Capítulo cinco

Continuamos nossa vida aqui em Forquilha, Cristian não perdia a chance de jogar seu charme com aqueles lindos e encantadores olhos verdes para mim, porém a Jack não o deixava se aproximar de mim, achava que ele era propriedade dela, e já que ele não gostava de confusão, dava tempo ao tempo. Ela sempre dizia que eu não era mulher para ele, uma pobre nerd que nem sabia se arrumar.

De certa forma, ela tinha razão, o que um "gato", rico e sedutor, iria querer com uma nerd que, a única coisa que fazia bem era estudar? Mas por mais que eu só pensava em estudar, quando Cristian passava do meu lado, meus pentelhos se arrepiavam e, um milhão de borboletas alvoroçavam meu estômago, então eu sempre fugia dele.

Dulce ligava todo final de semana, eu e Carmen estávamos sempre juntas, ela dormia em casa, e eu dormia na dela, mas, a voz de Dulce não era das melhores. Eu e Carmen tagarelava sem parar contando as novidades e nossa amiga, sempre com aquele sorriso amarelo, e sempre com pressa.

Em uma das ligações, enquanto conversávamos, aconteceu algo que nos deixou preocupadas. Tínhamos terminado as tarefas e nos deitamos debruço, com o notebook, que eu ganhei dos professores, aberto, observávamos algumas fotos do facebook de Jack, e lá estava, Cristian totalmente absorto a realidade da foto, começamos a rir feito duas hienas, até virmos a foto de Dulce piscar na tela, chamada do Skype.

—Obaaaaaa, vamos ver nossa amiga. —Gritamos em uníssono. Mas quando abrimos a tela, todo nosso sorriso se transformou em olhos arregalados, Dulce estava com olhos inchados e vermelhos, e muitas lágrimas corriam sem que ela se esforçasse.

—Amiga, o que houve, porque essa cara? —Perguntei logo, muito preocupada.

—Meninas, preciso ser rápida, tenho que contar uma coisa para vocês, mas tem que prometer que não vão contar para ninguém, nem para suas mães, por favor. —Dulce falava com a voz embargada, as vezes parava quando sua voz não saia, entorpecida pelo choro.

Eu sabia que algo estava errado, mas nunca tive a curiosidade de perguntar. Nossa amiga sempre estava presente em nossas vidas, claro que imaginei que fosse coisa de adolescente.

—Conta de uma vez Dulce, está me assustando. —Carmen não tinha muita paciência.

—Meninas tenho que desligar. —Dulce falou com os olhos arregalados, olhando em direção à sua porta.

Ouvimos batidas na porta e, em seguida a ligação caiu.

Ficamos perplexas, nos entreolhamos com um enorme ponto de interrogação estampado na testa.

— Suzan, temos que ajudar nossa amiga, seja lá o que for que estiver acontecendo, não podemos deixa—la assim. —Carmen dizia preocupada.

—Claro que não Carmen, você viu que ela nos pediu segredo, não podemos traí—la.

—Mas Suzan, e se for algo que estiver longe do alcance dela, temos que ajudar, ou pedir orientação da polícia ou de um advogado, sei lá. —Carmen queria tentar resolver de qualquer forma e ajudar nossa amiga.

—Bom, vamos esperar ela ligar amanhã, quem sabe ela conta alguma coisa que nos dá uma pista do que fazer. —Faço minha amiga desistir dessa loucura.

Por mais que eu tivesse preocupada e curiosa, eu não queria sair falando, isso seria traição a nossa amiga.

—Está bem, mas vamos nos preparar para caso ela precisar, iremos logo para lá.

Essa noite não pregamos os olhos, ficamos com o abajur aceso e uma olhando para a outra, questionando, o que estava acontecendo com Dulce, o que poderíamos fazer para ajudar.

No outro dia, ficamos quietas na escola, quando alguém perguntava o que havia acontecido, somente nos olhávamos. E a patricinha não podia perder a oportunidade de perturbar.

—E aí, as nerds agora estão chateadas? —Só a voz da garota já me irritava. —O que houve, tirou um zero, ou a mamãe brigou porque não lavou as roupinhas das bonecas?

Nós nunca fomos de responder, eu era uma nerd tímida e não gostava de confusão, Carmen as vezes perdia a paciência e dava umas respostas ótimas para Jack, mas hoje, especialmente hoje, não estávamos bem, eu levantei, arrumei meus óculos quadrado, de armações largas e pretas no nariz, e peitei a patricinha.

—Olha aqui Jaqueline, ninguém tem culpa se é uma pessoa frustrada e infeliz, ninguém tem culpa se usa seu dinheiro para ter pessoas a tua volta, já que ninguém suportaria ser sua amiga, você além de invejar nossa capacidade intelectual, inveja a nossa amizade, mas quer saber, eu desejo que você mude seu pensamento, e que em algum dia da sua vida, se torne uma PESSOA SUPORTÁVEL. —Terminei de falar com um belo grito, e o dedo apontado na cara dela.

Jack arregalou os olhos, olhou em volta, suas bochechas coraram, ela saiu correndo, a única coisa que ela não suportava era ser peitada, ela queria que todos tivessem medo dela. Olhei para as pessoas a nossa volta e todos ficaram boquiabertos, eu queria me enfiar no chão de tanta vergonha, nunca tinha falado mais alto a não ser com minhas amigas. Palmas pausadas, e calmas, iniciaram de um lado da sala, quando olhei, era Cristian, de pé, aplaudindo minha atitude.

Naquele momento eu não me importava, não queria aplausos, queria apenas desabafar, estava preocupada com minha amiga. Saí depressa da sala, a professora já tinha ido a algum tempo, fui direto até a sala dos professores, contei o que houve na classe para ela, caso Jack quisesse se fazer de vítima, como ela sempre fazia, a professora já estaria sabendo, a diretora estava na sala e ouviu tudo.

As duas somente me aconselharam, disseram que Jack realmente era uma garota difícil, mas que, qualquer coisa que acontecesse, era para chamá—las antes de tomar uma atitude, já que os pais da garota eram poderosos na cidade e poderiam tentar me prejudicar.

Concordei e fui para casa, e para piorar, chego em casa e mamãe está tendo outro surto de tristeza, encolhida no quarto, sem querer ver ninguém, papai teve que fechar o salão para preparar o almoço e cuidar da mamãe, ela nem quis comer.

Todo esse tempo eu pedi para o papai levar a mãe em outro médico, na capital, ou em outro estado, porque que ela tem é mais sério do que só tristeza, já se passaram anos e mamãe não melhorara em nada, mas ele só dizia que teríamos que ter paciência com ela, essas crises sempre passam.

Eu contava os minutos para aquele dia acabar logo, queria acordar e pensar que tudo foi só um sonho, e que no outro dia tudo estaria bem.

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