Capítulo IIl

Chegamos ao aeroporto 1 hora depois e ainda tínhamos pouco mais de 40 minutos livres até o horário de embarque. Aproveitamos a folga para já fazer o check -in e comer em seguida. Resolvemos comer nessas lanchonetes que tem no aeroporto mesmo, depois aproveitei para passar numa livraria que tinha em frente e pegar um livro para ler na viagem. Conhecendo a amiga que eu tinha, sabia que ficaria falando sozinho depois dos 10 primeiros minutos de decolagem do voo, ela sempre desmaiava em qualquer tipo de transporte. Maggie parece urso quando hiberna, deitou e dormiu. 

Faltando 15 minutos para o nosso horário, fomos para a plataforma de embarque.

— Me liga assim que você chegar lá Maria Eduarda, por favor. — Meu pai dizia enquanto me abraçava, meio sem jeito, mas com muito amor.

— Está bem pai, eu ligo. Prometo! — Peguei minha mala que estava no chão, subindo o puxador dela. — Pai, o senhor vai ficar bem na minha ausência? Se não for ficar, eu adio minha viagem e vou daqui a uns meses somente, mas...

— Pode parar com isso! Eu vou ficar bem.

Te prometo! — Ele me cortou antes que eu pudesse terminar a frase. — Não quero que você pare sua vida por minha causa. Você merece recomeçar e era isso que sua mãe iria querer, se fosse ao contrário. Então recomece minha filha, mas saiba que você sempre terá para aonde voltar. Mesmo esse velho sendo rabugento e calado. Saiba que ele te ama, do jeito dele, mas ama... — Abracei meu pai novamente e naquele momento soube que estava fazendo a escolha certa. 

Me despedi dele, ambos com os olhos marejados e um nó preso na garganta.

— Tudo bem, eu vou. Mas prometo que te visito pelo menos 1 vez ao mês. — Ele concordou com um sorriso calmo nos lábios.

Maggie me esperava perto do balcão de embarque. Mantendo uma certa distância para respeitar nosso momento, ela conhecia meu pai muito bem e sabia que ele não era de muito afeto, principalmente em público.

Estava indo em direção a Maggie quando escuto meu pai me chamando.

— Duda, espera aí! — Ele caminhava em minha direção. — Quero te entregar uma coisa que sua mãe deixou para você. — Tirou um envelope do bolso e me entregou.

Na frente estava escrito meu nome com a caligrafia inconfundível da minha mãe.

— E quero te entregar isso também... —Ele tirou um cartão da carteira com o meu nome. — É a sua poupança e sua mãe me pediu para te entregar assim que ela falecesse, a senha é a sua data de aniversário. — Meu pai viu que fiquei bem surpresa com aquilo. — Nós começamos a juntar desde quando você nasceu. Todo mês a gente dava um jeito de colocar um pouquinho para conseguir pagar sua faculdade se fosse necessário. Mas nem com isso a gente precisou gastar, você se esforçou tanto e conseguiu tua tão sonhada bolsa de estudo. Mesmo assim continuamos a juntar. Só parei a 6 meses atrás, que foi no momento que sua mãe ficou mais debilitada, devido a doença e com isso não consegui mais guardar por conta dos gastos com o tratamento... — Ele me entregou o cartão e me deu um último abraço. — Agora vai antes que você se atrase! Não esquece que eu te amo. — Ouvir meu pai me dizendo te amo pela segunda vez era um recorde, mas isso me deixou meio sem chão.

Em 22 anos ele nunca foi tão sincero com os sentimentos dessa forma.

— Eu também te amo pai!

Meus olhos embaçaram devido as lagrimas e o nó da garganta voltou. Respirei fundo para não desmoronar ali mesmo.

Peguei minha mala e fui de encontro a Maggie que já me esperava na porta de embarque. Antes de entrar dei uma última olhada para trás, para o meu velho pai e vê-lo ali parado, me observando e esperando sair de sua visão, me fez perceber o quanto eu o amava. Ele acenou com carinho e eu acenei de volta entrando pelo longo corredor.

