os planos maquiavélicos que os amigos traçavam.

A Cheirinho estava lotada, todos dançavam ao som de variadas músicas no quiosque mais movimentado de Torres.

Danilo se aproximou quando o DJ começou a tocar um funk mais lento e se aconchegou atrás de Clara, agarrando-a pela cintura em sintonia com a batida. Seus corpos balançavam colados um ao outro enquanto o seu queixo repousava

entre o pescoço e o ombro da jovem, sentindo o frescor de seu perfume doce.

O calor e as sensações inebriantes que Clara sentia em seu corpo, misturados ao álcool de alguns coquetéis, a deixaram nitidamente mais alegre e solta. O interesse em ficar com Danilo aumentava a cada minuto, até que uma loira o puxou bruscamente, chamando a atenção de algumas pessoas ao redor.

— Mas que porra é essa, Danilo? O que você está fazendo aqui? — gritou empurrando-o com raiva.

— Estava só dançando — Danilo respondeu à loira enquanto olhava discretamente para Clara e tentava a manter por perto.

— Era só uma dança. Pode ficar tranquila, somos só amigos — Clara respondeu, tentando amenizar a situação constrangedora.

— Amigos não dançam assim, garota, não me interessa o que vocês são. E eu não estava falando com você! — a loira aumentou o tom de voz.

— Me desculpa! Mas já tenho muito drama na vida para me incomodar, em pleno carnaval, com seus problemas conjugais — Clara respondeu, irritada, igualando seu tom de voz ao da loira, que tinha o rosto vermelho de tanta raiva.

As pessoas ao redor, mesmo com a música alta, já olhavam curiosas para saber o que acontecia.

— Oi, amor, voltei. Busquei as nossas bebidas, cuidou direitinho da minha mulher? — um homem moreno, com olhos azulados, chegou, tomando Clara pela cintura enquanto equilibrava um baldinho com gelo e cervejas no braço. Entregou uma à Clara e outra a Danilo, que pegou imediatamente ainda sem entender.

— Oi, amor. Que bom que voltou, essa garota estava achando que eu e o Danilo estávamos tendo alguma coisa — Clara entrou na onda do homem misterioso, na tentativa de fugir da confusão.

— Com o Danilo, meu amigo? Capaz? Uma dança, e você já está tendo um caso? Credo! Que gente sem noção. É carnaval, garota! Relaxa e curte! — o homem respondeu, entregando uma cerveja à loira, que olhava para ambos, constrangida.

— Vamos! Vamos conversar! — Danilo puxou a loira para mais perto. Após abraçá-la, lançou um “Desculpe” antes de sair em direção à Clara, que se virou, mostrando o dedo do meio com um lindo “Foda-se” nos lábios.

— Desculpe a confusão — a loira direcionou-se à Clara, que já estava de costas, os ignorando.

O homem misterioso a abraçou e caminhou em direção ao bar do quiosque, onde pediu mais cervejas para encher seu baldinho cheio somente de gelo.

— De nada! Agora pode fingir que não me conhece se quiser, mas a loira ainda está nos observando — apontou em direção ao casal, Danilo os encarava com fúria nos olhos.

— Eu não precisava da sua ajuda, mas obrigada. Outro canalha. Os homens são todos iguais mesmo! Namorando e dando em cima de mim descaradamente a noite inteira! — Clara respondeu, levando a garrafa de cerveja

boca em um longo gole.

— Na verdade, é a esposa dele. Conheço Danilo há anos, ele é assim mesmo. Não dá bola! Mas nem todos são como ele, ok?

— Casado? Que merda! — Clara quase cuspiu a cerveja de sua boca, tamanho foi o espanto ao saber aquilo.

— A propósito, sou Leo.

— Me chamo Clara. Prazer, Leo.

— Ela continua nos olhando, quer dar uma volta? — Leo perguntou.

— Vamos! Mas só porque não quero me incomodar com mais ninguém essa noite — disse, deixando claro até onde pretendia ir com Leo.

— Calma! Não vou te incomodar.

— Assim espero... Não acredito que quase me envolvi com um homem casado! — Clara comentou, pegando na mão de Leo e o puxando para fora do quiosque, em direção ao mar.

Caminhar com alguém que salvou sua noite de uma possível discussão sem fim era uma boa forma de passar o tempo. Ela não tinha avistado nenhum de seus amigos, então Leo acabou sendo uma boa maneira de escapar de qualquer problema maior.

