Procura-se uma noiva
Procura-se uma noiva
Por: Leticia Fraga
Capítulo 1

"As pessoas dizem que você não vive sem amor. Eu acho oxigênio mais importante."

— Dr. House

Leon Sangred

Era para ser apenas mais um dia comum. Eu estava em um dos vinhedos da empresa, analisando as uvas, quando o celular vibrou com uma mensagem do meu pai:

> Mensagem

"León, precisamos conversar. Hoje às 19h, aqui em casa. Não aceito desculpas."

Revirei os olhos. Já até sabia o assunto. Suspirei fundo e voltei ao trabalho. O sol já começava a cair quando retornei ao prédio da Love Wines. Desde que me formei, meu pai me nomeou CEO da filial de Nova York — e mesmo que às vezes ele não diga, sei que sente orgulho do que tenho feito. Sob minha gestão, a empresa cresceu, os lucros aumentaram, e a nossa marca se consolidou ainda mais no mercado.

Mas, ultimamente, meu pai vem insistindo numa ideia absurda: que já passou da hora de eu me apaixonar. Como se existisse um prazo de validade pra isso. O problema é que, sendo bilionário, fica difícil confiar nas intenções das pessoas. Todos se aproximam com algum interesse. Por isso, nunca levei nada adiante. Meus relacionamentos são casuais, sem promessas, sem rótulos. Prefiro assim: menos chance de me machucar.

Mas a imprensa não ajuda. Estão sempre pintando minha imagem como a de um mulherengo insensível e sem caráter. Eu só queria poder viver minha vida em paz, sem ter que me encaixar em expectativas alheias. Sei que sou privilegiado, mas essa vida vem com um preço alto — e estou cansado de pagar com a minha liberdade.

Enquanto revisava documentos no escritório, recebi uma mensagem do Daniel:

> Mensagem — Daniel:

“Mano, você viu o que estão falando de você nos sites de fofoca?”

> Eu:

“Não. Qual a nova mentira?”

> Daniel:

“Tão dizendo que você é agressivo. Uma garota declarou que saiu com você uma vez e que você a agrediu. Os sites estão em festa com isso. Não falam de outra coisa.”

> Eu:

“Não acredito... eu nunca encostei a mão em ninguém. Odeio esse tipo de gente.”

> Daniel:

“Eu sei, irmão. Mas segura as pontas. E não esquece: amanhã você prometeu vir ao hospital.”

> Eu:

“Vou sim. Só preciso resolver essa bomba antes.”

Suspirei, exausto. A mídia não cansa de me afundar. E agora, com essa nova acusação, já imagino o que meu pai vai querer discutir hoje à noite. Mas, antes de embarcar no jatinho, recebi uma nova mensagem do Daniel — e essa me fez congelar.

> Mensagem — Daniel:

“León, o Miguel piorou. Ele tá te chamando. Consegue vir pra cá o mais rápido possível?”

Meu coração disparou. Miguel. Não, por favor, não ele. Cancelei a viagem na hora. Mandei uma mensagem rápida para meu pai, desliguei o celular e fui direto para o hospital. Que ele me mate se quiser. Mas nada nesse mundo me importa mais do que aquele menino.

Cheguei feito um furacão.

Assim que entrei na ala oncológica, senti o cheiro estéril do hospital invadir minhas narinas — uma mistura de álcool, medicação e medo. Os corredores brancos pareciam infinitos e gelados. O quarto do Miguel estava vazio. Meu coração gelou.

— Cadê ele? — perguntei, desesperado, aos funcionários.

Ninguém sabia me dizer ao certo. A atendente da recepção me olhou com desconfiança.

— Senhor, o senhor precisa se acalmar ou vamos ser obrigados a retirá-lo.

Mas como eu ia me acalmar se o menino que eu mais amava nesse mundo podia estar morrendo agora mesmo?

Fui forçado a sentar. As pernas não sustentavam mais o peso do desespero. Me joguei no banco mais próximo, com o peito arfando. E foi então que reparei nela.

Ela chorava como se o mundo tivesse acabado. O rosto escondido entre as mãos, os ombros sacudindo em soluços desgovernados. O choro dela não era um simples choro — era a dor gritando, crua, aberta.

Por um instante, minha própria angústia silenciou diante da dela.

Algo naquele sofrimento me puxou, me feriu de um jeito estranho. Talvez fosse a forma como ela tremia... ou a solidão estampada no seu corpo encolhido. Peguei um lenço no bolso do casaco e, sem pensar muito, estendi para ela.

Ela levantou o rosto devagar. E por um segundo o tempo parou.

Os olhos estavam vermelhos, inchados, mas lindos. De um castanho mel que parecia ter luz própria. Ela aceitou o lenço com mãos trêmulas e forçou um pequeno sorriso, o tipo de sorriso que sangra mais do que alivia.

— Muito obrigada... — ela murmurou, com a voz rouca de tanto chorar.

Eu apenas assenti com a cabeça. Senti vontade de dizer algo — qualquer coisa — mas minha garganta estava fechada.

Minutos depois, Daniel apareceu.

— Dan! Por favor... fala comigo. Como ele tá? Como tá o Miguel?

— Desculpa, León... eu tive uma cirurgia de emergência. Era o pai dessa moça... senhor Nicolau Ramos.

A moça ao meu lado arregalou os olhos, como se só agora estivesse ouvindo a conversa.