Embarcamos no avião e Maggie fez a gentileza de me deixar sentar na janela, até porque nunca havia viajado de avião antes e ela sabia que ficaria deslumbrada com tudo aquilo.

Ela colocou os fones de ouvido, o apoio do pescoço e em menos de 10 minutos depois capotou, me deixando com o meu silêncio e uma série de suposições do que aconteceria comigo agora, na minha nova vida.

A viagem era rápida, mas não consegui aquietar um só segundo, sentia o coração acelerado, a respiração descompassada e limpava as mãos a todo momento na calça.

Algo me dizia, no fundo da minha mente que tudo isso seria o meu recomeço e que conseguiria realizar minhas conquistas, ao menos na parte financeira. 

A parte amorosa deixaria em segundo plano, por enquanto, não tinha cabeça para pensar nisso.

Ao menos, eu acho que não.

Já estava quase na hora da minha entrevista e eu estava uma pilha de nervos.

—Pelo amor de Deus! Sossega esse rabo no sofá daqui a pouco você faz um buraco no chão de tanto que está andando de um lado para o outro.

Não conseguia ficar quieta. A ansiedade estava a mil, estava prestes a começar a trabalhar numa das maiores empresas de publicidade da cidade e não estava acreditando nisso ainda.

— Se você continuar andando de um lado para o outro, juro que vou colar esse seu salto no tapete de casa. — Maggie realmente estava ficando irritada com aquilo, resolvi me sentar antes que me jogasse da janela e isso não seria muito agradável, já que estávamos no décimo quinto andar e a queda seria no mínimo bem feia. 

— Pronto, satisfeita? — Sentei no sofá ao seu lado, que estava terminando de se maquiar e a fiquei observando.

— Se continuar me encarando desse jeito vou te trancar no quarto e só te tirar de lá na hora de sair! Isso, se eu te tirar de lá! — Ela estava mesmo brava.

Comecei a mexer no celular esperando dar a hora de sairmos. O prédio da empresa ficava a 20 minutos de casa, mas como iríamos de carro não demoraria nem 10 minutos para chegar lá. Enquanto a Maggie terminava de se arrumar verifiquei se estava levando tudo que precisava para a entrevista. Chequei minha roupa mais uma vez, estava com roupas adequadas para uma entrevista e um salto alto preto, com pouca maquiagem e o cabelo preso em um rabo de cavalo que chegava até o meio das costas.

— Pronto terminei, vou só chamar o carro para gente ir. — Maggie se levantou e foi até o quarto pegar as coisas dela. Ela trabalhava no setor de fotografia publicitária, que ficava no mesmo andar em que eu trabalharia — caso passasse na entrevista, — seria praticamente o mesmo setor que o meu, já que teríamos o mesmo chefe. O temido Caleb Jones que era filho do dono da empresa, o senhor David. Caleb cuidava de todo o setor de fotografia e planejamento de campanha, minha entrevista seria para a vaga de assistente de planejamento de campanha. Trabalharia quase que diretamente com o senhor Caleb, eu e a Maggie. Minha entrevista seria com ele e a Maggie já tinha me antecipado sobre a empresa e o nosso chefe.

— Não liga para o mau-humor dele, é assim com todo mundo e já te aviso que ele é bem arrogante. Se você acha seu pai reservado, é porque não conhece o Caleb ainda e ele não é uma pessoa fácil de se lidar. — enquanto caminhávamos para o carro Maggie foi me dando alguns toques em relação à empresa e a entrevista. — Só responda o que ele te perguntar, ele não gosta de conversa aleatória, diz ser perda do precioso tempo dele e tente manter a calma.

Fui memorizando tudo que a Maggie ia me explicando e ela foi me informando sobre tudo enquanto seguíamos até a empresa.

— Chegamos. — ela disse enquanto pagava o motorista. Pegamos nossas coisas e descemos do carro.

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