O plano de todos, desde o início, era deixá-la a sós com Danilo, e caso todos se desencontrassem durante a festa, deveriam aguardar na barraca de crepes do Sr. Alemão, às seis e meia da manhã, para juntos voltarem à casa de Jaque. Se a noite se estendesse com alguma paquera, deveriam deixar um recado com Bethy, na barraca, para que ninguém se preocupasse.

— Você é de Torres? — Clara perguntou, rompendo o silêncio.

— Não, mas veraneio todos os anos aqui, o que me fez conhecer muitas pessoas na região. — Leo acariciou a mão de Clara.

— Acho que já estamos longe do perigo, eles não podem mais nos ver — disse de maneira irônica.

— Eu sei, mas sua mão é tão macia... E como não sou casado, nem tenho namorada… na verdade, tecnicamente eu tenho uma agora... — ironizou.

— Ah, é? Assim, tão rápido? Me desculpa, mas não estou procurando relacionamentos no momento — Clara respondeu, mas manteve sua mão na de Leo, estava se divertindo com aquela brincadeira.

— Que ótimo! Nem eu, saí de um relacionamento há pouco tempo.

— Eu também. Faz quanto tempo?

— Aproximadamente um mês. E você?

— Alguns dias — Clara respondeu, baixando a cabeça.

Tentava enganar sua própria mente, pensando que tudo tinha sido uma brincadeira de mau gosto. Mas, naquele momento, dizendo em voz alta a um estranho que seu namoro tinha chegado ao fim, tudo se tornava estranhamente real!

— Vamos mudar de assunto. Quer dançar? — Leo convidou, a puxando

com rapidez pela cintura. Clara podia ouvir a música sertaneja vinda do quiosque. O som era tão alto, que se ouvia mesmo estando próximo ao mar.

— Nossa! Assim você vai quebrar minha cintura, vai com calma! — debochou e começou a rir.

Clara e Leo dançaram até ficarem com sede e então decidiram voltar para buscarem mais bebidas. Assim que chegaram, olharam para os lados, mas não viram o casal encrenca.

— Acho que eles foram embora, você está livre! — Leo disse à Clara, desapontado.

— E pelo jeito, você também — respondeu, pegando uma caipirinha das mãos do garçom.

— Pois é! E se eu não quiser? E se estiver gostando da minha namorada de mentirinha? — Ele se aproximou de Clara e a encostou no balcão do bar.

— Pode ser que a namorada de mentirinha também esteja gostando — respondeu, colocando as mãos na cintura do rapaz e encarando seus doces olhos.

Com uma mão, ele a puxou pela cintura e, com a outra, encaixou os dedos, deslizando a mão pela nuca e cabelos, roubando um beijo suplicante.

— O que está acontecendo aqui? — uma voz tentou interromper os dois.

— Clara! — insistiu, e a jovem parou lentamente o beijo ao reconhecer a voz.

— Danilo! O que está fazendo aqui? — Clara se afastou do balcão, olhando ao redor. — Cadê sua esposa? — perguntou, confusa.

— Eu voltei por você e a encontro beijando o primeiro que aparece? — ironizou, furioso.

— Como é que é? Você voltou por mim? Cadê sua esposa, Danilo? E desde quando te devo satisfações da minha vida? — Clara respondeu, irritada.

— Minha o quê? Aquela mulher não é minha esposa. É minha irmã! —

Danilo respondeu, chocado.

— Irmã? Então você é mais doente do que eu pensava!

— Não! Você é louca? Ela é a minha irmã mais nova e só estava brava porque me pegou no flagra...

— No flagra fazendo o quê? — interrompeu, curiosa.

— Pode deixar eu explicar? — Danilo já estava sem paciência.

— Eu não quero mais saber...

— Por favor, me escuta! Eu menti para os meus pais, disse que não passaria o Carnaval na cidade porque não queria uma reunião de família, muito menos viajar com eles. Luiza me viu e ficou furiosa, pois estava aguentando os dois sozinha enquanto eu curtia a festa com você — Danilo respondeu, e a seriedade em sua expressão demonstrava que falava a verdade.

— E por que não me disse? — perguntou, constrangida, por ter tirado conclusões precipitadas.

— Você não me deu oportunidade e depois sumiu com esse cara aí. Agora sei por quê! — debochou, nitidamente irritado.