— Eu sou a filha dele! Por favor, doutor... como ele tá?

Daniel hesitou, depois abaixou os olhos.

— Sinto muito... Ele não resistiu.

Aquelas palavras vieram como uma sentença. E eu vi.

Vi os olhos dela perderem a luz. Os lábios se entreabrirem sem ar. O corpo fraquejar. E, num reflexo, eu a segurei antes que caísse no chão.

Ela se desfez nos meus braços.

A dor dela era um vendaval. E eu, mesmo sendo um estranho, fui o abrigo que restou. Ela chorava contra meu peito, soluçando como se quisesse se desfazer ali, e eu... eu simplesmente a abracei com força. Um abraço forte, real, que dizia: "Você não tá sozinha agora."

Senti suas mãos apertarem meu casaco. Seu rosto contra o meu ombro. Seu perfume — suave, com um fundo adocicado de baunilha e alguma flor que eu não soube identificar — se misturava ao cheiro estéril do hospital, criando uma bolha. Era como se o mundo lá fora tivesse sumido.

E eu... eu não queria soltar.

O tempo pareceu escorrer devagar. As pessoas passavam por nós, algumas com pressa, outras em silêncio, mas nenhum som chegava até mim. Só o som do choro dela. Só o peso da ausência que agora morava naquele corpo frágil.

Até que o médico apareceu.

— Senhor León? — ele me chamou. Eu levantei a cabeça, mas não soltei a moça. Segurei sua mão, firme, sem saber o porquê. Só sabia que eu precisava daquele contato.

— O Miguel vai voltar para o quarto. Teve uma parada cardíaca. Por pouco... muito pouco. Mas conseguimos estabilizá-lo. Porém, ele precisa urgentemente da transfusão. Não sabemos quanto tempo mais o corpo dele vai aguentar.

— Eu posso vê-lo?

— Ainda não. Avisaremos assim que for possível.

— Obrigado. De verdade.

O alívio me fez vacilar. Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu, que sempre segurei tudo, deixei uma única gota escapar.

Voltei os olhos para a moça. Ainda estava ali, os olhos fixos no nada, a mão entrelaçada à minha.

E então, num impulso, puxei-a novamente para perto e a abracei. Não por pena. Não por educação. Mas porque, de alguma forma inexplicável, ela era a única pessoa que entendia o que eu estava sentindo.

E eu também entendia a dor dela.

Ali, naquela sala fria, em meio à morte, à espera, ao medo... dois estranhos se encontraram. Não pelo acaso. Mas porque, às vezes, a vida junta duas almas partidas para que uma ajude a manter a outra de pé.

---

LUÍZA

Essa semana foi, sem dúvidas, a pior da minha vida.

Primeiro, o senhorio da quitinete onde moro com minha amiga Gabriela nos avisou que vai precisar do imóvel. Temos quinze dias para sair. Tentei manter a calma, mas as lágrimas escaparam sem permissão.

— Amiga, vamos encontrar outro lugar. Vai dar tudo certo, confia em mim — Gabriela disse, me abraçando como sempre fez desde a infância.

Ela é minha melhor amiga desde os oito anos, desde que nos mudamos após a morte da minha mãe. Crescemos uma na casa da outra. Compartilhamos tardes na árvore do quintal, noites de pijama e segredos que só irmãs trocam.

Como se não bastasse, meu emprego também foi por água abaixo. Lembro com clareza das palavras do senhor Smith, dono da lanchonete:

— Luíza... infelizmente o movimento caiu muito. Preciso cortar gastos, e... você está na lista. Me desculpe.

Segurei as lágrimas enquanto ele falava, mas assim que saí dali, desabei. Me sentei no meio-fio e chorei feito criança.

Sem casa. Sem emprego. Sem rumo.

Saí todos os dias para procurar trabalho. Quatro dias seguidos batendo em portas, distribuindo currículos... e nada. Gabriela conseguiu um lugar para ficar com uma amiga dela. Fiquei feliz por ela, mas agora eu estava sozinha.

Completamente sozinha.

Na tarde seguinte, recebi uma ligação que me tirou o chão: meu pai foi levado ao hospital às pressas.

Corri para lá. Chegando, fui informada que ele havia sido levado direto para a cirurgia. O coração apertou. Me sentei na sala de espera, e chorei. Chorei tudo: o medo, a solidão, a perda iminente.

— Deus... não me tira o meu pai também. Ele é tudo que me resta.

Não sei por quanto tempo fiquei ali, até que um rapaz ao meu lado me estendeu um lenço. Sorri fraco, agradecida. Minutos depois, o médico veio... e bastou ouvir o "sinto muito" para que tudo escurecesse.

Meus joelhos cederam. Meu peito parecia se partir em mil pedaços. Senti braços me segurando, e deixei. Me agarrei a aquele estranho como se ele fosse meu último porto.

— Meu pai... ele era tudo o que eu tinha... — repeti várias vezes, sem saber onde encontrar forças.

Não lembro por quanto tempo chorei nos braços dele. Só sei que, quando o médico voltou e falou sobre o menino dele, ele segurou minha mão como se dissesse: “Fica aqui comigo.” E eu fiquei.

Dois estranhos, duas dores. Um abraço.

E o silêncio... que dizia tudo.

©©©©©©©©©©

Continua...

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