— Ei, cara! Já viu que ela está comigo, agora vaza! — Leo se manifestou pela primeira vez, após permanecer calado por longos minutos.

— Danilo, o Leo te conhece e disse que ela era sua esposa. Por que continua mentindo? — lembrou-se do que o rapaz havia lhe contado a seu respeito.

— Leo? Quem é Leo? — Danilo perguntou, confuso.

— Como assim? Esse é o Leo — disse e apontou para o homem ao seu lado, que olhava a tela do celular totalmente alheio ao que estava acontecendo.

— Eu nem conheço esse cara. Quem lhe disse isso?

— Leonardo! Você disse que conhecia Danilo e que ele era casado. É

verdade? — Clara deu uma cotovelada em Leo, que parou de prestar atenção no celular para encará-la com desprezo.

— Porra! Tô fora! Podem ficar juntos à vontade! Nem conheço esse cara! Só queria te beijar e acabei no meio de uma novela mexicana.

— Você o quê?!

Clara deu um tapa no rosto do mentiroso, que logo se virou para revidar. Entretanto Danilo foi mais rápido, segurando a mão erguida de Leo e a torcendo para trás, fazendo o rapaz beijar o balcão do quiosque.

— Tá, cara, solta o meu braço! — gritou. — Vai quebrar meu braço! Naquele momento, o segurança reconheceu Danilo e o arrancou de cima

de Leo.

— Dan, pega a tua mulher e vai dar uma volta — o segurança disse ao amigo após colocar Leo para fora da Cheirinho.

— Eu não sou...

— Vem! Vamos sair daqui! — Danilo interrompeu, a puxando pela mão até uma das saídas.

— Me solta! — ela tentava se soltar, mas era inútil, já que ele tinha o dobro do seu tamanho e estava irredutível em levá-la para longe do local.

Somente quando já estavam no meio do caminho para o estacionamento, Clara conseguiu soltar a mão, estacando e cruzando os braços enquanto o encarava, furiosa.

— Quem você pensa que é? — indagou.

— Eu sou o cara! — Danilo disse, convencido.

— Você não é nada! — Clara debochou e sorriu de verdade pela primeira

vez.

Após anos aceitando as atitudes exacerbadas do seu ex-namorado, não

iria permitir que mais ninguém tivesse direitos sobre ela daquela maneira. Uma revolta e uma sensação de liberdade a dominou assim que terminou a frase com o queixo erguido, cheia de si. Clara sempre fora uma mulher independente e com personalidade forte antes de conhecer Manuel. Naquele momento, tentava imaginar como não percebera antes o quanto havia se tornado submissa.

— Você quer ver? Diz que duvida! — Danilo desafiou, se aproximando com um olhar penetrante e um sorriso malandro.

— Não se aproxime! Não dê mais um passo ou vou gritar! — Clara ameaçou em tom firme, com as mãos na cintura.

— Diz que duvida! — Danilo repetiu a provocação.

— Duvido! Você não tem coragem de me machucar, está pensando o que, seu…? AHHH! — Clara gritou quando se deu conta do que ia acontecer em seguida.

Danilo acabou com o espaço que ainda havia entre os dois e a pegou no colo jogando-a por cima de seu ombro, enquanto ela batia e socava suas costas, gritando. As pessoas olhavam e riam achando que se tratava de uma brincadeira do casal, enquanto Danilo permanecia a desafiando:

— Ótimo! Está certa, mas você que pediu — desafiou.

Alguns passos e já estavam no estacionamento mais distante e escuro da praia. Apesar de se sentir segura ao lado do rapaz, Danilo era um desconhecido, e esse fato causava um pouco de medo em Clara.

Ao colocar os pés da menina no chão, Danilo levou um tapa no rosto, seguido de outro no lado oposto, mas quando percebeu que o terceiro já estava a caminho, segurou firme o pulso de Clara, que esperneava de raiva.

— O que pensa que está fazendo? Como ousa me tratar desse jeito, como se você fosse um homem das cavernas? Só faltou me arrastar pelos cabelos, seu louco! — Clara gritava com todas as forças.

— Pode gritar à vontade, que ninguém vai te ouvir — debochou, convencido, diante da vitória de ter conseguido ficar a sós com a mulher que lhe causava arrepios do calcanhar à nuca.

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